
Na véspera do julgamento que pode torná-lo réu por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi chamado pela Xuxa de 'velho babão', recorreu a seus apoiadores para solicitar doações financeiras. Durante uma entrevista ao podcast "Inteligência LTDA", na segunda-feira (24), Bolsonaro reafirmou sua confiança na fidelidade de sua base e declarou: "Se eu pedir um PIX hoje, tenho certeza que amanhã vai ter mais de R$ 10 mil na minha conta."
O julgamento, que ocorre nesta terça-feira (25) na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), analisará se Bolsonaro e sete aliados se tornarão réus por crimes como golpe de Estado, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
A declaração de Bolsonaro acontece um dia antes da análise do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre sua eventual responsabilização na tentativa de subverter o resultado das eleições de 2022. O ex-presidente justificou o apelo financeiro alegando altos custos com sua defesa jurídica. Segundo ele, do total de R$ 17 milhões arrecadados em doações anteriores, "quase oito milhões já foram com advogados".

O montante citado por Bolsonaro faz referência a uma vaquinha realizada em 2023, cujos valores foram identificados em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e posteriormente investigados pela Polícia Federal. A origem e destinação exata dessas verbas ainda geram questionamentos.
Na manhã desta terça-feira (25), Jair Bolsonaro compareceu pessoalmente ao Supremo Tribunal Federal para acompanhar o julgamento que pode torná-lo réu. De acordo com o G1, o advogado do ex-presidente, Paulo Cunha Bueno, declarou que seu cliente "faz questão de enfrentar a acusação injusta e absurda", reafirmando sua indignação com as imputações feitas contra ele.
O julgamento acontece na Primeira Turma do STF, formada pelos ministros Cristiano Zanin (presidente), Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Flávio Dino e Cármen Lúcia. Tentativas das defesas de Bolsonaro e outros envolvidos de impedir a participação de alguns magistrados foram rejeitadas.

Caso a denúncia seja aceita, Bolsonaro se tornará o primeiro ex-presidente a ser réu por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Se rejeitada, a acusação será arquivada.
Além de Bolsonaro, outros sete aliados também são alvos do processo:
- Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Abin;
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF;
- General Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.
Eles respondem por cinco crimes:

- Golpe de Estado;
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Organização criminosa armada;
- Dano qualificado;
- Deterioração de patrimônio tombado.
Ainda na entrevista, Bolsonaro apontou a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) como uma das responsáveis por sua derrota na disputa presidencial de 2022. O ex-presidente atribuiu sua perda de votos em São Paulo às ações da parlamentar, que, às vésperas do segundo turno, sacou uma arma e perseguiu um homem negro nas ruas da capital paulista. O caso teve ampla repercussão e reforçou críticas à política armamentista defendida por Bolsonaro.
"A Carla Zambelli perseguindo o cara... aquilo... teve dizendo, 'Bolsonaro defende o armamento'. A gente perdeu São Paulo. A gente estava bem em São Paulo. A Carla Zambelli tirou o mandato da gente. Ela tirou o mandato da gente", afirmou Bolsonaro.
A declaração do ex-presidente reforça sua estratégia de vitimização e de mobilização da militância, que segue ativa em defesa de sua imagem. Com a iminência do julgamento no STF, o discurso de Bolsonaro se concentra em minimizar sua responsabilidade e reforçar a narrativa de perseguição política.
A sessão da Primeira Turma do STF que definirá o futuro jurídico do ex-presidente acontece nesta terça-feira (25), e o resultado pode ter impactos significativos para sua carreira política e para o futuro da direita no Brasil.