Na novela "Terra e Paixão", Petra (Debora Ozório), vítima de abuso sexual na infância, é um dos principais alvos do comportamento tóxico do próprio pai, Antônio (Tony Ramos). Na trama das nove de Walcyr Carrasco, em sua reta final - acaba em janeiro de 2024 -, quem também expunha a toxidade na personalidade era Agatha (Eliane Giardini).
E pensando nesse lado desses personagens da novela "Terra e Paixão", o Purepeople procurou a psiquiatra Lívia Castelo Branco, formada pela Universidade de Brasília. "Uma pessoa tóxica geralmente causa desconforto nos outros, seja fazendo comentários desagradáveis, tendo atitudes ruins ou sendo omisso em situações em que se espera cuidado", resume a profissional.
Segundo ela, pais como Antônio apresentam como traços da personalidade a diminuição do filho em vários aspectos (seja pela inteligência, beleza ou potenciais). "E desvalorizam suas conquistas, estão ausentes em momentos importantes e se priorizam em momentos em que o filho deveria estar em primeiro lugar", acrescenta.
Pode-se até chegar a casos que incluem agressões verbais, psicológicas, físicas e sexuais com frases como "ninguém gosta de você" e "não vai ser nada na vida". De acordo com Lívia, diante de outras pessoas pais tóxicos - acusação que cai sob Silvana, mãe de Larissa Manoela - agem de maneira diferente.
"Eles são tidos como carinhos e presentes, mas que dentro de casa exibem seu verdadeiro comportamento, o que gera medo e angústia nos filhos. Sob uso de álcool ou outras substâncias, ou em momentos de raiva intensa, é mais difícil esconder as atitudes, mas o disfarce de 'melhor pai' costuma ser bastante frequente", assegura.
E qual é a consequência que filhos de pais tóxicos podem desenvolver? "Cada indivíduo reage de uma maneira. As respostas mais comuns são medo, angústia, raiva, tristeza, baixa autoestima, dificuldade na relação interpessoal e de crescimento profissional", lista a psiquiatra.
Lívia Castelo Branco explica ainda que crianças dificilmente conseguem reconhecer o comportamento disfuncional dos pais: "Pois elas estão aprendendo o certo e errado, justo e injusto, os pais geralmente são os exemplos, e pai geralmente é considerado herói". Esse reconhecimento de atitudes tóxicas dos pais só costuma ocorrer quando os filhos chegam à adolescência, segundo a profissional, gerando novos conflitos.
"Uma pessoa assim em geral não aceita ser confrontada ou contrariada", resume a psiquiatra, recomendando ajuda especializada para quem apresenta personalidade tóxica como forma de reduzir tal comportamento. "Mas isso é raro, pois geralmente se considerem corretas e 'donas da verdade'. Chegando a se vitimizar e agredir quando confrontadas", aponta.
Ao mesmo tempo, os filhos de pais tóxicos são orientados a procurarem a psicoterapia. "As sessões têm como objetivo trabalhar os pensamentos disfuncionais a cerca das próprias capacidades, a relação de amor e ódio com a figura paterna, descolar-se das falas negativas e conseguir trilhar novos caminhos além daqueles que foram ditados pelos pais nocivos", prossegue.
A profissional acrescenta ainda que filhos vítimas de pais tóxicos apresentam reações diferentes dependendo da idade, com consequências mais graves se for criança. "Pois na adolescência os jovens conseguem ficar mais tempo afastados da convivência familiar, e na idade adulta é possível sair de casa", afirma.
"Quanto mais distantes os filhos ficam de pais tóxicos, menos o psicológico do indivíduo é afetado, apesar de sentimentos de culpa serem frequentes, pois os pais tendem a culpar os filhos por estarem ausentes", finaliza.