O poeta Antonio Cicero morreu nesta quarta-feira (23), aos 79 anos. Segundo informações da Academia Brasileira de Letras (ABL), ele viajou para a Suíça acompanhado do marido para realizar eutanásia; o ato é permitido no país. Em uma carta direcionada aos amigos íntimos, o imortal destacou os efeitos do Alzheimer em sua vida.
"O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem", escreveu Antonio.
Considerado uma das principais referências da literatura brasileira contemporânea, Antonio teve um grande e bem-sucedido flerte com a música. Irmão da cantora Marina Lima, ele é autor de grandes sucessos da carreira dela, como "Pra Começar", "À Francesa" e o megahit "Fullgás". O artista também compôs "O Último Romântico", de Lulu Santos.
Nas redes sociais, Marina lamentou a morte do irmão com uma postagem discreta, contendo apenas o ano de nascimento e falecimento de Antonio. Ela ganhou o carinho de diversos famosos. "Cícero se retira desta dimensão com toda dignidade possível", publicou Roberto de Carvalho. "Sinto muitíssimo. Sempre tive uma enorme admiração e carinho imenso por seu irmão", declarou Regina Casé. "Marina querida, receba meu abraço e afeto fortes", disse Ivete Sangalo.
Cicero ocupava a cadeira número 27 e foi eleito imortal da ABL em agosto de 2017. Entre suas obras mais famosas, estão os livros "O Mundo Desde o Fim" e "Guardar", cujo poema homônimo aparece na coletânea "Os cem melhores poemas brasileiros do século".
Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem. Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo. Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas - senão a coisa - mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!