Depoimentos ou registros históricos de 22 pessoas engajadas na luta contra o preconceito racial. Esse é o ponto de partida do especial "Falas Negras" que a Globo exibe no próximo dia 20 após "A Força do Querer" no Dia da Consciência Negra, com criação de Manuela Dias, autora de "Amor de Mãe", e direção de Lázaro Ramos. Atores e atrizes darão vida a personalidades como o defensor dos direitos afro-americanos Malcom X, Marielle Franco - vereadora assassinada em 2018 -, Martin Luther King Jr., Mirtes Souza, mãe de Miguel, o menino que caiu de prédio de luxo em Pernambuco causando pedidos de justiça entre famosos e anônimos, e Neilton Matos Pinto, pai de João Pedro, o jovem morto no Salgueiro e que foi homenageado por Ludmilla em live.
Para esses papéis foram escalados nomes como Fabricio Boliveira, Babu Santana - que estará no elenco da segunda temporada de "Salve-se Quem Puder" -, Taís Araujo, Barbara Reis, Silvio Guindane, Bukassa Kabengele e Aílton Graça. "O projeto nasceu durante três semanas de episódios tão simbólicos. Teve o assassinato do João Pedro, do George Floyd, e depois teve a morte do Miguel, um assassinato indireto que evidencia de forma quase caricatural a nossa chaga histórica. Isso tudo me mobilizou (...). Sugeri abrir espaço para essas aspas para mostrar a inconformidade com o que a gente vem vivendo há mais de 500 anos", explicou a autora.
"Procuramos atores que fossem bons contadores de história, porque o projeto, na verdade, é isso. Ele não tem grandes movimentos de câmera e mudanças de cenários, aposta na capacidade de os atores contarem bem essa história, que é o que vai fazer com que o espectador se envolva com ela", reforçou Lázaro. "Falas Negras" tem cenografia assinada por Mauro Vicente Ferreira e figurino de Tereza Nabuco. "O grande destaque nesse projeto são as palavras que saem da boca desses heróis. Se hoje estamos aqui contando essa história para um canal aberto, é porque eles deram muitos passos nessa direção, abriram caminhos", frisou a profissional.
Uma das personalidades lembrada no programa será Marielle Franco, vivida por Taís Araujo. Morta no Rio de Janeiro, o assassinato gerou protesto ao redor do mundo e as causas do crime seguem em apuração após quase dois anos e oito meses. Na época, Marielle era vereadora e defendia causas de negros, mulheres, de moradores da periferia e LGBTs. Ainda no campo político, Bukassa Kabengele será Nelson Mandela (1918-2013), que esteve preso entre 1964 e 1990 por liderar o "apartheid", e depois se elegeu presidente da África do Sul.
Já Izak Dahora dará vida ao líder da Revolução do Haiti Toussaint Louverture (1743-1803), que até os 30 anos era escravo. Ao tomar à frente da batalha viu os africanos que eram escravos vencerem os seus colonizadores, os franceses. Em 1802 acabou preso. Morta em 2016, Luiza Bairros foi um dos nomes mais importantes do Movimento Negro Unificado (MNU) além de ter sido secretária de Promoção da Igualdade Racial da Bahia e ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil. Na TV será interpretada por Valdineia Soriano.
Heloisa Jorge será a rainha do Reino do Dongo e Matamba, Nzinga Mbandi (1583-1663). Ela liderou o exército até os seus 73 anos e teve papel fundamental na resistência da África em relação à comercialização e colonização de escravos. E Fabrício Boliveira vai interpretar o escritor Olaudah Equiano (1745-1797), nascido na Nigéria e que foi alvo de sequestro e escravidão. Na Inglaterra foi figura importante no movimento contra o fim da escravidão. E Olivia Araujo será Harriet Tubman, que integrou a Guerra Civil Americana para conseguir informações e, dessa forma, ajudar na liberdade de vários escravos.
O "Falas Negras" também recordará a história do ex-escravo Mahommah G. Baquaqua (1820-1857), interpretado por Reinaldo Junior e que escreveu um livro no qual detalha o sofrimento pelo qual passou enquanto foi escravizado. A socióloga Virgínia Leone Bicudo (1910-2003) será representada por Aline Deluna, e o abolicionista Luiz Gama (1830-1882) por Flavio Bauraqui.
Barbara Reis será Rosa Parks (1913-2005), que atuou como ativista dos Direitos Civis nos EUA, país que elegeu no final de semana a primeira mulher como vice-presidente. O dramaturgo e escritor James Baldwin (1924-1987) será lembrado por Angelo Flavio. E Samuel Melo será o ativista Malcom X (1925-1965). Já Ailton Graça vai incorporar o jornalista Milton Santos (1926-2001), considerado um dos maiores geógrafos do Brasil. O pastor e ativista Martin Luther King (1929-1968) será interpretado por Guilherme Silva.
Mariana Nunes é a historiadora Lélia Gonzalez (1935-2003), criadora dos termos "amefricanidade" e "pretuguês", Ivy Souza, a cantora nina Simone (1933-2003), que retratou em música os conflitos raciais existentes nos EUA, e Naruna Costa, Angela Davis, presa e condenada sem provas e após a prisão, referência como professora de História.
Eleito o "Desportista do Século" e maior lutador de boxe da História, Muhammad Ali (1942-2016) será lembrado por Babu Santana. Por se recusar a lutar na Guerra do Vietnã, Cassius Clay, seu vredadeiro nome, perdeu o título ganho nos ringues. A mãe de Miguel Otávio será vivida por Tatiana Tiburcio e o pai de João Pedro, por Silvio Guindane. E Tulanih Pereira vai recordar os atores anti-racismo após a morte de George Floyd.
(por Guilherme Guidorizzi)