Após emitir no "SBT Brasil" uma polêmica opinião envolvendo o caso de um menor infrator preso no Rio de Janeiro por um grupo de justiceiros, Rachel Sheherazade foi proibida de dizer o que pensa na bancada do telejornal. E assim continua até hoje. Mas isso não deve durar muito tempo.
Em entrevista ao Purepeople, Rachel anuncia que suas opiniões voltarão em breve. "Fiquei conhecida no Brasil inteiro por causa delas", pontua a jornalista. "Estou na contagem regressiva", provoca ela, que renovou recentemente seu contrato com o SBT por mais quatro anos, em meio a sondagens da Band.
"A emissora brigou por 'meu passe' e tem planos para mim", conta Rachel. Entre os "planos" está uma atração solo que ela irá comandar em breve. "Um programa meu que possa reunir jornalismo e opinião", adianta a jornalista. Confira o bate-papo:
Purepeople: Você estava sendo sondada pela Band, mas optou por renovar contrato com o SBT. O que pesou na sua decisão de permanecer na emissora?
Rachel Sheherazade: O SBT brigou por meu 'passe'. Mostrou se importar comigo, mostrou que dá muito valor ao meu trabalho e que tem planos para mim a médio e longo prazo. Isso é apostar no profissional. Depois de tudo isso, não tinha como sair desta casa.
Purepeople: Mas recentemente suas opiniões foram cortadas do 'SBT Brasil'. O que achou disso?
RS: Quando o SBT decidiu colocar no ar um telejornal plural e opinativo, sofremos muitas críticas. Mas, aos poucos, vencemos o preconceito, crescemos em audiência e as opiniões caíram no gosto do telespectador. Hoje, os mesmos que criticavam as opiniões, criticam a ausência delas. Quanto a mim, óbvio que gosto de dar opiniões. Fiquei conhecida no Brasil inteiro por causa delas. Sou uma pessoa de posicionamentos firmes.
Purepeople: E não sente falta de dar sua opinião?
RS: É claro que sinto falta de me posicionar diante dos fatos que noticio. Mas a decisão de suspender temporariamente as opiniões é estratégica para a empresa. E não cabe a mim questionar as decisões da diretoria. Tenho que acatá-las como qualquer outro colaborador do SBT. Mas sei que as opiniões vão voltar. É tudo uma questão de dar tempo ao tempo. Estou na contagem regressiva!
Purepeople: Atitudes de pessoas que querem te calar e a patrulha do politicamente correto com humoristas seriam para você um novo tipo de censura?
RS: Sim, claro. Liberdade de expressão existe para permitir o direito ao contraditório. As pessoas, os humoristas, e os partidos têm que estar preparados para as opiniões divergentes. Isso é tolerância, respeito. Isso é normal em qualquer democracia saudável.
Purepeople: Considera o Brasil muito atrasado nesse sentido?
RS: Por aqui, se você fala o que não é 'conveniente', você é rotulado de radical e fascista. É perseguido, difamado, processado... Isso é uma forma covarde de intimidação ao livre pensar. E, não se enganem: toda censura começa assim.
Purepeople: A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ) defende a tese de que tragédias como o recente linchamento do Guarujá são incentivadas pela sua declaração de que são compreensíveis atos de 'justiça com as próprias mãos'. Como encara isso?
RS: Ou eu nasci há 10 mil anos atrás, ou a deputada deveria estudar a história da humanidade para não falar asneiras.
Purepeople: Muitos te vêem como durona, mas, recentemente, no 'The Noite', você mostrou um lado mais leve e divertido, chegando a cantar rock. A imagem que as pessoas têm de você é errada?
RS: Quem me conhece na intimidade sabe que sou uma pessoa leve, bem humorada e divertida. Sou assim quando a ocasião permite. Mas ancoro um telejornal duro, com notícias muito pesadas: crimes, corrupção, injustiças, desgoverno... Nessa hora, não dá para mostrar o lado B.
Purepeople: E você terá mesmo um novo programa no SBT? Como ele vai ser?
RS: A direção da emissora está estudando o formato de um programa meu que possa reunir jornalismo e opinião.
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(Por Anderson Dezan)