Su Tonani causou uma transformação na Globo ao expor o assédio sexual sofrido por José Mayer no trabalho. A partir da denúncia, a emissora adotou um novo manual de conduta para evitar novos casos de abuso. Durante participação na palestra Mulher no Trabalho, realizada na OAB-RJ, a figurinista disse que as empresas ainda não sabem lidar com o assunto: "Vivi uma história de assédio que foi para a mídia, que foi uma forma que eu quis lutar a favor de mim mesma depois de ter ido a várias instâncias dentro de uma empresa. Porque infelizmente as empresas não estão preparadas para lidar com o assédio. Não existe um protocolo. Existe para um acidente de trabalho, para assédio, não. Tudo isso vai dificultando o seu trabalho, a sua forma de lidar com aquela empresa. Infelizmente as empresas não estão prontas".
Apesar de não ter formalizado a denúncia contra o ator, Tonani destacou que é importante denunciar os casos: "Esse lugar de falar exaustivamente que vai mudar isso. Fazer deixar e ser piada é brincadeira. É brincadeira para quem? Um cara sabe o que ele está fazendo quando elogia sua bunda, quando ele fala do seu decote. Temos que ter voz e denunciar, não importa como. Cada um tem que ligar com a sua realidade não importa quem seja: seu pai, seu tio, seu chefe. Precisamos ter consciência do nosso corpo, do nosso lugar e lutar por nós mesmas". A figurinista disse que a sororidade foi importante após a denúncia: "Que a nossa união dê força à essas mulheres que estão passando por tudo isso porque eu fui muito abraçada. E que bom que hoje estou aqui para dizer: vamos nos unir. Hoje existem placas em sets de filmagem que se lê: 'Aqui não é lugar de assédio'. Temos que tirar o tema da marginalidade porque ele acontece. Quando você trata desse assunto em um lugar menor fica parecendo que a vítima é que tem que se esconder e não. A culpa está no assediador".
A denúncia de assédio criou uma mobilização entre atrizes. Porém, algumas chegaram a reprovar a atitude de Tonani. Para a figurinista, as críticas são baseadas em falta de compreensão: "Para as mulheres que não apoiaram é que elas tenham tempo para olhar o mundo de outra forma. As coisas estão mudando. E que não é piada. Tem mulheres que não entendem o que outras mulheres estão falando. Espero que elas tenham tempo para observar e mudar a posição delas com relação ao social, ao mundo e aos casos de assédio".
Tonani assumiu que não foi fácil tornar público o abuso sofrido. Porém, a figurinista destacou a importância de denunciar: "É doloroso. É difícil tomar essa decisão, mas é pior ser invisível. É pior sofrer o assédio. É melhor lutar por si do que continuar passando por isso. Sei que é difícil tomar essa decisão, mas por experiência própria é melhor tirar e você, sair desse lugar de vítima, falar. Não sei qual é a realidade dessas mulheres, mas entende-la e entender o que se pode fazer é muito melhor do que se sentir invisível e abusada". Segundo a profissional, a defensoria pública foi bastante receptiva: "Eles me atenderam muito bem, me ouviram, me acalmaram e esse é um lugar que todas nós temos direito. Todas nós podemos direito e podemos procurar. Espero que todas tenham força".
(Com apuração de Patrick Monteiro e texto por Tatiana Mariano)