A morte de Rita Lee abalou o Brasil nesta terça-feira (09). Além de ser um ícone da música, com uma carreira repleta de hits e curiosidades marcantes, Rita tinha uma afinidade incrível com a moda: dona de personalidade única e espontânea, a cantora colecionou visuais e peças marcantes.
Na intimidade com a família ou nos palcos, ela não abria mão de óculos marcantes. Rita elaborava com primor suas roupas e as usava sempre transmitindo alguma intenção. Abaixo, o Purepeople destaca alguns momentos importantes da relação de Rita com a moda.
O cabelo ruivo de Rita Lee marcou época na carreira da cantora, mas ao longo de sua vida, a artista fez diferentes mudanças nos fios que evidenciaram diferentes fases. No começo da banda Os Mutantes (na qual ficou de 1966 a 1972), Rita Lee tingiu os fios de loiro e adotou um corte que virou outra marca registrada: a franjinha.
Dona de fios castanhos claros, ela tingia de modo caseiro o cabelo, usando chá de camomila, lascas de parafina, cascas de cebola e água oxigenada. "Levava o dia inteiro, ficava meio palha (o cabelo), mas valia a pena o look Françoise Hardy da Vila Mariana", contou em sua autobiografia.
A transição para o ruivo aconteceu por volta de 1974, com a saída da banda. A artista viajou para Londres em uma temporada criativa e quis reformular sua imagem por completo.
"Com minha cabeleira vermelha, a sensação era a de andar com um eterno sol na cabeça, me sentia cada vez mais caliente e agradecida por estar viva naquele planeta azulzinho dizendo ao mundo hello-goodbye", afirmou em seu livro. Ao longo dos anos, os tons de ruivo se alteram entre os alaranjados, acobreados, ora mais vibrantes, ora mais fechados.
Em 2015, mais uma mudança de visual: Rita assumiu os fios grisalhos. "Às vezes, passo em frente a um espelho e não me reconheço. Segundos depois, lembro que a ruiva era aquela que subia ao palco. A grisalha é esta, que agora vive tranquila comigo. Adorei ter sido ruiva, mas encheu o saco e, como fiel mutante, eu mudei e me desviciei do vermelho", contou em entrevista à revista "Quem".
No fim da década de 60, Rita Lee escolheu um vestido de noiva para se apresentar com Os Mutantes. Até mesmo a mãe da cantora, Dona Romilda, que costurava seus figurinos, ficou surpresa com a decisão.
Amigo de longa data de Rita, o apresentador Ronnie Von também ficou encantado. "Ver a Ritinha de noiva no palco era perfeito e incrível. Eu pensava: 'Ela é uma defensora da mesma tribo que eu'. A conheço desde os seus 16/17 anos e foi uma das meninas mais bonitas que vi na vida! E ela nunca usou a beleza como arma ou ferramenta para se dar bem na vida. Essa contramão, em termos de looks e moda considerados 'estranhos', era para mostrar o outro lado dela", opinou o artista à revista "Vírgula".
A temporada em Londres estreitou a afinidade de Rita com a moda: por lá, conheceu a boutique Biba, da estilista Barbara Hulanicki, que já havia vestido nomes como David Bowie e Mick Jagger. Considerada uma das lojas mais baladas do cenário londrino nos anos 1960 e 1970, o local foi visitado por Rita Lee.
A artista se encantou por uma bota prateada, experimentou e disse à vendedora que queria um número maior. Quando se viu sozinha com o calçado, saiu da loja com ele nos pés. Tal acessório se tornou um ícone da era Tutti Frutti da cantora.
Passados alguns anos, Rita admitiu para Barbara Hulanicki ter furtado as botas e garantiu que poderia devolver os calçados. Mas a situação foi encarada de modo divertido pela polonesa, a essa altura já com uma filial da marca em São Paulo: as duas riram do passado e Barbara se ofereceu assinar o figurino do show "Babilônia", de Rita Lee.
Autêntica e dona de si, Rita Lee sempre se sentiu confortável na própria pele e transparecia isso em seus figurinos. Uma prova disso é o macacão prateado de estrelas usado na década de 1970 e que virou até fantasia de Carnaval de famosas. Ele foi um presente de Sonia Braga para a cantora.
Em 1982, Rita dispensou roupa e surgiu abraçada ao marido e parceiro musical de décadas, Roberto de Carvalho, em mar de celofane, na capa de "Rita Lee & Roberto de Carvalho".
Em 1976, Rita Lee foi acusada de ter "um quilo de maconha" em casa e chegou a ficar presa por duas semanas. Nesse período, recebeu a visita de Elis Regina. "Quando o carcereiro falou: 'Ô, Ovelha Negra, tem uma cantora famosa rodando a baiana, dizendo que vai chamar a imprensa. Ela quer te ver', fiquei esperando, não sei, uma Nossa Senhora do Rock, e, de repente, vejo a Elis com o João Marcelo", recordou Rita em papo com Ronnie Von.
Em seu primeiro show após a prisão, a crítica veio em tom de ironia: com ingressos esgotados no ginásio do Palmeiras, ela surgiu vestida de presidiáriana com o número X21 no peito.
Como falar de Rita Lee sem mencionar os óculos coloridos e extravagantes? Com lentes de grau e de sol, os acessórios fizeram parte de seus looks por estilo e também por um motivo patológico. Além de fotofobia, Rita tinha hipermetropia e astigmatismo.
E a paixão pelos óculos era tamanha que, em sua autobiografia, contou que se sentia nua sem eles. "Uma vez me convidaram para sair pelada numa revista masculina e eu respondi que faria, sim, mas com três condições: vestida de freira, sem óculos e sem franja. Era essa minha ideia de nudez", disse. Confira looks e fotos icônicas de Rita Lee na galeria.