Su Tonani negou ter tido affair com José Mayer. O desabafo da figurinista foi publicado no blog "Agora é Que São Elas", do jornal "Folha de S.Paulo", nesta sexta-feira (5). "Não, eu não fui amante de José Mayer . Declaro que não fiz acordo com nenhuma parte envolvida e muito menos recebi algum dinheiro. Não fui demitida da Rede Globo. O meu contrato, como o previsto, se encerrou com o final da novela ('A Lei do Amor'), iniciou Susllem Meneguzzi Tonani.
Em seguida, a profissional lembrou quando faltou à intimação para depor contra o ator - ela teria questionado inspetor da polícia se precisava mesmo comparecer à delegacia. "Declaro que não retirei queixa contra José Mayer pelo simples fato de que nunca a fiz. "Eu fui vítima de assédio sexual. E agora estou sendo vítima novamente. Das especulações que colocam dúvidas sobre a minha dor. E me fazem revivê-la", escreveu. "Em 31 março de 2017, depois de oito meses sendo assediada pelo ator José Mayer, depois de ter levado minha denúncia de assédio às instâncias de poder ao meu alcance e não ter encontrado justiça, depois de ver o medo dos colegas de testemunhar o que viram, sentindo que não tinha mais a quem recorrer, decidi. Sem nenhum outro recurso à minha disposição, optei por tornar pública minha denúncia no blog feminista 'Agora É Que São Elas'. Um espaço que me acolheria", explicou.
Apoiada por várias celebridades que encabeçaram o movimento "Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas", a figurinista questionou: "Não pensem que foi uma decisão trivial. Ela foi recheada de medo. Sabe por que dá tanto medo de delatar um abuso?". "Porque nossa cultura machista culpa a mulher, a vítima, pela violência vivenciada. É isso que corre as redes. É o que passa pelo boca a boca. (...) . A história da mulher sedutora, agora passional e vingativa. Da mulher que mereceu. Da amante rejeitada", afirmou. "Essa é a história que o mundo machista gosta de contar. E que nos acostumamos a aceitar como versão mais plausível. (...). Me sinto vítima novamente", acrescentou.
Na sequência, Su Tonani, apoiada também pela Globo após a denúncia vir à tona, reforçou. "Tenham certeza: estou sendo revitimizada pelo machismo que tenta me enfraquecer, me roubar a coragem de lutar. Mas cada vez que o conteúdo que questiona minhas razões é compartilhado, não sou só eu que estou sendo subjugada. Toda vítima está sendo coagida. Reprimida. Oprimida", disparou. "Dentre as intimações que recebi do delegado havia a informação de que eu estaria cometendo crime de desobediência por não depor. Como se neste tipo de crime a decisão de abrir um inquérito é exclusiva da vitima? Se eu assim quisesse, o ideal não seria uma delegadA? Temos as delegacias de atendimento às mulheres para isso, não?!", questionou. "Me sinto interrogada inescrupulosamente. Mesmo sem prestar queixa nenhuma. Quantas vezes terei de pedir para respeitarem o meu não? E quantas não se identificarão tristemente e optarão pelo silêncio ao ver o escrutínio sob o qual me vejo agora?", perguntou.
Para ela, o caso se encerrou quando o ator foi cortado de futuras produções e confessou ter abusado dela. "Sinto que a minha história teve começo, meio e fim. Terminou na terça à noite, 04 de abril de 2017, com um pedido de desculpa da Rede Globo e uma carta de confissão do José Mayer, ambos lidos no 'Jornal Nacional'. Senti que tive a justiça que desejava. Pouco creio que a punição criminal para o meu caso tenha alcance maior que já tivemos. Mais potência. Seja mais transformadora", justificou. "A clara sensação que tive após a publicação do meu relato, genuinamente acolhido pelas feministas foi: a minha coragem trouxe vida às memórias de abusos enterrados pelas mulheres no fundo do que são. (...) Foi como se meu grito tivesse acordado a dor de outras. (...) Isso empodera. Mas assusta", disse. "Meu objetivo ao expor a minha historia foi sair da invisibilidade, romper o silenciamento imposto, transcender este lugar de vítima que me era insuportável. Sou apenas uma profissional, que cansada de ser desrespeitada, lutou pelo que acredita. Por que incomodou tanto o meu silêncio pós-relato? Talvez porque eu não tenha cumprido o papel da oportunista exibicionista que o patriarcado esperava. Talvez porque não tenha sido a liderança, o exemplo que queriam que eu fosse. Desculpe desapontar estas e estes", completou.
Por fim, Su Tonani fez um pedido. "O silêncio. É o que eu quero. Não o silenciamento coercitivo. O silêncio que eu escolho. A minha vida de volta. (...). A minha história é a história de uma mulher jovem que não aceitou o assédio de um homem com mais poder que ela. Neste caso, o ator rico e famoso. O Brasil não está acostumado a lidar com este tipo de história. Eu sei. Homens descobriram que o mundo mudou. Falamos de assédio em espaços de poder antes impermeáveis a este debate. Me orgulho de ter contribuído como pude para isso. E agora quero seguir. Reservo a mim o direito de encerrar esse assunto. Chego ao final da minha jornada. Estou no limite da minha capacidade emocional de seguir na linha de frente dessa luta. Peço que respeitem os meus limites, violados anteriormente, quando tudo isso começou. Outras podem assumir a frente dessa luta. E eu me comprometo a sempre apoiá-las, assim como fui apoiada por tantas", finalizou.
(Por Guilherme Guidorizzi)