É quase unanimidade. Ao interpretar um vilão, o ator geralmente sonha em ser odiado nas ruas. Leticia Spiller vai contra a maré. Prestes a viver uma perua intragável em "I Love Paraisópolis", próxima novela das sete, a atriz tem outro desejo. "Quero que riam da Soraya. Para mim, ela é muito engraçada e divertida", conta a artista, que mudou o visual para a personagem.
Ricaça e moradora do bairro do Morumbi, em São Paulo, Soraya ficará revoltada ao ver o filho, Benjamin (Maurício Destri), envolvido com um projeto para revitalizar a favela de Paraisópolis, vizinha à sua casa. "Ela possui uma riqueza extrema, anda com jatinho particular. E vai dizer que não criou o filho, um arquiteto renomado, para se meter na favela, que não merece isso. Ela é assim, sem noção", diverte-se Leticia, rindo.
Segundo a artista, essa disparidade riqueza versus pobreza existente no Brasil é um dos pontos altos da nova novela. "Quando encontro pessoas sem noção como a Soraya, fico quieta. A não ser para a corrupção que a gente vive nesse país", revolta-se a atriz.
"Se a roubalheira fosse bem direcionada, como é nos países desenvolvidos, as favelas teriam saneamento básico, luz elétrica, saúde... Se o dinheiro roubado fosse investido nisso, haveria mais união de tudo. As pessoas poderiam ter mais acesso a tudo. A corrupção acaba fomentando o preconceito contra as comunidades", polemiza Leticia sobre o tema que tomou conta do país em protestos recentes.
Leticia ainda não visitou Paraisópolis
Para a atriz, que ainda não visitou Paraisópolis, sua forma de se posicionar politicamente é através da arte. "É ela que relativiza, é capaz de mudar alguma coisa. Detesto essa coisa panfletária. Acredito na arte e nas coisas que tenho feito. Elas agem politicamente. O cinema, a TV e o teatro possuem essa função", opina ela, que recentemente produziu e atuou em um filme sobre diversidade sexual. Em "O Casamento de Gorete", Leticia interpretou uma drag queen e foi à Parada Gay do Rio de Janeiro com esse figurino.