Mais do que uma data comemorativa, o dia 08 de março é uma ocasião para relembrar o poder da mulher na sociedade e também de luta para alcançar novos espaços. Graças ao engajamento dos internautas nas redes sociais e a ascensão dos movimentos sociais, expressões como feminismo, empoderamento, sororidade e equidade estão em alta, mas ainda há dúvidas sobre o real significado dessas palavras e implicações. Para esclarecer, o Purepeople conversou com a professora Maíse Zucco, do curso de Gênero e Diversidade da Universidade Federal da Bahia, que explica a definição de cada conceito.
Assunto comum nos discursos de Angelina Jolie, o feminismo é uma pauta recorrente no mundo feminino, mas há algumas confusões sobre o seu significado. Maíse define a expressão como: " Um movimento que reivindica os direitos das mulheres e que visa a equidade entre homens e mulheres. Quando se fala em feminismo, há um fenômeno que se chama ondas feministas, em que a cada época, a luta pela conquista de uma pauta diferente ganha evidência. No início do século 20 foi o direito ao voto, já nos anos 60, era o direito ao corpo. Atualmente se fala muito da igualdade salarial, mas essa e outras temáticas são debatidas desde o início do movimento e ainda são questões com grandes disparidades. O que une as diversas vertentes do movimento feminista é a luta pela equidade de gênero sem que isso promova outras formas de opressão. Por isso, os feminismos precisam ser lidos no plural, compreendendo as diversas correntes e perspectivas".
A professora ainda esclarece que um dos principais objetivos do movimento feminista é a equidade de gênero, não a igualdade e explica a diferença entre as duas palavras. "Falar que se deseja igualdade é complicado porque o significado de igualdade é conflituoso já que as pessoas são diferentes. Já a equidade é defendida pelos movimentos feministas porque reconhece as diferenças entre as pessoas, entre mulheres e homens, entre as próprias mulheres, mas considera que essas diferenças não podem ser argumentos para desigualdades sociais. Ou seja, o fato de sermos diferentes não pode justificar que tenhamos acessos distintos à educação, à saúde, à justiça ou tenhamos salários distintos, por exemplo.
Palavra que gera algumas controvérsias na web, a sororidade também foi um termo lembrado pela convidada. "É uma expressão designada para narrar a cumplicidade, empatia e apoio mútuo entre as mulheres. O que se busca é uma cooperação em torno de um bem comum. A palavra vem da noção de irmandade entre as mulheres sem nenhum clima de disputa. Uma série de práticas dos movimentos feministas propagavam a ideia de sororidade, como é o caso dos Grupos de Consciência, onde várias mulheres se uniam e compartilhavam experiências sobre como lidar com a menstruação, as mudanças no corpo e reconhecer o seu poder e lugar de fala na sociedade. Apesar de estar em evidência atualmente, há textos da década de 60 que já usavam a palavra sororidade".
Assunto importantíssimo ao ponto de Ana Paula Padrão criar um curso para empoderar mulheres, a professora explica a importância do empoderamento feminino: "É entendido como uma série de atitudes que levam a uma valorização e autorreconhecimento do 'ser mulher'. O empoderamento não é concedido, mas passa pela autoconsciência das pessoas e ganha voz através da atuação de vários grupos como na Marcha do Empoderamento Crespo ou na reafirmação do orgulho LGBTTQI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Travestis, Queer e Intersexo)".
(Por Helena Marques)