Passados quase dois anos, os principais processos relacionados ao caso Dani Calabresa e Marcius Melhem ainda não foram julgados e ganharam mais uma capítulo. Acusado por assédio sexual pela humorista e outras sete mulheres, o ex-diretor do departamento de humor da TV Globo afirmou ser vítima de um complô.
Marcius, que alegou ter sofrido danos pessoais e profissionais com a repercussão da história, vem se defendendo com provas, entre fotos, áudios, documentos e conversas de WhatsApp trocadas entre eles, em tom carinhoso e com espaço para brincadeiras de cunho sexual. O artista ainda não foi indiciado e pede reparação de danos morais contra Dani.
A "Veja" teve acesso à íntegra dos processos, que correm sob sigilo. Confira abaixo alguns trechos e informações das provas inéditas sobre o caso que constam nos autos:
Maíra Perazzo, melhor amiga de Dani Calabresa, acompanhou a apresentadora na festa do elenco de humor da Globo. De acordo com Marcius Melhem, em determinado momento da noite, ele e Dani estavam trocando beijos em uma área mais reservada quando a atriz puxou Maíra, formando um trio.
Em depoimento, Maíra confirmou que ficou com Melhem e disse que não lembra de ter visto nada de impróprio entre ele e Dani na ocasião. Maíra afirmou que Dani continuou animada e trocou beijos com um câmera da Globo depois.
"Ela (Dani) mais comentava das coisas divertidas da festa, não sei se ela teve algum bloqueio de falar depois (...) E ela contava mais, ela contou que ficou com o Pedro (um operador de câmera da Globo), que era uma pessoa que ela queria ficar, né?", relatou Maíra ao juiz.
Veronica Debom está no grupo de acusadoras e atuou nos bastidores para convencer outras mulheres a denunciar Marcius Melhem, com quem assumiu ter mantido um relacionamento de mais de um ano, que ela classificou como "abusivo" à Justiça.
Em provas apresentadas nos processos, elas parecem ter um envolvimento apaixonado com declarações de amor, conversas picantes e envio de nudes.
Na fase final, as conversas de WhatsApp anexadas mostram Melhem disposto a se afastar, enquanto Veronica tenta evitar o fim. Depois de um tempo, a atriz surge conformada com o desfecho da história.
Quando as denúncias de assédio contra Marcius se tornam públicas, Veronica prestou solidariedade e falou que o movimento parecia um tipo de terrorismo: "Você é inocente, amor".
Ao contrário de outros escândalos em casos de assédio sexual, a quantidade de vítimas no caso de Marcius Melhem permaneceu a mesma desde o início e com narrativas parecidas. Segundo as supostas vítimas, Marcius usava o poder de chefe para abusar de piadas de cunho sexual, constrangia as subordinadas com aproximações físicas e se vingava prejudicando as carreiras de quem não seguia aos avanços.
Defendida pela mesma advogada Mayra Cotta, a maior parte das denunciantes se conhecia. Antes das denúncias, várias haviam trabalhado juntas. Em fotos de uma viagem ocorrida em fevereiro de 2021 ao sítio de uma delas na região serrana do Rio de Janeiro, estavam presentes Georgiana Coutinho de Goes, Carol Portes, Veronica Debom e Debora Lamm.
As críticas sobre a conduta de Marcius Melhem vieram à tona em meados de 2018, quando Barbara Duvivier revelou relacionamento amoroso de quase sete anos. Uma das testemunhas do processo na Deam, ela contou em depoimento na delegacia que o humorista não a deixava terminar a relação usando seu poder hierárquico dentro da emissora, oferecendo "proposta de trabalho, de aumento de salário e de promoção de cargo".
No processo em curso, Marcius justificou que Barbara espalhou a versão de chefe assediador para evitar o constrangimento de assumir o namoro clandestino com ele. Em conversa pelo whatsapp com Dani Ocampo, assistente de Melhem, por exemplo, Barbara reconheceu que havia mentido:
"Mas nada planejado maquiavelicamente, foi um redemoinho que eu fui entrando, e quando vi não conseguia sair" (o print da conversa foi anexado no processo).
Segundo as supostas vítimas, Marcius Melhem confundia assuntos profissionais com brincadeiras e indiretas, mas o conjunto de provas que constam nos autos mostra uma outra realidade: no ambiente do humor da Globo, havia liberdade e tolerância para tal comportamento.
Há exemplos de diálogos picantes entre Marcius e com as artistas e também com Dani. Após uma festa ocorrida na casa do diretor Mauro Farias, por exemplo, os dois conversaram sobre nudes.
Outra denunciante, Georgiana Goés, que narrou no processo uma tentativa de Melhem de tentar beijá-la à força em uma festa ocorrida no fim de 2014, mantém uma relação amistosa com o artista mesmo depois do episódio, dividindo com ele dúvidas profissionais e marcando novos encontros.
Em fevereiro de 2018, Georgiana confidencia em uma mensagem que sonhou com Marcius "num abraço longo e quente" e pergunta ao final: "O jogo está virando?".
O caso de Verônica Debom, que alegou ter deixado de trabalhar por causa do assédio, coloca em xeque as acusações de que Marcius Melhem prejudicou diretamente a carreira das mulheres que não cederam a ele. Porém, algumas conversas de WhatsApp mostram que Veronica não gostava de trabalhar com algumas pessoas da equipe e se afastou devido a um problema de saúde que a impedia de atuar.
"Acabei de falar com a produção. Minha coluna ta totalmente travada. O médico no hospital mandou eu não me mexer nos próximos três dias", escreveu no Whatsapp direcionado a Melhem.
Debora Lamm, a dona Cotinha do programa "Zorra", figura no inquérito da Deam como uma das vítimas, mas não fez nenhum relato contra Melhem até agora. Um dos pontos levantados é que ela se confundiu ao ser perguntada pelo juiz sobre o caso em questão e até elogiou o comediante.
Apesar de ter narrado uma perseguição por parte de Melhem, Dani enviou ao ex-diretor vários WhatsApp de agradecimentos durante o período em que trabalharam juntos.
Os detalhes reunidos pela Veja podem ser vistos neste link .