Apesar de ser também uma trama de época, a novela "Tempo de Amar" vem na via inversa de sua predecessora, "Novo Mundo", que trouxe muita ação e aventura, do início ao fim. Mais romântica e no estilo folhetinesco, a obra inspirada em uma história de Rubem Fonseca e escrita por Alcides Nogueira apresentou um primeiro capítulo poético e contemplativo, que impressionou pela beleza da fotografia e teve dois bons ganchos: o primeiro beijo dos mocinhos e a ameaça de assassinato do vilão.
O romance de Maria Vitória e Inácio começa com a mágica do amor que nasce à primeira vista logo na cena inicial, durante uma procissão. Os protagonistas Vitória Strada e Bruno Cabrerizo, ambos estrantes, apresentaram a prometida boa química - que já era visível nas chamadas -, e que pôde ser comprovada no primeiro beijo do casal. Além da responsabilidade do protagonismo, os dois também contracenam com os veteranos Tony Ramos e Nívea Maria, respectivamente, o que pode aumentar o nervosismo, mas estão muito afinados e sustentaram bem a estreia.
Embora se divida entre Portugal e o Brasil, "Tempo de Amar" não faz diferenciação de sotaques, mas se mantém fiel à fala datada, marcada com as características da época. Tanto uma como outra escolha causa um certo estranhamento, a princípio, mas à medida que vai-se mergulhando na história, o ouvido acostuma. Nas cenas do Rio de Janeiro, Regina Duarte foi um dos pontos altos, com sua performance como Madame Lucerne, e - aí sim -, o leve sotaque francês. Cabaré é sempre a animado e a quebra do ritmo mais suave para a música entusiasmante da casa noturna deu dinamismo às cenas.
Talvez por terem já de início mais conflitos, os vilões acabaram sendo o grande destaque da estreia. EspecialmenteAndreia Horta , que apareceu em uma única cena da reclusa Lucinda, o suficiente para mostrar seu grande talento. A personagem tem nuances e aponta para um caminho muito interessante na trama. A dissimulada Delfina de Leticia Sabatella é daqueles papeis em que a atriz pode deitar e rolar: vai desde a submissão à relação abusiva imposta pelo patrão, até os momentos de "sonsiane" com Maria Vitória, com toda a maestria e sutileza do trabalho da atriz. Para fechar o trio, Jayme Matarazzo surge agarrando a oportunidade de mostrar, com Fernão, que também pode ser mau. Centrado, ele estava intenso em cena, principalmente na última, que prendeu o espectador na arma apontada para Inácio. Veja o perfil dos personagens no nosso quem é quem!
(Por Samyta Nunes)