A fábula de "Meu Pedacinho de Chão" chega ao capítulo 50, dos 100 que terá no total, nesta terça-feira (3). E, aproveitando a chegada do outono à Vila de Santa Fé, que vai trazer algumas delicadas alterações de luz e paisagismo à trama, o Purepeople conversou com a figurinista Thanara Schönardie e Raimundo Rodriguez, artista plástico, que contam detalhes do trabalho desenvolvido para criar a estética tão peculiar. Juliana Paes, Johnny Massaro e Irandhir Santos também cometam curiosidades dos bastidores da novela das seis.
Entre perucas, roupas com plástico e borracha, lentes de contato, bichos de mentira e armas de verdade, são muitos detalhes a serem descobertos por trás das câmeras do folhetim de Benedito Ruy Barbosa, que vem encantando o público. Em algumas cenas, a imagem aparece um tanto embaçada ao entorno da telinnha, o que é um recurso da direção, mas para Johnny Massaro, esse efeito tem sido o seu "normal" durante as gravações.
"Eu nunca tinha pensando em botar alguma coisa no meu olho na vida então pensei: 'nunca vou conseguir' (risos). Mas na verdade agora eu já coloco as lentes sozinho, mas como a gente grava muito na cidade cenográfica e é muito calor, as cenas nos exigem muito e na maioria das vezes eu não estou enxergando absolutamente nada, estou vendo tudo embaçado... Na maioria das vezes é esse o meu ponto de vista. (risos)", conta o intérprete de Ferdinando.
Já Zelão usa roupas de plástico, mas suas armas são reais. "De todos os personagens ele é o único que anda o tempo todo armado. É um elemento que remete diretamente ao poder e que está incrustado nessa figura. E o interessante também é que elas são verdadeiras. Tem esse jogo do equilíbrio, enquanto tudo nele é plástico ou borracha, as armas são de verdade", explica Irandhir Santos.
Juliana Paes fala sobre o figurino de Catarina: "Eu tenho uma peruca para cada dia, o que é muito divertido. Também é trabalhoso e cansativo, mas é gostoso (...) O figurino, apesar de ser muito bonito, é tão elaborado de uma maneira tão diferente... Para se ter uma ideia, nenhuma bijoux que eu uso é comprada inteira. Todos os brincos têm um pedacinho de plastiquinho colado ou um brilhinho de outro lugar... Todas as peças são feitas à mão. Não existe nada que a figurinista tenha comprado na loja, então não dá para levar para casa, é muito específico".
A atriz comenta sobre o jeitinho de falar dos habitantes da Vila de Santa Fé: "O trabalho de prosódia foi extenso, porque a gente fez uma coisa bem específica para a novela, criamos o nosso próprio dialeto. É difícil não levar isso para fora, o sotaque é sempre complicado na nossa vida fora da gravação". E brinca, falando como Catarina: "Nóis fala assim o tempo todo e fala errado, esquece as concordância (risos). Estamos tão envolvidos que começamos a pensar do jeito do personagem". Mas chegar a esse ponto não é nada fácil. "Tenho que pegar o texto e reescrever tudo que está escrito. A minha personagem me dá muito trabalho para escrever tudo de novo, do jeito que ela fala", revela.
Cenário
Raimundo Rodriguez é parceiro de Luiz Fernando Carvalho desde 2004, quando trabalhou com o diretor na minissérie "Hoje é dia de Maria". Em "Meu Pedacinho de Chão", já passaram pela equipe do artista mais de 100 pessoas, mas atualmente conta apenas com 5 operacionais e 4 assistentes, num trabalho que não acaba enquanto a novela está no ar.
"A cidade não fica pronta! (risos) Porque estamos sempre criando uma coisa nova. De quando começamos até o início das gravações foram quatro meses, mas o meu trabalho vai entrando simultaneamente, entregamos um prédio, depois outro e assim por diante. Não há muito tempo hábil. O palácio do Epa foi o que consumiu mais tempo e mais latas, fiquei preso nos detalhes, por isso comecei nele mais cedo também...", conta Raimundo.
Com a ajuda da equipe ele produziu grande parte do cenário de forma artesanal: "Todas as árvores são feitas. Já fiz mais de 20 e não dou conta de fazer o suficiente (risos), todos os dias me pedem mais três ou quatro árvores. O jardim é um outro trabalho à parte, porque foi todo feito à mão, algumas flores foram compradas, mas a maioria foi feita à mão. As mantas também foram tecidas artesanalmente com tela de galinheiro, tivemos que montar todas, de metro em metro. São quase 2 mil metros quadrados de jardim". E agora, com a chegada do outrono na trama, algumas alterações serão feitas: "Basicamente a estação será marcada pela mudança de luz, presença do vento e principalmente troca das folhas das árvores", comenta.
Ele também fala das inspirações: "É tudo feito com referências de artistas em geral, indo mais para o impressionismo. Por exemplo: a ponte da Vila é a do Van Gogh, que ele pintou inúmeras vezes. Nós escolhemos uma imagem de quando ele a pinta de amarelo, ou pinta de azul. E, assim como no impressionismo, nós não usamos preto. A cor é feita com azul, com verde escuro... Para dar sombra. O único que tem preto é o Epa".
Raimundo se dedicou pessoalmente à produção dos animais da trama: "Bicho é um capítulo à parte, porque ele precisa se movimentar, tem que funcionar, ser lúdico... Não pode virar uma coisa carnavalesca, uma caricatura. Tem que ter uma delicadeza muito grande (...) Os cavalos são todos mecanizados, com rodinhas e articulações na cabeça, nas patas e olhos também articulados. Tem também os que não se movimentam mas já estão parados em uma pose de movimento. Alguns a gente comprou de um artesão de São Paulo, outros fizemos aqui mesmo, eu vou fazendo na medida da necessidade. De repente chegou um momento, por exemplo, em que a gente viu que na cidade não tinha gato, aí fiz um monte de gatos! (risos)"
Figurino
Thanara Schönardie é responsável pelos figurinos da trama, que vêm sendo elogiados desde a estreia. À frente de uma equipe de 20 pessoas, ela conta que iniciou as pesquisas ainda e setembro de 2013, sete meses antes do primeiro capítulo da novela. "Começamos criando os tecidos, depois fizemos a pesquisa dos personagens e aí desenvolvemos a forma da roupa deles. Primeiro fizemos uma oficina de reciclagem de tecidos, com retalhos que a gente recebeu e tecidos descartáveis do acervo da TV Globo. Depois passamos para uma etapa de montagem desses materiais e a seguir a pesquisa histórica da época, que compreende do fim do século XVIII até o início do século XX", explica.
Mas o processo ainda teve uma segunda parte, como relata a figurinista: "Começamos a colocar a forma adequada aos personagens e ao conto de fadas. Então cada um virou um bonequinho. Alguns deles quase não mudam de roupa, é aquele mesmo 'guarda-roupinhas'. Nesses casos, a gente produz vários do mesmo modelo. E temos também a inserção dos materiais plásticos e sintéticos misturados com um acervo verdadeiro e original da época".
De todos os personagens, Thanara conta qual é o mais trabalhoso: "O figurino da Madame Catarina tem muito trabalho de confecção de alta costura na elaboração desses tecidos, então são restos e retalhos que vão ter que virar uma peça de luxo. E ela muda muito de roupa também, é a personagem que mais troca de roupa".
(Por Samyta Nunes)