Rachel Sheherazade é uma mulher de opiniões fortes e não se arrepende delas. Em entrevista exclusiva ao Purepeople, a apresentadora do "SBT Brasil" diz que não retira uma vírgula do comentário que fez no telejornal sobre o menor infrator que foi preso nu a um poste por um grupo de homens no Rio de Janeiro.
O comentário gerou polêmica nas redes sociais, com opiniões divididas. O Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro emitiu nota de repúdio ao comentário de Rachel. Já o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) informou que vai formalizar no Ministério Público uma representação contra a âncora e a emissora por fazer apologia ao crime.
As ações são minimizadas por ela. "Encaro essa representação como uma espécie de intimidação ao meu trabalho", afirma. "Minha opinião é a minha voz. Meu direito de expressão", completa Rachel. Segundo ela, o SBT lhe dá total liberdade e os comentários vão continuar. Confira a entrevista.
Purepeople: Você se arrepende do comentário que fez?
Rachel Sheherazade: De maneira nenhuma. Minha opinião é a minha voz. Meu direito de expressão. Esse desabafo não é só meu. É também o desabafo de uma parcela grande da sociedade que se vê esquecida pelo Estado, vulnerável, a mercê da violência, vítima de bandidos de toda sorte, de toda idade. As pessoas de bem não querem mais viver acoadas, encarceradas, vitimadas... O povo está se levantando contra a violência.
Purepeople: Acha que seu comentário foi mal interpretado?
RS: Não acredito que a atitude dos justiceiros foi correta. Não defendi a violência, como muitos sites e jornais propagaram de forma irresponsável. Apenas disse ser compreensível essa atitude desesperada da população para se defender. Espero que o governo Dilma repense suas prioridades. E passe a investir sem demagogia em ações de segurança pública. Esse é um direito constitucional de todo brasileiro.
Purepeople: Mas você pretende maneirar nas suas opiniões após essa repercussão?
RS: Maneirar não faz meu estilo. Sou direta. Digo o que penso sem hipocrisia, sem "mimimi". Enquanto a emissora permitir, falarei tudo o que penso sem papas na língua, como sempre fiz!
Purepeople: E houve alguma orientação do SBT sobre o assunto?
RS: Não. O SBT me dá total liberdade de expressão. Não policia nada do que falo no meu espaço de opinião.
Purepeople: Como encarou a decisão do Psol de fazer uma representação contra você no Ministério Público?
RS: É vergonhosa e humilhante a forma como um partido inexpressivo se vale de um assunto sério para gerar repercussão e ganhar "notoriedade" às vésperas da eleição. Encaro essa representação como uma espécie de intimidação ao meu trabalho. Meus telespectadores sabem que faço críticas pesadas aos políticos e ao governo. Como não rezo na cartilha deles, acabo sendo alvo de retaliações, sejam explícitas ou veladas.
Purepeople: Mas você se sente intimidada com essas "retaliações"?
RS: Eu não me vendo, nem me dobro. Minha palavra, eles não podem cassar, pois vivemos numa democracia. E, neste país, todo cidadão tem direito, garantido pela Constituição, de expressar suas opiniões. Enquanto tiver o aval da minha emissora, o espaço para opinar livremente, é isso o que farei.
Purepeople: Você gosta de ser polêmica? É algo que cultiva?
RS: Será que sou mesmo polêmica? É polêmico ser contra a corrupção e a impunidade? É polêmico querer mais segurança? É polêmico lutar pela redução da maioridade penal? Ser contra o aborto? A liberação das drogas? Eu sou uma brasileira comum, comungando dos pensamentos e valores dos brasileiros comuns. O adjetivo "polêmica" é só um rótulo que me impuseram, porque eu falo, com sinceridade, de assuntos que a maioria prefere evitar.
Purepeople: Você é muito abordada nas ruas? Já foi hostilizada?
RS: Sou muito abordada por adultos e crianças, sempre de maneira muito afetuosa e respeitosa. Conversam comigo e me parabenizam pelas minhas opiniões, pela minha postura firme. Dizem que eu falo o que elas gostariam de falar. Também na redação recebo muitas cartas de apoio, sugestões de comentário, fotos, presentes... Fico sempre comovida com o carinho das pessoas.
(Por Anderson Dezan)