Jornalista relata em livro reação do filho à mastectomia após câncer de mama
Publicado em 26 de outubro de 2018 às 00:00
Por Marilise Gomes | Beleza & Estilo
Ama escrever sobre beleza, estilo, TV e astrologia. Curiosa, sabe que a autenticidade é segredo para o melhor look do dia.
Ivna Maluly foi diagnosticada com a doença em 2009 e, no ano seguinte, lançou 'Mamãe, cadê seu peito?', obra infantil na qual aborda a reação do filho, Elias, à retirada da mama, além do comportamento dele ao longo do tratamento. 'Sempre que tenho retorno, as pacientes ficam muito felizes porque é um livro para a família, não é um bê-a-bá sobre o câncer: é uma literatura quase poética sobre uma mãe doente e um filho preocupado. E as mães adoram isso porque entendem que, na verdade, mentir, inventar, não é melhor caminho', conta ao Purepeople
Após câncer de mama, jornalista cria livro sobre reação do filho à mastectomia, como conta em entrevista ao Purepeople nesta sexta-feira, dia 25 de outubro de 2018
Ivna Maluly é mãe de Elias: a jornalista descobriu o câncer de mama aos 34 anos, em 2009, quando o menino tinha 4 anos de idade
Ivna morava na Bélgica, mas teve o diagnóstico de câncer de mama durante férias no Brasil: 'Já havia sentido o nódulo uns 3 meses antes, fui no médico na Bélgica, ele disse que não tinha nada, mas precisaria repetir o exame 6 meses depois. Mas como sou de família de médicos, meu pai é médico e minha mãe já enfrentou um câncer, a gente achou mais prudente ir a um mastologista no Brasil.'
Ivna Maluly quis escrever o livro por ter vivido o câncer de mama como filha: 'Desde o início, quando descobri, estava com a ideia de contar para ele, porque quando minha mãe teve câncer, eu fiquei muito nervosa, não tinha dinheiro para visitar ela na época'
'Minha mãe estava fazendo curativo em mim com a minha irmã depois do banho e ele entrou no banheiro e começou a perguntar: 'ué, mãe, cadê seu peito?'', lembra Ivna Maluly sobre a reação do filho, Elias, à mastectomia
A jornalista Ivna Maluly teve o incentivo da amiga Thalita Rebouças para lançar o livro
'Ela me sugeriu de escrever o livro: 'pô, Ivna, sua história é linda, escreve um livro aí'. Eu tava meio cansada, mas fui escrevendo os textos', conta Ivna sobre o apoio de Thalita Rebouças
Ivna Maluly também lançou o livro em francês e inglês
A jornalista Ivna Maluly visitou escolas e hospitais após lançar o livro 'Mamãe, cadê seu peito?'
Ivna Maluly também participou de feiras internacionais com o livro
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A escrita pode ser uma aliada de pacientes com câncer de mama para ganhar força no tratamento. Prova disso é a experiência da jornalista Ivna Maluly, de 43 anos: em 2009, ela morava na Bélgica e descobriu um nódulo no seio. Com um filho pequeno, decidiu escrever sobre a experiência e criou o livro "Cadê seu peito, mamãe?", voltado para pacientes que, assim como ela, precisam explicar a mastectomia para os herdeiros ainda pequenos. Em conversa com o Purepeople, ela fala sobre a obra e sua vivência da doença para o canal Outubro Rosa, campanha realizada no mês de outubro para conscientizar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama através da mamografia e do autoexame.

Mastectomia aconteceu antes de quimioterapia: 'Nódulos se comunicando'

O diagnóstico de câncer de mama em uma forma agressiva, enfrentada apenas 20% de pacientes, veio durante férias no Brasil. "Já havia sentido o nódulo uns 3 meses antes, fui ao médico na Bélgica, ele disse que não tinha nada, mas precisaria repetir o exame 6 meses depois. Mas como sou de família de médicos, meu pai é médico e minha mãe já enfrentou um câncer, a gente achou mais prudente ir a um mastologista no Brasil. Aí fiz uma biópsia, fui diagnosticada e tive que fazer uma cirurgia para retirar o nódulo, mas acabou retirando o seio todo, porque havia 3 nódulos e esses nódulos estavam se comunicando. Como eu era jovem, tinha 34 anos na época, os médicos acharam melhor tirar o seio todo e fazer quimioterapia depois", afirma.

'Desde o início, estava com a ideia de contar', diz sobre o filho

Mãe de Elias, à época com 4 anos de idade, a jornalista planejava contar para o menino a situação por, no passado, ter vivido uma experiência negativa relacionada à doença. "Desde o início, quando descobri, estava com a ideia de contar para ele, porque quando minha mãe teve câncer, eu fiquei muito nervosa, não tinha dinheiro para visitar ela na época e, como ele tinha 2 anos, não expliquei nada. Ele começou a ter algumas reações, como ficar com a pele vermelha, empolada e ficou meio nervoso. Quando o levei ao médico, ele explicou que era doença psicossomática", conta Ivna, relembrando as palavras da especialista: "'A criança de 2 anos não consegue verbalizar tudo que está acontecendo', me disse a médica. Ali ela me motivou a falar com ele, que a vovó estava doente e que a mamãe estava triste, mas que a vovó ia ficar boa. E, a partir do momento que eu falei com ele, a pele dele voltou ao normal, ele ficou feliz, eu consegui ficar mais tranquila".

Descoberta aconteceu de repente: 'Depois do banho'

Apesar dos planos de contar para o filho, Elias, de modo progressivo e conforme o tempo fosse passando, Ivna foi surpreendida pelo menino alguns dias depois da mastectomia. "Minha mãe estava fazendo curativo em mim com a minha irmã depois do banho e ele entrou no banheiro e começou a perguntar: 'ué, mãe, cadê seu peito?'", afirma a petropolitana, que também viu em seu psiquiatra um incentivo para escrever: "Ele falou: 'olha, você é jornalista, gosta de escrever, acho que seria uma boa relatar tudo isso'. Aí comecei a escrever sobre tudo, desde a descoberta da doença até o final dela". Uma amiga com carreira consagrada na literatura também foi determinante para Ivna decidir compartilhar sua história: Thalita Rebouças. "Ela me sugeriu de escrever o livro: 'pô, Ivna, sua história é linda, escreve um livro aí. Eu tava meio cansada, mas fui escrevendo os textos", diz. Um ano depois, em 2010, a obra foi lançada: "Ela conta de forma leve como explicar a doença para uma criança. Na verdade, não tem muito segredo, é ser franca: ir situando ela em todos os momentos e situações do dia a dia, sem ficar inventando muito, porque eles têm uma imaginação muito fértil."

'Um livro para família', afirma Ivna

Após a publicação, a jornalista quis dividir com mais pacientes sua obra, sabendo que ela poderia empoderar mais mulheres, assim como faz o trabalho da artista Annie Dannison com bonecas. "Comecei a ir a centros hospitalares, doei livros no Brasil e aqui fora. Sempre que tenho retorno, as pacientes ficam muito feliz porque é um livro para a família, não é um bê-a-bá sobre o câncer: é uma literatura quase poética sobre uma mãe doente e um filho preocupado. E as mãe adoram isso porque entendem que, na verdade, mentir, inventar, não é melhor caminho. O melhor caminho é ser sincera, porque a criança entende, passa por essa fase junto e entende que família não vive só de capítulos felizes", pondera Ivna. Com exemplares em francês e em inglês, o livro foi distribuído em organizações europeias de combate ao câncer, como o Institut Curie. "Eles compraram mil livros, em inglês e francês, para distribuir para os pacientes. Tenho só o que comemorar, acho que é um alento, a literatura faz isso, tem esse poder mágico de transportar o leitor para um outro mundo", vibra a autora.

Aos 13 anos, filho aconselha amigos: 'Supercontente'

Oito anos depois da publicação, Elias tem 13 anos e é um dos maiores entusiastas da carreira da mãe na literatura. "Hoje, ele dá conselhos para os amigos, diz que as mães vão ficar boas. E que a mãe dele escreveu um livro sobre este assunto! No início deste ano o professor de francês perguntou quem tinha um pai ou uma mãe com uma profissão interessante. Ele logo levantou a mão e disse: a minha mãe escreve livros. E ficou supercontente que eu estava lá na sala dele explicando como se fabricava um livro e pediu para eu falar que o menino do livro era ele, mas bem menor", conta Ivna, cheia de orgulho.

(Por Marilise Gomes)

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