O desfecho da saga de Morena (Nanda Costa) no último capítulo de "Salve Jorge" não fugiu à proposta inicial da trama de Glória Perez: quebrar paradigmas. Sem o tradicional casamento dos protagonistas, a autora deixou isso por conta da imaginação do público, mas mostrou o tão esperado castigo dos mafiosos, e com muitas cenas de ação emocionantes, a justiça foi feita nesta sexta-feira (17), dando o ponto final em todo o sofrimento causado pelo tráfico humano na novela das nove da Globo.
A missão de substituir o estrondoso sucesso de "Avenida Brasil" não seria fácil para nenhuma outra produção. Antes mesmo de ir ao ar, "Salve Jorge" já era rejeitada pelos órfãos do Divino, mas os guerreiros que encararam esse desafio atravessaram todas as dificuldades desses 179 capítulos com garra e disposição para o trabalho. Ainda assim, não há final de novela das nove que não venha acompanhado de muita expectativa, ansiedade, nervosismo e comoção. Seja de quem faz ou de quem assiste.
Com o ritmo acelerado, a invasão da boate de exploração sexual deu o tom inicial do que vinha na sequência. Era a hora da verdade, o momento que todos queriam ver. O primeiro a pagar por seus crimes tinha que ser o mais cruel dos bandidos, e Russo (Adriano Garib), teve o que merecia pelas mãos de Jô (Thammy Miranda). Quem não vibrou com o jogo de sedução, com direito a beijos e amassos do "casal", seguidos da revelação da identidade da infiltrada e a surra que ele leva das moças que tanto apanharam do capanga?! Finalmente o doce sabor da vingança pôde ser provado pelas vítimas.
Um a um, todos caíram sob o comando de Helô (Giovanna Antonelli) a verdadeira heroína que se tornou uma co-protagonista ao longo do folhetim. Segura, firme, sagaz e engraçada, a policial esteve impecável do princípio ao fim, se tornando a noiva moderninha, com máscara e chicote, na cerimônia de casamento que teve a torcida e aprovação dos fãs de "Steloisa" como o casal foi batizado nas redes sociais. Inegável e mais que comentada, a química da Helô e Stenio (Alexandre Nero) merecia essa celebração. Uma escolha acertada da autora, já que o casamento de Théo (Rodrigo Lombardi) e Morena já havia sido mostrado tantas vezes na imaginação tanto de um quanto de outro.
A grande surpresa ficou por conta da conversão de Wanda (Totia Meirelles), que depois de presa, "encontrou Jesus", como ela mesma disse. A cena da aliciadora no presídio com Lívia Marini (Claudia Raia) - depois da chefona do tráfico ser presa no palco de um cabaré fazendo strip dentro de uma taça -, foi a única que ainda não tinha vazado e se revelou um outro ponto a favor. Assim como todo o cunho social da obra, retrata o que acontece fora da ficção, em tempos em que assassinos se tornam pastores dentro das prisões brasileiras. Coerência nunca é demais.
Já a grande vilã teve seu momento de brilhar com o impecável desempenho de Raia fazendo o striptease em que Lívia imita Dita Von Teese. Uma pena que, assim como todo o capítulo, a cena tenha sido tão rápida, mas nem por isso sem qualidade. De qualquer maneira, sempre fica a sensação de que poderia ter tido mais, só que não deu tempo pra mostrar tudo. Por fim, a famosa "agente de modelos" teve que descer do salto, tirar os cílios postiços e posar para a foto da ficha criminal. Mas como "pau que nasce torto, morre torto", lá foi ela atrás do novo "conde italiano", na forma de uma autoridade do presídio, que pode lhe tirar da lama. O que acontece depois, fica por conta de quem sabe voar.
Como não poderia faltar a marca registrada da trama, a vasta cabeleira cacheada de Morena ainda apareceu uma última vez, em contravenção a toda e qualquer premissa de continuidade que possa existir na teledramaturgia. De repente, vemos a mocinha rezando dentro da igreja Turca com o visual que usava no início da novela e depois aparece novamente com os fios alongados. Essa e outras gafes viraram piada na internet durante esses oito meses, prova de que a audiência não estava tão ruim assim como foi comentado, já que "quem não é visto, não é lembrado", como bem diz o ditado.
E aí os casais foram se unindo. Tanto aqueles que flertavam já há tempos, como Lucimar (Dira Paes) e Thompson (Odilon Wagner), Almir (Murilo Grossi) e Waleska (Laryssa Dias); quanto os que se acharam seu par última hora, como por exemplo Érica (Flávia Alessandra) e Haroldo (Otaviano Costa), e as amigas dela Márcia (Fernanda Paes Leme) com Ciro (Sidney Sampaio) e Julinha (Cris Vianna) com Drago (Leonardo Carvalho). No triângulo amoroso da Capadócia, venceu o casal com a maior torcida do público: o final feliz de Ayla (Tânia Khalill) e Zyah (Domingos Montagner) veio com direito a gravidez e tudo, mas nos pensamentos do guia ainda estava Bianca (Cleo Pires), dançando belíssima com uma espada.
Quem não será esquecida e deixou sua marca como destaque da trama foi Maria Vanúbia (Roberta Rodrigues ), com seus bordões engraçadíssimos que ganharam o público. A periguete que "não é bagunça", bem que merecia ter sofrido mais na mão dos mafiosos, mas foi salva e voltou para a favela contando vantagem em cima da turnê imaginária que ela fez na Turquia, "só no glamour"!
No fim das contas, a guerreira do alemão volta para casa depois de ter sido traficada, prostituída, escravizada e até mesmo leiloada. Na companhia de seu heróico capitão e com os dois filhos. Ao som de "Esse Cara Sou Eu", ela não precisa de uma cerimônia religiosa ou civil para ser feliz para sempre, assim como tantas mulheres da vida real. Como é de costume, a arte imita a vida no último voo de mais uma novela de Glória Perez.
(Por Samyta Nunes)