Ney Latorraca foi um dos primeiros amigos da família a chegar ao velório de Tônia Carrero, neste domingo (04), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no Centro. Atriz, de 95 anos, morreu na noite de sábado após ser internada na clínica São Vicente, na Gávea, zona sul da cidade, e sofrer uma parada cardíaca durante um procedimento cirúrgico para tratar uma úlcera. Por ser um procedimento simples, a morte de Tônia pegou a todos de surpresa, apesar de a atriz lidar desde 2008 com as consequências de uma hidrocefalia oculta, que a deixou sem andar e sem falar. Na ocasião, o médico da atriz, o neurocirurgião José Ricardo Pinto, afirmou que o caso de Tônia era irreversível por sua idade já avançada. Cecil Thiré, filho único de Tônia, chegou ao velório amparado pela família. O também ator, de 74 anos, estava em uma cadeira de rodas e bastante debilitado pelos efeitos do Mal de Parkinson, mesma doença enfrentada por dona Alda, mãe de Xuxa Meneghel.
Em conversa com o "G1", logo que chegou ao velório, Ney Latorraca falou sobre a admiração que sentia por Tônia Carrero. "Ela não era só a atriz bonita, talentosa e amada. Qualquer movimento político que você procure, sempre tinha a Tônia à frente em todas as passeatas. Contra a ditadura, contra a censura. Por coincidência, esses dias achei uma foto que tem todas: Tônia Carrero, Silvia Becker, Odete Lara, Eva Vilma. Elas estavam aqui na frente para a 'Passeata dos 100 mil'. Ela não é apenas uma grande atriz que a gente perde, a gente perde esse ser humano revolucionário e amado", frisou.
Em 2012 Ney Latorraca sofreu um baque. Após uma cirurgia simples para a retirada da vesícula, o ator sofreu uma inflamação nas vias biliares que se espalhou pelo corpo e o deixou 50 dias internado na UTI de um hospital. "Eu fiquei muito mal, né? Eu vi como é o outro lado. Eu falei: 'aqui não vai dar para voltar'. Parece que você está em outra sala. De repente no processo eu disse 'eu quero voltar. Não me leva embora ainda, me deixa mais um pouco'", contou em entrevista ao "Fantástico". E mesmo depois de conseguir receber alta do hospital, Ney ainda precisou percorrer um longo caminho até recuperar sua saúde e vitalidade. "Eu estava muito magro, perdi mais de 20 kg, não falava, não mexia nada e, de repente, eu começo a voltar, né? Entra a fisioterapeuta e fala: 'você vai voltar a andar'. Eu digo: 'a senhora está louca, né?' E eu volto. De repente estou andando no corredor com fralda, começo a andar, a usar bengala...", detalhou. E garantiu que tirou um grande aprendizado de tudo o que passou: "Talvez essa coisa tivesse acontecido comigo porque eu não estivesse tratando a vida como deveria, então ela deu uma 'opa!' Eu deixei de ser o ator que eu era e fiquei meio 'tá bom, sou contratado, vou, faço uma coisa assim, tudo'. Então eu tinha que voltar para o meu lugar, sabe, voltar para ser protagonista da vida e dentro do meu trabalho também. Eu não posso ser coadjuvante".