Os cabelos de alguns personagens estão dando o que falar em "Amor à Vida". São tantas polêmicas envolvendo essa questão desde o início da trama, que Walcyr Carrasco chegou a publicar um comentário em seu perfil no Twitter: "(...) Essa novela tem problema de cabelo! Teve o cabelo da Marina (Ruy Barbosa), depois o do Ninho (Juliano Cazarré) agora o do menino (Kayky Gonzaga)!". Em conversa com o Purepeople, o autor explica a importância que o visual dos personagens tem dentro de uma novela e responde ao recado mandado por Astrid Fontenelle no programa "Saia Justa".
Desde os primeiros capítulos, Ninho sofreu uma certa rejeição do público por causa de seus longos dreadlocks e personalidade aventureira, junto com um caráter elástico. O hippie perdeu os dreads duas vezes: quando foi preso e quando deixou Paulinha (Klara Castanho) cortá-los, para agradar a filha, que achava o cabelo dele esquisito. Porém, agora a menina vai mudar de ideia a adotar o visual diferente, inspirada no pai biológico. "Paulinha vai colocar dreads mas só momentaneamente, instigada por Ninho. Mas logo prefere mudar de cabelo novamente, como fazem muitas adolescentes", conta Walcyr.
Depois, quando foi revelado que Nicole tinha câncer e seria tratada com quimioterapia, o que poderia deixá-la careca, teve início uma verdadeira campanha nas redes sociais para que a atriz não tivesse que raspar a vasta cabeleira ruiva que ostenta desde criança. O assunto se transformou em um grande impasse, dividindo opiniões e causando polêmica. Na época, foi especulado que a jovem teria se recusado a encarar a transformação radical, mas oficialmente ela declarou que rasparia sim os cabelos, caso fosse necessário.
Porém, o autor acabou decidindo mudar o rumo da história, que tomou uma proporção tão grande que Marina chegou a comentar que gostaria que as pessoas se importassem mais com o drama de sua personagem do que com seu cabelo. Opinião que diverge da de Walcyr: "O cabelo, as roupas e a aparência em geral definem um personagem, como também, na vida real, provocam a primeira impressão que temos de uma pessoa. Em uma novela, um personagem pobre se veste diferente de um rico. Atrizes que nunca mudam o cabelo estão colocando sua personalidade na frente do personagem, e na minha opinião, o personagem é mais importante".
Já Sophia Abrahão, que entrou no folhetim para viver Natasha, a irmã bastarda de Nicole, precisou mudar a cor dos cabelos de castanho para ruivo e precisou passar por algumas sessões de tintura até encontrar o tom ideal. No Twitter, os fãs das duas atrizes chegaram a se confrontar virtualmente, quando os admiradores de Marina colocaram nos tópicos mais acessados a hashtag #ruivasotemumaMRB. Mas Sophia não demonstrou nenhum incômodo com as comparações e declarou que as duas sempre se acharam parecidas.
Mais recentemente, o público se manifestou também pela internet, contra a mudança de visual do pequeno Jayminho (Kayky Gonzaga), que deve perder o penteado black power, depois de ter sido adotado por Niko (Thiago Fragoso). Sobre o tema, o autor postou vários comentários em seu microblog, contestando a acusação de preconceito racial: "(...) A verdade é essa: só pedi para mudar o visual de Jayminho porque ele foi adotado por alguém de dinheiro. É o que aconteceria no caso. Todo menino, quando adotado, muda o visual. Ganha roupas novas, também. (...) Não é porque alguém é negro que é obrigado a usar black power. Isso é preconceito ao contrário! Eu acho o cabelo black lindo. Mas nenhum menino num abrigo usaria o cabelo assim. É irreal", e ainda lembrou que foi ele quem escreveu "Xica da Silva" a primeira novela com protagonista negra no Brasil".
O recado de Astrid
Depois de ter acesso a essa resposta do autor de "Amor à Vida" para as críticas que recebeu pela mudança no visual de Jayminho, a apresentadora Astrid Fontenelle manifestou sua opinião em um desabafo, no encerramento do programa "Saia Justa", na quarta-feira (23), comparando fotos do seu próprio filho - chamado por ela "fruto do coração" - com imagens do ator Kayky Gonzaga, e declarou: "Quero dizer para você, Walcyr Carrasco, que eu tenho dinheiro. Eu e muitas pessoas que conheço. Não é por terem dinheiro que pessoas que adotam crianças vão colocar roupa melhor ou cortar o cabelo, por ele não ser um sinal adequado de riqueza para uma classe social (...)".
A resposta de Walcyr
Procurado pelo Purepeople para se posicionar sobre o assunto, Walcyr explica com detalhes os motivos que o levaram a propor a alteração no visual do personagem:
"Eu acho que a Astrid está fora da realidade. Suponho que ela adotou um bebê e portanto, todo o seu processo de criação já envolveu roupas boas e cuidados em geral. Eu visitei vários orfanatos e convivi com histórias de adoção. Tenho inclusive um livro sobre o tema, "Irmão Negro", que escrevi a partir de um seminário de adoção inter racial de que participei. Quando uma criança já crescida é adotada, mesmo por uma família de classe média, a entrada nesse novo mundo é celebrada. Em geral, no dia da chegada se faz uma festa, com um bolo. Os asilos e orfanatos costumam mandar pouca roupa, deixando parte das roupas da criança para outras, porque há uma grande carência nessas instituições. Então sim, a pessoa ou casal que adota, compra roupas novas para a criança, tênis legais, brinquedos e leva sim, ao cabeleireiro, para um corte e ajuste no cabelo, não necessariamente uma mudança de penteado. Para a criança adotada, essa entrada num novo mundo onde é amada equivale a um conto de fadas. E não teria lógica nenhuma alguém adotar uma criança e manter as roupas velhas do abrigo, o sapato velho, não se preocupar com o seu visual. Isso não quer dizer que Jayminho mudará o cabelo afro, por exemplo. Mas que terá um toque do pai adotivo, Niko. Não são sinais de riqueza. São necessidades básicas que a criança tem e o orfanato ou asilo em geral não tem condições de oferecer. E coisas boas também, como brinquedos próprios! Ou a criança é adotada e não teria direito nem a ganhar um brinquedo, para "não ter sinais de riqueza", como diz a Astrid? Eu acho que a Astrid deveria verificar histórias de adoção de crianças mais crescidas antes de falar bobagem.
E tem mais: em vez de valorizar a minha criação de uma história de um branco adotando um garoto negro, para estimular novas adoções, a Astrid está se prendendo no visual. Sinceramente, eu acho que ela está tendo uma visão muito mesquinha. O que vale é estimular a adoção, acho que isso é o elemento mais positivo que ela não está conseguindo enxergar".
(Por Samyta Nunes)
