Quase um mês após sua morte, Silvio Santos (1930-2024) ganha sua cinebiografia, "Silvio", estrelada por Rodrigo Faro, e alvo de críticas por conta da caracterização do ator. Já tendo sua vida retratada em uma série de livros, peça musical, e série de TV, esta com profundos equívocos e atacada pela família e amigos do apresentador, chegou a vez das telonas.
"Silvio" tem, sim, bons e divertidos momentos ao longo de quase 2h de duração, porém pelo foco escolhido como fio-condutor, não espere ouvir "agora é hora, de alegria..." e nem cenas divertidas do apresentador com seus jurados memoráveis ou ao lado das inseparáveis colegas de trabalho. As cerca de 7h tensas nas quais o "homem-sorriso" foi feito refém em sua casa é que puxam o filme. Esse ritmo de tensão é um ponto alto, é bom frisar.
Isso acaba sendo um grande contraponto ao artista que uma vez disse na TV: "Aos domingos, eu sou uma criança. Uma criança que brinca e que se diverte como todas as outras crianças. Aos domingos, eu procuro entrar nas casas dos brasileiros como uma criança, com o meu lado infantil".
A partir daí, Silvio Santos revisita de forma rápida vários momentos de sua carreira enquanto conversa com o próprio sequestrador na mansão onde não é visto em momento algum qualquer funcionário, cabendo ao próprio fazer seu café da manhã e às filhas colocarem a mesa.
Claro que muita coisa fica de fora, como sua passagem pelas barcas Rio-Niterói, onde criou uma espécie de bingo, ou o carnaval de 2001, ocorrido meses antes da parte central do filme e onde usou um terno que acabou desaparecendo.
Até mesmo a fundação do SBT é deixada de lado, só a concessão da TVS (canal 11 do Rio) ganha espaço, bem como os sérios problemas na garganta que enfrentou na segunda metade dos anos 1980 e que fizeram Silvio procurar Roberto Marinho na Globo para recontratar Gugu Liberato.
Claro que uma história tão conhecida e já tendo sido contada em inúmeras oportunidades impede de entregar ao público o "novo". A licença poética entra em cena em algumas partes - em uma, Silvio surge mobiliando a casa da família com o dinheiro ganho como radialista, embora tenha dito que no começo, ser camelô lhe proporcionava uma renda maior.
Um erro mais grave, e histórico, leva o espectador à relação de Silvio com o ex-presidente João Figueiredo. Ele esteve à frente do país de 1979 a 1985, porém no longa aparece como governante na pré-fundação da TVS (maio de 1976). Além disso, na conversa Silvio fala do programa "Porta da Esperança", lançado em 1984.
Se o apresentador aparece no filme bem próximo ao presidente, ao mesmo tempo mantém uma relação distante da primeira mulher. Em suma, Silvio Santos merece agora uma cinebiografia após Senor Abravanel ganhar as telonas.