O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) absolveu Danilo Gentili da acusação de ter sido racista em um comentário feito no Twitter, em outubro de 2012. Na ocasião, o humorista ofereceu banana a um internauta negro, mas, para o juiz Marcelo Matias Pereira, da 10ª Vara Criminal, o apresentador do "The Noite" não teve propósito e intenção de ofender a vítima.
"Por mais que a brincadeira tenha sido infeliz e inoportuna, não me parece que tenha restado bem delineado o animus injuriandi, imprescindível à caracterização do crime de injúria qualificada. A piada, ao que tudo indica, se deu pelo fato da vítima ter se intitulado como 'King Kong' e não pela cor de pele", escreveu o juiz na decisão.
No dia 30 de setembro de 2012, Thiago Luís Ribeiro Menezes mandou mensagens no Twitter para Danilo porque estava ofendido com sua suposta postura racista na TV. "Que tal pagar pelos seus crimes perante à Justiça brasileira? Vamos ver agora o que um macaco, preto, neguinho, King Kong é capaz de fazer através da Justiça", escreveu ele para o humorista.
Danilo respondeu, então, no dia seguinte, com uma pergunta. "Sério, vamos esquecer isso... Quantas bananas você quer pra deixar essa história para lá?". Após esse post, Thiago registrou queixa na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.
'Limites para brincadeiras'
"Se a afirmação do réu tivesse sido feita em uma situação completamente descontextualizada, fora do ambiente em que costuma criar piadas com os 'posts' de seus seguidores, poderíamos pensar naquele intuito de ofender. Por isso, entendo que o acusado tem de ser absolvido", analisou o juiz.
Na decisão, o magistrado também alertou para a responsabilidade que um humorista deve ter em seu trabalho e deixou claro ainda que o processo poderá ser levado para o âmbito cível, uma vez que não há caracterização para seu prosseguimento na esfera criminal.
"O réu tem que entender que há limites para as brincadeiras, ainda mais quando direcionadas a um indivíduo específico, o que tristemente tem sido feito pelos comediantes para chamar atenção da mídia e gerar lucros com eventual 'sucesso' nos meios de comunicação", ressaltou o juiz.
"Aquele que aufere os bônus deve arcar com os ônus de sua conduta, mas a questão poderá, se assim entenderem como pertinente, ser levada ao juízo cível, conforme já assinalado, não restando, neste juízo, responsabilidade devidamente delineada", encerrou.
Polêmicas
A decisão acontece em meio a polêmicas de cunho racistas que vêm acontecendo ultimamente na mídia. Na semana passada, Faustão foi acusado de ser preconceituoso ao chamar o cabelo de uma dançarina negra do corpo de balé de Anitta de "vassoura de bruxa". O apresentador se defendeu das acusações no último "Domingão".
No mesmo dia, o jogador de futebol Daniel Alves enfrentou uma ofensa racista de um torcedor do Villareal, durante um jogo do Barcelona, válido pelo Campeonato Espanhol. Uma banana foi arremessada no campo para o atleta, mas ele se abaixou e comeu a fruta, minimizando o gesto.
(Por Anderson Dezan)