Osmar Prado não pára. A minissérie "Amores Roubados" não acabou não faz nem três meses e o ator já está de volta à televisão em um novo trabalho. Desta vez, ele viverá o temido coronel Epaminondas, mais conhecido como Epa, na nova versão de "Meu Pedacinho de Chão", próxima novela das seis da Globo.
Na história, o personagem é pai de Ferdinando (Johnny Massaro), fruto de seu primeiro casamento, e da graciosa Pituca (Geytsa Garcia), de sua união com Madame Catarina (Juliana Paes). Mas o grande vilão da história – embora Osmar rejeite esse adjetivo – também terá seus momentos de docilidade e cantará no folhetim com tons de fábula.
O canto chama a atenção porque há menos de 1 ano o ator lutou contra um câncer na amídala. Bom de papo, em entrevista ao Purepeople, Osmar relembra a doença, fala sobre o beijo gay e até de Copa do Mundo. "Você jamais me verá no estádio", dispara. Confira a conversa:
Purepeople: Você se sente mais à vontade atuando em uma novela com temática rural?
Osmar Prado: Eu me sinto bem onde tiver uma trama com conflitos humanos. Seja no campo ou na cidade. Em 1993, por exemplo, interpretei Adolf Hitler e ganhei o prêmio de melhor ator de teatro por esse papel. No mesmo dia, fui premiado como melhor ator coadjuvante de TV por Tião Galinha, da novela "Renascer". É de zero a cem em menos de três segundos, meu amigo. Onde houver ser humano, lá estarei. Seja ele qual for.
Purepeople: Mas na hora de viver o conflito humano, é melhor viver aquele que sofre ou que faz os outros sofrer?
OP: Não crio meus personagens por rótulos. Vou desde o nascedouro deles. Fui buscar, por exemplo, toda a trajetória da infância de Hitler para compor esse personagem. Quis entender por que ele chegou àquele posto e por que 70 milhões o apoiaram. Quem era esse cara que falava e as pessoas paravam para ouvir?
Purepeople: Tem vontade de interpretar outro grande nome da política?
OP: Não tenho preferência por nomes. Já fiz Getúlio Vargas no cinema e no teatro, mas não pedi para fazer. Não raciocino por esse tipo de ótica. Sou intérprete, o que vier, eu faço.
Purepeople: Li que, em "Meu Pedacinho de Chão", você vai cantar em cena. Isso é verdade?
OP: Não posso falar muito sobre isso, mas vai ter uma música, sim. Mas essa não será minha primeira vez. Já cantei em teatro e na TV. Não tenho pretensão de seguir carreira de cantor, mas posso ser considerado um ator que canta. Estudo e faço técnica vocal há muitos anos.
Purepeople: O câncer que você teve na região da garganta recentemente afetou de alguma forma a técnica vocal?
OP: Muita gente confunde isso. Ele não atingiu a garganta. O câncer foi na amídala, ou seja, não atingiu o aparelho fonador. O tumor foi de três centímetros na lateral do pescoço. Depois de duas cirurgias, 30 sessões de radioterapia e três sessões de quimioterapia, eu iniciei o trabalho de preparação para "Meu Pedacinho de Chão". Qual a conclusão você tira disso? Se você detecta o tumor logo cedo, não tem nenhum mistério para ser curado.
Purepeople: Muitas pessoas que vencem uma luta contra o câncer dizem que saem com outra visão da vida. Isso aconteceu com você?
OP: Não saí com visão nenhuma. Saí reforçado e com vontade de viver. Tenho um acordo com Deus. Eu não o incomodo, mas ele também não me abandona. Eu não peço nada para ele. Sabe por quê? Sei que, se eu fizer por merecer, ele não vai me abandonar. Não tenho que encher o saco dele. Tenho que deixá-lo em paz. As pessoas enchem muito o saco de Deus. Não faço isso.
Purepeople: Mas você agradece quando recebe algo?
OP: Por quê? Eu não pedi nada! Não preciso agradecer porque ele não precisa de agradecimento. Ele não está preocupado com isso.
Purepeople: Voltando ao assunto dos conflitos humanos, o beijo gay entre homens em novela finalmente aconteceu. Acha que demorou muito?
OP: Ele já havia acontecido na novela "América" e foi censurado. Agora foi de verdade. As pessoas têm uma só obrigação: serem felizes. Toda forma de amor vale a pena. O que não pode é haver preconceito. Mas acho, sim, que somos atrasados há séculos, né? A reforma agrária, por exemplo, no meu entender, está 500 anos atrasada. Temos tudo atrasado. Você acha o Brasil tem condições de fazer Copa do Mundo? Claro que não. Até porque os caras vêm para arrancar dinheiro nosso. Essa Copa é para o povo? Não é.
Purepeople: Mas você vai assistir a algum jogo?
OP: Claro que não! (Pára e pensa) Bem, só na televisão, de graça. E, mesmo assim, de vez em quando.
Purepeople: Não quer ir ao estádio? Nem se tiver convite?
OP: (Explosivo) Jamais! Você jamais me verá no estádio. Se você me encontrar no estádio, pode me denunciar.
(Por Anderson Dezan)