A conscientização sobre o câncer de mama e Outubro Rosa cresce a cada ano e, no Brasil, também se multiplicaram as instituições que fazem doações de perucas. Muitas pacientes não têm a possibilidade de fazer crioterapia e, fragilizadas com a perda de cabelo provocada pelo tratamento contra o tumor maligno, elas veem sua autoestima resgatada através do acessório. Fundada no Rio de Janeiro em 2010, a Fundação Laço Rosa é uma das pioneiras na questão. "A irmã da Marcelle Medeiros, nossa fundadora, descobriu o câncer grávida e ficou muito mal por perder o cabelo. A família viajou para o exterior e começou a pensar no que poderia fazer para ajudar outras pessoas que passassem pela mesma situação. E trouxeram a ideia do banco de perucas, começou um online no Brasil", explica ao Purepeople Patricia Bullé, gerente de relacionamento da fundação.
Além da peruca, um kit para a paciente valorizar sua beleza é enviado pela Laço Rosa, que doou quase 6.000 perucas. "A gente separa aqui a peruca, um brinco e um batom, além de uma carta de alguém que passou pela doença ou que doou o cabelo, para fortalecer a autoestima dela. Entregamos em qualquer lugar do Brasil, gratuitamente", detalha Patrícia. Tratar a doença com leveza e naturalidade, como tem feito Ana Furtado em suas redes sociais, e estimular a prevenção também são bandeiras da instituição. "O banco de perucas foi uma porta para a gente levar essa conscientização para mulheres em geral. O medo faz com que as pessoas demorem a ir ao médico, a gente luta para essa informação chegar de um jeito leve e suave", afirma a gerente da instituição, que conta ainda com o projeto "Força na Peruca", no qual capacita cabeleireiros para produção do acessório.
Em entrevista ao Purepeople, Mariana Robranh, designer gráfico que fundou, junto da publicitária Mylene Duarte, a ONG Cabelegria, em São Paulo, fez uma campanha em 2013 com o objetivo de arrecadar mechas de cabelo para doar a algum instituto que produzisse perucas. No entanto, com a dificuldade de encontrar os lugares adequados para a confecção, elas expandiram a campanha para uma instituição própria: a primeira peruca foi entregue em dezembro do mesmo ano com o apoio de uma costureira voluntária. Nessa época, apenas crianças eram atendidas devido à baixa produtividade - cerca de 10 peças por mês. Cinco anos depois, o Cabelegria recebe doações de todo o Brasil, conta com duas costureiras em tempo integral, tem quatro postos de bancos de peruca no Estado, produz 300 peças por mês e já entregou aproximadamente 5.500 acessórios. "Em março de 2014, a gente apareceu no programa 'Caldeirão do Huck' e de fato explodiu a questão da doação de cabelo. Recebemos cerca de 300 doações de cabelo por dia e o trabalho, junto da visibilidade, começou a aumentar também. Em 2015, a gente passou a atender não só crianças, mas também mulheres e, hoje, a gente acaba atendendo mais mulheres do que crianças porque a solicitação por elas acaba sendo bem maior", conta Mariana. "As mulheres se preocupam muito mais com a questão da carequinha do que as crianças; para crianças é algo mais lúdico, com perucas coloridas."
A Associação Rapunzel Solidária foi criada em 2014 pela engenheira Elizabeth Lomaski após ela se recuperar de um câncer de mama que resultou em uma mastectomia e histerectomia preventiva. A paulistana decidiu deixar o cabelo crescer para fazer a doação, convidou uma amiga para acompanhá-la na ação e, desde então, acalçaram a média de 2 mil doações de mechas por mês, já atingiram diretamente cerca de 3 mil pessoas e, indiretamente, de 40 a 50 mil pessoas. "Nós contabilizamos isso porque cada pessoa que recebe a peruca tem os amigos, a família, pessoas próximas que também são impactadas com essa nossa ajuda", explica Elizabeth. Como conta a presidente, a rede de apoio, inclusive, já rompeu fronteiras: "Temos redes de cabeleireiros associados que enviam mechas para a gente do Brasil inteiro e de fora também, tem profissionais até em Miami, na Flórida, que mandam cabelo para cá".
Lisos, cacheados, crespos, naturais ou com química: qualquer tipo de cabelo é aceito como doação para a confecção de perucas, desde que a mecha tenha no mínimo 20 centímetros. "A única coisa que a gente pede é para a pessoa não cortar com ele alisado com chapinha ou escova porque a gente separa por tipo. Se eu recebo um cabelo enrolado mas pranchado, vou juntar com outros lisos mas, na hora de lavar a peruca para higienização, ele vai enrolar. Aí, vou ter que desmontar essa peruca para fazer de novo porque vou ter metade com cabelo liso e metade com ele enrolado", orienta Mariana. "O cabelo pode ser de qualquer tipo, ter química como escova progressiva, pode ser liso, cacheado, de qualquer cor, grisalho... Desde que seja cortado seco e acima de 20 centímetros", completa Elizabeth. Patrícia, da Laço Rosa, adiciona: "O cabelo precisa estar seco na hora do corte, porque pode mofar e a gente perder a doação".
Para receber uma peruca das instituições Cabelegria, Rapunzel Solidária ou Laço Rosa, é preciso fazer um cadastro online no site das respectivas instituições. No caso do Cabelegria, como diz Mariana Robranh, também é possível pedir por email: "Quando a pessoa envia a mensagem solicitando a peruca, a gente pede alguns documentos como laudo médico, RG, CPF, comprovante de quimioterapia se é um paciente oncológico. Se estiver tudo certinho, a gente libera a doação". Ela indica que o paciente, caso esteja em São Paulo, pode retirar a peça nos postos de coleta ou nos eventos produzidos pelo projeto; do contrário, recebem em casa por meio dos Correios. A Fundação Laço Rosa disponibiliza alguns modelos online, mas caso a mulher queira um modelo em especial, pode entrar em contato com eles: "Ela manda uma foto em anexo e a gente tenta reproduzir aqui". Elizabeth Lomaski, que também conta com o cadastro no site do Rapunzel Solidária, ainda reitera que a entrega das perucas é democrática: "Qualquer pessoa de qualquer idade e qualquer alopecia (perda de cabelo do couro cabeludo) pode receber a peruca. Não precisa ser só paciente de câncer".
(Por Carol Borges)