A fase mais difícil da recuperação de Lais Souza já passou. Após conseguir respirar naturalmente e mexer os braços , a brasileira só pensa em voltar a andar. "Todo dia, quando eu deito na minha cama, eu peço", afirma ela.
A atleta conversou com o "Fantástico" neste domingo (23) e falou sobre o tratamento que vem fazendo após sofrer um acidente de esqui, no estado americano de Utah, no dia 27 de janeiro. Lais se preparava para as Olimpíadas de Inverno, disputadas na Rússia em fevereiro, treinando velocidade e freio em uma pista cercada de árvores, e não teve testemunhas.
No choque, Lais deslocou a parte entre a terceira e a quarta vértebras, esmagando a medula de maneira gravíssima. Nisso, a esquiadora perdeu toda a sensibilidade e a capacidade de produzir movimentos do pescoço para baixo. De acordo com os médicos, ela corria um risco altíssimo de morrer.
Ela confessa não se lembrar de muita coisa do dia do acidente: "Eu tenho cenas assim. Logo acho que depois que eu caí, eu lembro meu técnico me chamando. Tipo com uma voz meio desesperada, chorando, ofegante. Eu desmaiava, não sei. No helicóptero eu lembro, o barulho assim. Depois, só a UTI".
Renascendo
Segundo o médico Antonio Marttos, chamado pelo Comitê Olímpico Brasileiro para acompanhar Lais, ela venceu a morte duas vezes: na queda e numa pneumonia contraída nos primeiros dias. A atleta precisou de submeter a uma traqueostomia, buraco feito na garganta pra facilitar a respiração, além de usar uma sonda de alimentação. Ambos poderiam ser pra vida toda, mas Lais se livrou delas rapidamente. "Estou comendo de tudo. De tudo mesmo. Comi picanha nesses tempos", conta ela.
Cantar para melhorar
Os médicos acreditavam que Lais fosse precisar de um marca-passo no diafragma, um ventilador mecânico para respirar por toda a vida. Mas, três semanas depois do acidente, ela já respirava sozinha. "Para tirar o ventilador, eu cantei muito", conta ela sobre a ideia da fisioterapeuta e amiga de muitos anos Denise.
"É um jeito de você tentar cantar junto com o cantor e ir ganhando expansão pulmonar. E nesse dia, botei uma música que ela gostava, ela começou a dançar, brincar e eu engatei com ela cinco horas cantando. No final das contas ela estava com 100% de oxigênio e respirando sozinha", conta a fisioterapeuta. Durante o período na UTI, Lais a chamava com barulho de pum. "Era o barulho mais alto que eu conseguia fazer", conta a atleta.
Etapa seguinte
Após tantas conquistas, o próximo passo é ficar em pé na cadeira de rodas. De acordo com o médico do COB, para conseguir, só falta Lais adequar o corpo dela à mudança pra manter a pressão arterial, já que, quando fica em pé, a pressão cai um pouco. "Ela faz exercícios diários pra isso e está muito próxima de conseguir!", afirma o doutor.
"Eu tenho um momento de tristeza, eu vivo ele, encaro ele, choro. Nem sempre eu sou forte, choro pra caramba. Tem que ter, né? Dá energia você voltar, pensar, refletir. É a punhalada que você leva pra continuar", afirma Lais sobre o processo de recuperação. Segundo a mãe da atleta, quando ela sentiu uma agulhada no dedinho, foi uma festa. "Nunca imaginava que, poxa, uma furadinha de agulha ia ser tão importante", afirma.
"Eu senti vontade de fazer xixi. Isso é surpreendente demais. Não era pra sentir nada", afirma ela a Tadeu Schimidt. Apenas quando a medula desinchar totalmente, Lais saberá como será a vida dela.
A previsão é de que nas próximas semanas Lais comece a terapia com células-tronco. "O que tiver que fazer a gente está aí, vamos tentar. Dá um pouco de medo pensar que a minha recuperação pode não ser exatamente como sonho", afirma.
Surpresa
No fim da conversa, Lais recebeu um recado de Ana Carolina. Durante o processo de cantar para expandir o pulmão, a fisioterapeuta usou músicas dela para estimular a atleta. "Fiquei super emocionada em saber que 'Encostar na sua' está fazendo parte da sua recuperação. E agora vamos fazer o exercício, vamos cantar um pouquinho a nossa música, que agora virou nossa música", afirmou Ana Carolina, que cantou com a esquiadora.