A faixa de idade com maior incidência do câncer de mama é a partir dos 40. No entanto, é possível que mulheres mais jovens sejam diagnosticadas com a doença, alvo de campanhas de prevenção no mês de outubro. Foi o que aconteceu com Isabel Costa, de 22 anos, que descobriu um tumor maligno aos 20 anos. "Eu tinha silicone desde os 18 anos. Em julho do ano passado, notei uma alteração na mama e achei que pudesse ser a prótese que tivesse estourado. Procurei um médico, porque estava um volume feio e estranho e ele me disse que era câncer, de cara. Sem fazer exame nenhum, depois eu fiz os exames e confirmou", conta ao Purepeople a jovem.
Estudante de Direito, a brasiliense precisou trancar a faculdade durante o tratamento. "Achava que tinha uma vida toda planejada e que podia controlar tudo, de repente, me vi inserida em outro contexto. Tive que largar a faculdade, cancelar meu intercâmbio. Parei de sair e fiquei totalmente dependente da minha mãe para tudo, porque comecei o tratamento, fiz quimioterapia. Comecei a viver em um ambiente e ter uma rotina que não era comum para jovens da minha idade, para minha família também foi muito difícil, mas com o apoio dos meus pais e do meu irmão foi bem tranquilo de levar", relata a universitária, que terminou o ciclo de quimioterapias no fim de agosto. "Foram 16 quimioterapias venosas, oito tipos de quimioterapia oral, foram cerca de 780 comprimidos e agora só estou no controle", acrescenta Isabel, que já retornou à universidade.
Em setembro do mesmo ano, ela completou 21 anos e afirma que festejar nova idade foi complicado diante do diagnóstico. "Foi horrível comemorar o aniversário, eu achei que eu ia morrer, foi bem ruim porque achei que eu estivesse com os dias contados. Mas, quando comecei a fazer as quimioterapias, meu atual oncologista me mostrou que, independente de onde eu estivesse, seja aqui, na China ou na Rússia, eu estaria fazendo o mesmo tratamento", lembra Isabel.
Mais otimista com o avançar do tratamento, a jovem viu, então, que a escrita poderia ser sua aliada e criou o blog "Câncer aos 20". "Ali eu desabafava, contava minha rotina ali e dava informação para todo mundo. Também recebia um feedback de pessoas que também estavam passando por isso, embora não fossem pessoas da minha idade, eu sabia que não estava sozinha ali", afirma a Bel, como gosta de ser chamada, adicionando: "Eu não queria que ficassem inventando mentiras ou fofocas a respeito de mim. Se fosse para saber de alguma coisa, era melhor saber de mim, era eu que estava digitando ali. E também queria compartilhar, para encontrar pessoas que estivessem passando pelo mesmo. Acabou virando uma troca de experiências, as pessoas diziam que se sentiam ajudadas e para mim também foi uma ajuda".
A perda de cabelo, explica Isabel, não foi a consequência mais difícil da quimioterapia para ela, que aderiu a lenços e perucas - disponíveis para doação por diversas instituições em todo Brasil. "Eu sempre fui muito, muito vaidosa, mas simplesmente aceitei pelo que eu tava passando, porque não tinha jeito. Quando você descobre que está com câncer, ou você trata, ou você morre. Não me questionei e fui fazer o tratamento. Foi até mais tranquilo do que eu pensei perder os cabelos, fiquei careca e levei isso numa boa, porque quando você faz quimioterapia, o couro cabeludo dói muito. Então foi um alívio raspar o cabelo", argumenta a universitária. A operação no seio foi o momento mais árduo. "Eu perdi as duas mamas, os dois mamilos. Para mim, foi muito difícil me olhar no espelho, eu tinha um corpo que eu gostava antes e passei a ter um que não era da minha escolha, eu não queria ficar daquele jeito. E é duro, eu me via rasgada, toda cheia de ponto... Mas passou!", pondera a brasiliense, que optou pela cirurgia de reconstrução mamária imediata.
Além do apoio de familiares e amigos, Isabel destaca a fé como sua grande companheira durante o tratamento e se considera renovada após passar por ele. "Resgatei muitos valores, não é que eu fosse uma pessoa ruim, mas hoje vejo que tenho mil motivos para agradecer a vida que eu tenho, agradecer por estar viva. E sei que nada é por acaso e que eu deveria ter passado por isso mesmo. Vejo que às pessoas reclamam demais das coisas, mas não sabem o que é ter, de fato, um problema, que é lutar pela vida", argumenta a jovem, que manteve o blog e as redes sociais: "Embora eu já esteja fora de tratamento, só tomando medicamentos de controle, quero continuar empoderando e encorajando as pacientes". Além do mundo virtual, Bel criou uma ação prática de solidariedade: "Tenho um projeto chamado 'Câncer sem Tabu', no qual eu recolho lenços, cestas básicas e remédios para levar para o hospital regional aqui de Brasília".
(Por Marilise Gomes)