Em "Lado a Lado", Sandra (Priscila Sol) é uma jovem que esconde um segredo: seu irmão recém-nascido é, na verdade, seu filho. Para disfarçar a gravidez, ela contou com a ajuda de Teresa (Susana Ribeiro), sua mãe, que assumiu a condição de gestante em seu lugar. As duas passaram uma temporada fora da cidade e voltaram depois que o bebê nasceu. Atualmente, a moça vive o dilema de não poder sequer amamentar a criança, pois ser mãe solteira no início do século passado era um escândalo capaz de acabar com a reputação de qualquer mulher.
Para quem não se lembra, Priscila Sol teve seu primeiro papel de destaque na TV em 2009, quando viveu a estagiária Paixão na novela "Viver a Vida", na Globo. Fora da ficção, a atriz é mãe dedicada de Vitor, de 9 anos. Em entrevista exclusiva ao Purepeople, Priscila falou sobre os desafios da personagem, sobre maternidade e, claro, preconceito. Não perca!
Purepeople: A Sandra, assim como outras mulheres da trama, é uma moça à frente de seu tempo. Você acha que hoje em dia ainda há espaço para existirem mulheres assim, mesmo depois de tantas conquistas?
Priscila Sol: Depende muito do lugar, da região do país e do mundo. Nos países árabes e de religião muçulmana, por exemplo, as mulheres enfrentam muito preconceito ainda. São podadas, não podem viver com essa liberdade que temos no Brasil. E novos alvos acabam surgindo. Quando eu era mais nova, sofria isso por ser filha de pais separados. Hoje em dia, meu filho estuda na mesma escola em que eu estudava, uma instituição católica. E uma amiguinha dele, que é filha de casal homossexual, enfrenta esse tipo de discriminação. Daqui a uns cinco anos isso vai ser normal.
O fato de ser mãe ajuda você a viver o drama da Sandra com mais veracidade?
Com certeza, ser mãe ajuda em tudo, não só na profissão. Dá uma bagagem emocional e estofo para alcançar lugares. Mas minha experiência é diferente, uma outra situação. Não consigo transpor o amor que eu tenho pelo meu filho para a personagem. Até porque a Sandra vive um dilema pelo qual eu não passei. Sempre me emocionei com o Vitor por alegria, e não por não poder assumir ser sua mãe. É óbvio que a maturidade emocional é maior do que a da pessoa que não tem filhos. Porém, conheço muitas mulheres que tem uma maturidade enorme mesmo não sendo mãe ainda.
Você já foi vítima de algum tipo de preconceito por ser mulher ou mãe? No trabalho ou em algum outro lugar?
Devo ter sofrido, mas procuro nem enxergar. Às vezes acho que a gente pira, se boicota. Acha que, por algum motivo, as coisas não acontecem e usa isso como desculpa. Um exemplo é pensar: 'Comecei na TV agora, talvez eu tenha dificuldade por ser novata'. O ser humano cria muito, fantasia demais. Pode ser que nem sofra aquele preconceito na realidade e seja uma questão que está dentro de si mesmo.
Como você vê a omissão de Sandra? Concorda com a escolha dela?
Essa personagem é muito difícil, um desafio. A Sandra não é tão corajosa quanto a Laura (Marjorie Estiano), apesar de ter uma família mais tranquila, com uma mãe que trabalha fora. Teresa a ouve muito, ela poderia ter um pouco mais de coragem. Se fosse eu, já ia chegar falando que o filho é meu, mesmo naquela época. De forma alguma conseguiria esconder que era meu esse filho. Se fosse a Laura iria assumir também e a professora serve de espelho para a amiga. Daqui para a frente as duas vão estreitar ainda mais o laço de amizade que as une, talvez isso seja uma boa influência para a Sandra nesse sentido.
E esse flerte que a Sandra começou com Teodoro (Daniel Dalcin)? Você acha que vai render um romance?
Não sei, a princípio ela só se interessou. Está passando por um problema, mas é espontânea e verdadeira, não se prende. Sandra é uma moça bem à frente do seu tempo, de fato, e está passando por um momento ruim. Mesmo assim, ela se permite viver algumas coisas. Vamos ver o que acontece.
(Por Samyta Nunes)