Fernanda Montenegro estrela a próxima minissérie da Globo "Doce de Mãe", que vai exibir o primeiro capítulo nesta quinta-feira (30). Na trama, ela é dona Picucha, a personagem que deu à Fernanda o prêmio de melhor atriz no Emmy Internacional em 2013.
A veterana que completou 84 anos no mesmo ano nem pensa em aposentadoria. Em entrevista ao jornal "Extra" desta quarta-feira (29), ela falou sobre a paixão pelo trabalho e respondeu a quem acha uma "loucura" o seu retorno às gravações.
"Não me acho maluca, mas é preciso arrumar um lugar para mim, na minha idade, com essa disposição de trabalho que tenho. Todo mundo acha meio doido, mas não é verdade. Conheço muita gente de idade, absolutamente atuante, produzindo, mas fica essa coisa de que tem alguma loucura aí", comemora Fernanda a fase de plena produtividade na TV.
A atriz também fez questão de tentar desfazer o preconceito que gira em torno da melhor idade.
"Acho que existe uma ideia preconcebida do que é ser velho. Assim como se cria uma imagem da infância, da adolescência, do cinquentão... Se você vê uma pessoa de 85 anos se casando com uma de 90, acha um absurdo. Não é. Minha avó dizia que na terra dela, a Itália (ela nasceu em Bonacardo, na Sardenha), os velhinhos casavam muito. E eu perguntava: "Mas como?". E ela dizia: "Para se esquentarem no inverno". Nunca esqueci isso. Tudo que pudesse parecer maluquice, era só para se aquecer no inverno."
E ainda sobra muita disposição fora das telinhas. Fernanda curte fazer caminhadas leves em Ipanema, bairro da Zona Sul, onde mora no Rio, e se movimenta também no trabalho. "Aproveito o meu dia a dia normal de gravação para me exercitar como posso", conta.
'Um doce...'
No seriado "Doce de mãe" ela faz o papel de uma mãe cuidadosa, dedicada à vida dos filhos, que não mede esforço para vê-los plenamente felizes. Tudo isso com muito bom humor. E boa dose dele foi emprestado pela própria Fernanda.
"O humor da Picucha é o meu. Mas não sou uma alegrinha barata, aquela risonha e franca para qualquer coisa. Só que leva tempo tirar meu bom humor. Preciso encher bem o saco, mas, quando ele rompe, sai de perto", diz.
O desempenho que lhe um dos prêmios mais expressivos da dramarturgia internacinal foi celebrado por ela, que em sua opinião, é melhor até que o Oscar (premiação mundial de cinema).
"É um prêmio, de certa forma, com mais contundência internacional que o próprio Oscar. O Oscar é uma premiação do cinema americano, e eles dão a chance de um filme estrangeiro concorrer. Não é um prêmio de: 'vamos ver o que está acontecendo no mundo em matéria de atriz ou ator'. O Emmy é gente do mundo inteiro, que abrange todo tipo de expressão na televisão", analisa.
Mesmo com o número incontável de seus papéis feitos durante toda a carreira de atriz, Fernanda revela que dona Picucha é diferente porque ainda exige desafios.
"Eu trabalho no desconforto. Picucha podia ser uma mãezinha simpatiquinha, conformada com a sua boa senhora. Mas é uma mulher sagaz, que se empenha com filhos e vizinhos, sem ser chata", explica a atriz. E ainda completa: "Trabalhar no conforto é morrer".
"Doce de mãe" conta com a atuação de Louise Cardoso, Matheus Nachtergaele, Mariana Lima e Marco Ricca, que farão os filhos de Fernanda na trama.