Com o primoroso texto de Lícia Manzo, direção inspirada de Jayme Monjardim e ótimo elenco, "Sete Vidas" já diz a que veio no primeiro capítulo, exibido nesta segunda-feira (09). Com delicadeza e intensidade nos diálogos, a trama aborda um tema que para muitos pode parecer ficção científica, mas que faz parte da realidade de muitas pessoas hoje em dia: irmãos biológicos que se encontram a partir do número de um doador de sêmen anônimo.
Olhos mais sensíveis percebem que nessa estreia começa uma história profunda, cheia de camadas, daquelas que deixa o telespectador arrepiado e comovido, tal como em "A Vida da Gente", primeiro trabalho da dobradinha Lícia e Monjardim. Desde a singeleza na abertura, com imagens poéticas e pueris tendo como pano de fundo uma doce versão de Tiago Iorc para a canção "What a wonderful world" de Louis Armstrong, até o discurso romântico da apaixonada Lígia (Débora Bloch), é difícil não se sensibilizar e/ou se indentificar em algum momento.
Crônica da vida real, sob uma perspectiva feminina
Mesmo com tanta suavidade apresentada nesse início, o capítulo em nenhum momento foi morno, ou desinteressante. Já na primeira cena o casal protagonista, Miguel (Domingos Montagner) e Lígia se ama, e a química entre os dois é tamanha que fica praticamente palpável. A narração do professor na aula de genética, que entrou na sequência, poderia ter caído no erro do didatismo, mas foi conduzida por questionamentos relevantes sobre atração física entre os seres, até chegar na descoberta de Julia (Isabelle Drummond), que é o ponto de partida para o encontro dos sete meio-irmãos e aponta para o drama incestuoso que a personagem vai viver.
O estilo que Lícia aponta nesta sua segunda novela pode ser considerado a tendência para onde caminham as telenovelas modernas de sucesso. É uma crônica da vida real, marca registrada de Manoel Carlos (há quem diga que autora é o novo Maneco), porém com uma perspectiva feminina e temáticas inovadoras levadas com equilíbrio e fluidez. A abordagem de "Sete Vidas" é completamente diferente da de "Geração Brasil", por exemplo, pois se aproxima mais do telespectador, que consegue se ver nos personagens, pessoas comuns com problemas tão ou mais graves que os de todo mundo.
Malu Galli e Gisele Fróes são destaques do elenco
Além dos protagonistas, os destaques do elenco neste capítulo ficam por conta de Malu Galli e Gisele Fróes, que são atrizes fantásticas e apresentaram personagens consistentes e muito bem estruturadas já nesse início. Os diálogos de Lígia e Irene (Malu Galli) tem ótimo ritmo e as irmãs já estabeleceram o grau de sua relação. Marta (Gisele Fróes), apesar de lembrar muito a treinadora linha dura Vitória, vivida pela atriz em "A Vida da Gente", se depara com uma situação crítica na primeira cena e mostra que há muito mais verdades a serem reveladas.
Como se não bastasse uma direção de fotografia de encher os olhos, o brilhantismo do texto, o elenco inspirado e o acerto no tom da direção, o primeiro capítulo de "Sete Vidas" preenche - com louvor - o pré-requisito básico de uma boa telenovela: envolver o telespectador em sua trama. Os momentos tensos e angustiantes do (des)encontro de Pedro (Jayme Matarazzo) e Julia na manifestação - uma perspectiva particularmente feliz da direção nessas sequências -, intercalados na edição com o reencontro seguido da partida de Miguel ao abandonar Lígia, foram de tirar o fôlego e deixar a gente sentado na ponta da cadeira, com olhos marejados. E que assim seja, até o fim.
Fique por dentro de quem é quem nessa história e saiba de todas as novidades da nova novela das seis no nosso resumo da semana!
(Por Samyta Nunes)