A 38ª edição do "Criança Esperança" foi ao ar nesta segunda-feira (07) com momentos já antológicos na história da televisão, como o encontro inédito de Xuxa, Angelica e Eliana. No entanto, para a plateia presente no evento, as lembranças não são tão boas assim. A entrada do público no espaço da gravação foi marcada por caos, tumulto e falta de organização.
O show do "Criança Esperança" aconteceu no Riocentro, espaço de convenções na capital carioca, e foi aberto ao público. Os ingressos, vendidos a R$ 30, esgotaram rapidamente. O local foi dividido em quatro diferentes setores: uma pista, com a plateia de pé, e três arquibancadas; apenas as laterais foram colocadas à venda, enquanto a central foi reservada para convidados.
Apesar da divisão, no local, o cenário foi de completa desorganização. O público ficou alojado em um galpão antes de entrar no cenário oficial do show e não havia nenhum esquema de organização prévio para a entrada da plateia. A bióloga Larissa Constant, de 25 anos, presenciou de perto a desordem. Ela foi ao evento acompanhada da mãe, de 56 anos.
"No pavilhão, não tinha mais nenhuma informação com relação às filas. Então, formou-se uma fila orgânica das pessoas que estavam com a pulseira rosa [pista], mas para as pessoas de outros setores, não tinha nenhuma indicação. A produção disse que as pessoas de pulseira rosa criaram aquela fila e que seria respeitada, mas que para os setores de arquibancada não haveria fila e eles chamariam no megafone, em um momento que ninguém sabia qual era", destaca a bióloga.
À medida em que se aproximava a hora da entrada no estúdio, prevista para 20h, pessoas se aglomeraram perto das portas, em busca de formar filas e garantir o melhor lugar para ver o show. "Tinha um espaço muito grande, onde podiam ser organizadas filas de acordo com as cores das pulseiras. Como tinha muito idoso e muita criança pequena, era muito necessário que tivesse esse tipo de organização", conta uma consultora de viagens, de 26 anos, que pediu para não ser identificada.
Uma psicóloga de 26 anos, que também pediu para não ter o nome revelado, relata que o caos no espaço já era previsível. "Quando você perguntava, as pessoas nunca sabiam dizer onde era o final. A produção dizia que não haveria fila para entrar, e que apenas chamariam as pessoas de cada setor e elas entrariam sem fila. Todos acharam que isso geraria confusão por conta da quantidade de pessoas que entrariam de forma desordenada", diz ela.
Mesmo diante do cenário, a produção do evento não se mobilizou para organizar filas de modo viável. "Eles alegaram que não havia necessidade de fazer fila", revela a mãe de Larissa.
Já passava de 20h30 e o público ainda não havia sido liberado para o local onde aconteceria o show. A essa altura, as pessoas já estavam espremidas perto das grades na expectativa de entrar no evento, enquanto parte dos presentes puxava vaias e coros de protesto.
Parecia tarde demais, mas membros da produção ainda tentaram acalmar os populares. Eles frisaram que as pessoas seriam chamadas por cores das pulseiras, mas não se preocuparam em propor qualquer organização prévia. Munidos de um megafone com som baixíssimo, eles ainda foram atrapalhados pelo DJ que tocava no local e as informações dadas por eles não chegavam aos ouvidos de toda a plateia.
Com a aglomeração, muitas pessoas começaram a passar mal e algumas precisaram ser socorridas pelo Corpo de Bombeiros. "Presenciei muitas pessoas de idade reclamando que estavam sendo machucadas. Presenciei duas senhoras passando mal, uma com crise de ansiedade e a outra incomodada porque estava muito quente", conta Larissa.
A consultora de viagens destacou a demora da produção em dar prioridade às pessoas com deficiência, que só foram isoladas e levadas para perto da porta depois de muito tempo. "Só no momento em que a confusão já estava acontecendo que houve a separação das pessoas com dificuldade de mobilidade, de pessoas dentro do espectro autista. Então, foi muito desorganizado, especialmente, para pessoas que precisavam de mais atenção", lamenta.
Faltando poucos minutos para as 21h, os portadores de pulseiras azuis foram chamados, mas muitos estavam espalhados pelo local. Na tentativa de chegar até a grade que dava acesso à entrada, algumas pessoas começaram a empurrar para conseguir passar e um tumulto se formou em meio à aglomeração.
Nesse momento, as grades foram derrubadas e as pessoas atravessaram as portas, em um verdadeiro empurra-empurra. "A entrada foi forçada pelas pessoas. Em um determinado momento, as pessoas forçaram a grade e ela caiu. Aí, sim, que nós entramos no evento, sem nenhuma organização. Entraram todos os setores ao mesmo tempo, muita gritaria, empurra-empurra. Deu medo", detalha Larissa, que, além de se proteger, precisou cuidar, também, da mãe. "No momento que as grades foram derrubadas, eu pensei que seríamos pisoteadas pela multidão", disse a mãe da jovem.
A psicóloga, que foi ao evento para conferir de perto a apresentação de Ludmilla, elogia o show, mas não nega o receio em comparecer a uma próxima edição do "Criança Esperança": "Consegui aproveitar o show depois de entrar e respirar um pouco. Porém, com tanta desorganização, não sei se me sentiria segura em retornar".
A reportagem do Purepeople entrou em contato com a equipe de comunicação da TV Globo para comentar a confusão nos bastidores do "Criança Esperança", mas não houve resposta até o fechamento da matéria.