Careca e feminina: cabelo raspado é tendência entre mulheres. Conheça histórias!
Publicado em 11 de março de 2019 09:13
Por Marilise Gomes | Beleza & Estilo
Ama escrever sobre beleza, estilo, TV e astrologia. Curiosa, sabe que a autenticidade é segredo para o melhor look do dia.
No mês da Mulher, o Purepeople conversa com diferentes mulheres que decidiram se despedir do cabelo por diversos motivos e, como aspecto em comum, relatam ter ganhado mais liberdade e poder sobre o seu visual. Afinal de contas, um corte de cabelo também transmite seu estilo, sua atitude e sua visão de mundo - além de não ter relação com feminilidade. Confira mais a seguir!
Visual careca cresce entre mulheres e prova que feminilidade e cabelo longo não são sinônimos: confira na matéria do Purepeople
Yasmin Victória, do Rio de Janeiro, raspou o cabelo depois de uma tia ter câncer e decidiu manter a careca
'Não é cabelo de menino ou de menina, é de todo mundo', diz Yasmin ao Purepeople
Joyce Kelly Salvador, de 25 anos, raspou o cabelo após a filha, Ágatha, passar por um episódio de racismo
Jade Brito, de 27 anos, conta que recebe olhares esquisitos por conta dos fios: 'Entrar no ônibus é sempre um causo'
Jade tinha cabelo cacheado e notava que os elogios eram sempre relacionados aos fios
'Me sinto mais mulher depois que raspei o cabelo', conta Jade ao Purepeople
Vyk Barbosa, estudante de jornalismo, raspou o cabelo para desafiar sua beleza
'Não só me sinto mais livre como também ultrapassando minhas expectativas na questão de segurança como mulher, quebrando aquele tabu de 'o cabelo é a moldura do rosto'', conta Vyk
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Mais do que uma parte do visual, cabelo é um modo de expressar sua atitude, seu humor e seu estilo. E, no cenário atual, com o feminismo cada vez mais em voga, mais mulheres tem apostado no cabelo raspado, por diferentes motivos. Como no Purepeople acreditamos que quem faz seu estilo é você, conversamos com diferentes mulheres que deixaram de lado a cabeleira para curtir um visual mais fresquinho e não menos poderoso.

'Moldura do rosto tem sido meus brincos nada pequenos'

A estudante de jornalismo Vyk Barbosa decidiu raspar o cabelo durante uma viagem a São Paulo. "Queria provar pra mim mesma que sou bonita até sem cabelo, me desafiar!", explica a jovem, que viu sua liberdade aumentar com o novo visual. "Não só me sinto mais livre como também ultrapassando minhas expectativas na questão de segurança como mulher, quebrando aquele tabu de 'o cabelo é a moldura do rosto'. No momento, a moldura do meu rosto tem sido meus brincos nada pequenos que uso", garante, aos risos. E ela conta ainda que o curtíssimo precisa, sim, de cuidados, principalmente com o sol. "Corto uma vez por mês e passei a usar mais protetor como abuso de chapéu e boné", explica.

Vyk Barbosa platinou os fios depois de raspá-los © Arquivo Pessoal
'Me sinto mais mulher depois que raspei o cabelo'

Moradora de Niterói, a consultora pedagógica e estudante de psicologia Jade Brito, de 27 anos, decidiu raspar depois de uma conversa entre amigos sobre estereótipos e feminismo no fim do ano passado. "Eu era cacheada, então os elogios eram sempre relacionados ao meu cabelo. Quando eu decidi raspar, um amigo meu disse: 'Jade, você sabe que vai ficar mais masculina, né?' Nesse sentido, eu me senti mais livre por estar quebrando um padrão que não nos pertence. O que é ser mulher, afinal? É ter cabelo? É ter peito? Não ter pêlos no corpo? Comecei a questionar muito isso e só por isso já é muito libertador. Eu me sinto muito mais mulher depois que raspei meu cabelo", diz ela. Desde então, Jade se depara com situações que antes não faziam parte de seu cotidiano. "Entrar no ônibus é sempre um causo: sempre tem um olhar de estranhamento ou de admiração. E encontrar com idosos em elevador, em qualquer lugar assim: eles sempre ficam assustados. Por mais engraçado que isso seja, a careca me passa um poder tão grande que eu não tô ligando para esse olhar", pondera.

Jade Brito raspou o cabelo e se considera mais feminina com o novo corte © Arquivo Pessoal
'Já ouvi: estava na cadeia?'

Joyce Kelly Salvador, de 25 anos, adotou sua careca depois de ver a filha, Ágatha, sofrer um episódio de racismo com apenas 1 ano e 8 meses, há quatro na creche ("Quando eu fui pentear os cabelos dela, ela disse: não, mamãe meu cabelo é 'dulo'"), desde então eu comecei a pesquisar sobre o Movimento Negro e me identifiquei com tudo ali", conta a moradora de Duque de Caxias, relatando que, inicialmente, escolheu um cabelo curto e, depois, raspou os fios. "Fui em diversos salões do meu bairro com a intenção de raspar a cabeça, depois de algumas recusas... sim, as pessoas se recusam a raspar a cabeça de mulheres, eu finalmente consegui. Me lembro até hoje a sensação maravilhosa dá máquina passando na minha cabeça pela primeira vez, eu saí do salão com lágrimas de felicidade nos olhos. Nunca me senti tão eu, tão livre", lembra. E se a reação da menina com o novo visual da mãe foi maravilhosa, a de conhecidos e vizinhos foi o oposto: "Eu já ouvi tanta coisa, você não faz ideia... 'Você estava na cadeia?', 'Vacilou na favela?', 'Deitou pro santo?', 'Pegou piolho?'...". Por conta de sua vivência, criou um grupo no Facebook em 2016, o "Relatos das Carecas", que hoje já tem mais de 2 mil mulheres. "Foi mais uma forma de encontrar meninas que já estavam carecas e precisava de um apoio, pois muitas perdiam namorado ou emprego depois de raspar, e achar pessoas que queriam raspar mas não tinham coragem pra isso. Só que começou a aparecer muitas mulheres que ficaram carecas por motivos de doença e acabavam se sentindo abraçadas, já teve caso de cura mesmo assim elas continuarem raspando a cabeça", diz.

Agatha, filha de Joyce, motivou a jovem a mudar o visual © Divulgação, Lucas Santos
'Não é cabelo de menino ou de menina, é de todo mundo'

A produtora cultural Yasmin Victória passava pelo processo de transição capilar quando decidiu se livrar do cabelo longo, mas só tomou a decisão, de fato, ao viver um caso de doença na família. "Meu marido na época não era a favor, então isso era uma questão dentro de casa até que minha tia descobriu um câncer. Ela era uma pessoa muito importante para mim e um dia ela me ligou chorando muito falando que iria raspar a cabeça. Eu decidi acompanhá-la porque era o que faltava para que essa decisão se concretizasse. A ideia inicial era deixar crescer, mas já faz dois anos e dois meses e decidi manter", afirma a carioca, que viu uma nova mulher surgir: "Mudei meus looks, antes eu não conseguia usar determinadas roupas e agora elas funcionam, adotei mais tatuagens...". Yasmin conta ainda que já foi questionada por crianças, mas explica com naturalidade sua escolha, desassociando aparência a questões de gênero: "Eu acredito que o cabelo é um acessório, para desmistificar isso que mulher tem que ter cabelão, porque acho que isso ainda é um tabu. Alguns meninos e meninas estranham, mas eu falo: 'não é cabelo de menino ou menina, é cabelo de todo mundo'".

Yasmin Victória raspou o cabelo após a tia ter câncer e quis manter o visual © Arquvo Pessoal
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