O uso de remédios para emagrecer de modo não-regulamentado ou orientado por profissionais sem especialização pode causar danos graves e até causar risco de morte. O debate veio à tona também por conta da morte da cantora Paulinha Abelha na quarta-feira (24).
A artista do Calcinha Preta foi internada com problemas renais e uma das suspeitas não descartadas pelos médicos que cuidaram do caso era a relação de remédios para emagrecer com o mau funcionamento dos rins.
O nefrologista Dr. Marcelo Pinheiro Marçal conta, ao Purepeople, mais detalhes do impacto dessa medicação na saúde quando usados de forma irregular e sem orientação médica. "Os medicamentos para emagrecer se dividem em várias diferentes classes, cada qual apresentando diferentes tipos de efeitos colaterais. O uso inadequado pode levar a problemas cardíacos, neurológicos, intestinais, pancreáticos e tantos outros a depender do tipo de droga utilizada, da dose e de suas associações", inicia.
"A rigor, os medicamentos legalizados, com uso aprovado para o controle da obesidade, não constam na lista dos medicamentos com potenciais de agressão renal, os chamados 'medicamentos nefrotóxicos'. Isso não quer dizer, que tratamentos para emagrecer sejam inofensivos, ou que não possam comprometer o funcionamento renal", alerta o gestor em saúde e autor do livro "ICTUS: O prisioneiro sem nome".
Um ponto importante ressaltado pelo médico é que o emagrecimento deve ser fruto de uma mudança de hábitos alimentares e físicos. "O maior problema reside nas chamadas fórmulas milagrosas de emagrecimento', onde uma combinação de drogas, que isoladamente poderiam ser consideradas pouco agressivas, se tornam extremamente perigosas quando associadas", conta.
"Além disso, "a diferença entre o remédio e o veneno é a dose" e, na busca por resultados rápidos, muitas vezes as dosagens desses medicamentos são negligenciadas, de forma irresponsável", aponta Dr. Marcelo.
Um dos termos apontados por especialistas que cuidaram do caso da artista foi a possível "intoxicação medicamentosa". Segundo o nefrologista entrevistado pelo Purepeople, a automedicação é o maior fator de risco.
"Assim como o uso de qualquer outro tipo de medicamento, devemos ficar atentos aos seus efeitos colaterais. Mais comumente, efeitos colaterais como náuseas, vômitos, pressão alta, dor de cabeça, irritabilidade, poderão ser percebidos e o médico que acompanha o caso deverá ser comunicado. É importante ressaltar, que o maior risco relacionado a esse tipo de tratamento, é a automedicação, que deve ser evitada a qualquer custo", afirma.
Outro ponto de alerta segundo o médico é a falsa correlação entre produtos de origem natural, com ervas e plantas, a algo inofensivo. "Existe um entendimento por parte da sociedade de que tudo que é natural é bom para a saúde. Com relação aos medicamentos naturais ou fitoterápicos, a venda amplamente difundida nos mais diversos estabelecimentos e a falta da necessidade de prescrições médicas ou qualquer tipo de controle, transmite, ainda mais, uma sensação de segurança no uso desse tipo de substância", sinaliza.
"Como estamos falando de problemas renais e para citar exemplos, há relatos de lesão renal relacionadas ao uso de ervas tradicionais chinesas, usadas em tratamentos de emagrecimento, cujo desfecho foi a hemodiálise. Na África, as lesões renais agudas relacionadas ao uso de fitoterápicos, representam em torno de 30% a 35% de todos os casos de lesão renal aguda do continente", afirma o nefrologista.
Ainda segundo Dr. Marcelo Pinheiro Marçal, a busca pelo corpo perfeito e a exposição constante de resultados surpreendentes que invadem as redes sociais todos os dias criaram "um comércio voltado a resultados rápidos e sem qualquer tipo de evidência".
"É possível adquirir medicamentos sem procedência, fórmulas milagrosas e dietas que prometem perda de peso rápida e sem esforço. Qualquer um pode se intitular um 'especialista' e lucrar com isso. Por outro lado, a procura por um profissional sério e capacitado, sempre será mais trabalhosa. Quem quer perder peso deseja resultados imediatos, com esforços mínimos: talvez esse seja o maior de todos os problemas; em se tratando do controle da obesidade, não existe milagre", finaliza.