A novela "Sete Vidas" tem somente uma semana no ar, mas o telespectador mais atento já percebeu que a trama tem algo familiar, que se assemelha aos folhetins dos tempos áureos de Manoel Carlos, como "Por Amor" e "Laços de Família". Isso já havia acontecido na trama de estreia da autora Lícia Manzo, "A Vida da Gente", e, não à toa, ela é frequentemente vista como a sucessora de Maneco, que se aposentou das novelas com "Em Família" e se dedica agora somente a projetos menores, como minisséries.
Em entrevista ao Purepeople, a escritora rejeita o posto e explica o motivo. "Seria uma pretensão minha me colocar no posto de herdeira dele. Fico honrada, claro, com a comparação, mas acho que não é merecida. Ele é um decano, fez milhares de coisas. Eu estou começando", diz, humildemente. "O que eu acho e algumas pessoas dizem é que há uma aproximação porque as novelas dele falam preferencialmente sobre temas humanos, de família, que tendem a ser meu foco principal", avalia.
Trabalho sem pressão
No exterior, "A Vida da Gente" só perde em vendas para "Avenida Brasil" e "Da Cor do Pecado", tendo batido "Terra Nostra" e "O Clone". Segundo Lícia, ela não se sente pressionada em repetir o mesmo desempenho devido ao sucesso anterior. Um fato, no entanto, a autora pode comemorar: "Sete Vidas" estreou com os mesmos 20 pontos de audiência da novela anterior, "Boogie Oogie", na Grande São Paulo
"Procuro não pensar em pressão deste tipo porque já me sinto pressionada em cada dia de trabalho. Não sou aquela autora segura, que senta e diz 'agora vai'. Acho que não vai todo dia, estou sempre em crise", conta, rindo. "Então, sobre expectativa, faço que nem os alcoólatras anônimos: só por hoje. Minha expectativa é cumprir aquele capítulo, no dia. Se ficar olhando para fora, para o que esperam de mim, vou me perder".
Novela da vida real
"Sete Vidas" mostra a história de Miguel (Domingos Montagner), um doador de sêmen que acaba gerando sete filhos. Através do número de identificação dele no cadastro anônimo, os meio-irmãos acabam se encontrando. "Tive essa ideia ao assistir a um documentário que falava da reunião de 12 meio-irmãos nos Estados Unidos com a ajuda da internet. Era uma novela pronta, só ainda não havia sido escrita", diz Lícia.
"A família está se transformando rapidamente. Há 50 anos, o que era a família? O pai, a mãe, o filho e o cachorro. Hoje temos crianças de diferentes sobrenomes convivendo embaixo do mesmo teto, por exemplo. Onde falta tradição, o afeto vai legitimar esses laços", avalia. "E as pessoas ainda discutem isso de uma forma antiga. Tive que responder mil perguntas se a personagem da Regina (Duarte) é homossexual. Ela é uma educadora, avó maravilhosa. Que diabo é isso de falar que a pessoa é homossexual? Não defino meus amigos assim. É meu amigo querido e ponto", defende.
Mudança de horário
Inicialmente, "Sete Vidas" seria exibida no horário das onze. O projeto acabou deslocado para o horário a faixa das seis e, em seu lugar, entrou "Verdades Secretas", escrita por Walcyr Carrasco, que terá Deborah Secco como protagonista. Lícia conta que a mudança de horário não provocou grandes mudanças em seu texto, para se adequar à classificação livre. "Meu modo de narrar sempre se preocupa em não resvalar em algum tipo de vulgaridade, de apelação. Talvez eu tenha uma dicção até suave demais, mas é meu jeito", pontua.
(Por Anderson Dezan)