Quando abre a porta e vê Virgílio, Luiza o abraça, mas logo percebe que não é uma visita amistosa. Assim que ele anuncia o motivo de sua presença, a discussão começa e vai se agravando, até que a jovem explode: "Não acredito que você veio na minha casa dizer tudo isso! Jogar na minha cara esse passado horroroso de vocês, como a mamãe faz sempre!". "Enquanto estava tudo aparentemente calmo, suportei. Dei meus conselhos e saí fora. Tentei acreditar que ele tivesse amadurecido", rebate o pai.
A estudante diz que acreditou que ele fosse ficar do seu lado e percebe que se enganou. E Virgílio argumenta: "Até agora tentei conciliar o que eu penso do Laerte com o que você sente por ele. Mas quando sei que seu noivo botou a vida de uma pessoa em risco, você quer o quê?". Luiza tenta defender o noivo, mas o pai continua seu discurso.
"Ele me deixou naquele buraco com terra por cima. Ele me deixou lá, supostamente morto, voltou para casa, lavou as mãos, dormiu, acordou, tomou um farto café da manhã e foi para igreja, encontrar sua mãe no altar! Enquanto isso, eu cavava para sair e poder respirar! Até hoje sinto gosto de terra na minha boca. Até hoje a sua mãe sofre o trauma de ver o pai dela enfartar na igreja, vencido também pela tragédia causada pelo Laerte!", ele afirma.
Chocada com o que está ouvindo, Luiza grita: "Para! Não quero mais escutar! Não aguento mais essa história! Ele não matou você! E também não matou meu avô! Foi uma fatalidade. Você mesmo me disse que perdoou!". "A gente perdoa para continuar vivendo. Para se libertar. Mas perdoar não significa apagar. Quem bate esquece. Mas quem apanha... Quem apanha não esquece nunca!", admite o pai.
Mais uma vez a moça defende o flautista, entretanto Virgílio demonstra que o conhece melhor que ela: "É esse o discurso dele para você, não é? Conheço bem. O Laerte é o sujeito capaz de uma atrocidade seguida de um comovente pedido de perdão! Cai de joelho diante da sua vítima, se for preciso!", em seguida ele pega a mão da filha, coloca sobre sua cicatriz no rosto e continua: "Sente aqui! Sente para você nunca mais esquecer o que vou te dizer agora! Já passei por muita coisa. Sou um sobrevivente. E talvez por isso, não tenho medo de nada nessa vida. Mas tenho um pavor, isso sim, um só: que você seja vítima desse crápula. E eu não vou deixar! Nem que eu tenha que morrer para isso!".
Luiza questiona por que ele não tirou a marca e provoca: "Quem sabe foi para mamãe olhar todos os dias e se lembrar do monstro que ele foi!". Indignado, o artesão afirma que ela não tem o direito de lhe dizer isso. "Tenho o direito de dizer tudo, já que escuto tudo também – mesmo não querendo! Você deixou essa cicatriz porque também não quer esquecer. Quer se levantar todos os dias, se olhar no espelho e dizer: Não posso esquecer!", esbraveja a universitária. Furiosa, ela então vira o próprio rosto e oferece ao pai, altiva: "Bate! Dá também a sua bofetada! Só está faltando você! Vamos, coragem!". Como uma provocação maior ainda, Luiza bate no próprio rosto, mas em vez de dar a bofetada ele recua, e vai embora.
(Por Samyta Nunes)