Especial | 'Pra Sempre Paquitas': uma conversa sincera com as assistentes de palco de Xuxa + primeiras impressões do doc
Publicado em 11 de setembro de 2024 14:02
Por Matheus Queiroz | Notícias dos famosos, TV e reality show
Jornalista por vocação, apaixonado por música, colecionador de CDs e neto perdido de Rita Lee.
O Purepeople assistiu ao primeiro episódio do documentário das paquitas em um evento especial nesta terça-feira (10). Aos detalhes!
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(contém spoilers)

"Sonhos sempre vêm pra quem sonhar", mas "Tudo que tiver que ser será". A dualidade entre a emoção de conquistar algo tão almejado por meninas de toda uma geração e a necessidade de lidar com as inesperadas frustrações da realidade permeiam "Pra Sempre Paquitas", documentário que chega ao Globoplay no próximo dia 16. Em cinco episódios, 27 das 29 ex-assistentes de palco de Xuxa compartilham as dores e as delícias de crescer sob os holofotes.

A equipe do Purepeople participou do lançamento do documentário no Rio de Janeiro na noite desta terça-feira (10) e teve a chance de assistir ao primeiro episódio da produção. A criação é de duas ex-paquitas: Ana Paula Guimarães, a Catu, que também assina a direção, e Tatiana Maranhão, a Paquitita Loura, hoje, assessora de imprensa de Xuxa.

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O toque especial de quem viveu essa experiência é nítido: a história é contada ricamente ilustrada por imagens já canonizadas no imaginário brasileiro (o documentário começa com a clássica cena "Aham, Claudia, senta lá" para explicar a necessidade de ajudantes de palco para Xuxa), mas também apresenta as personagens sobre uma perspectiva inédita - especialmente, sobre um olhar que dá a elas o devido crédito pelo protagonismo que exerceram naquele delicioso caos do palco do "Xou da Xuxa". "Não existiria Xuxa sem essas meninas", a própria apresentadora reforça.

Na chegada ao cinema que sediou o evento, elas tiveram tratamento de estrela. A euforia com a chegada de cada paquita era tanta que, muitas vezes, a impressão era de que a própria Xuxa havia chegado. Ana Paula Almeida, a Pituxita Bonequinha, foi uma das mais disputadas para selfies. "Pra mim, é muito importante e gratificante. É como se fosse a validação de toda a minha história e do meu trabalho", celebra.

Se para os fãs, trata-se de um registro histórico e nostálgico, para elas, é uma oportunidade de rever a própria história com a maturidade que construíram ao longo dos anos. "A gente ficou super feliz de poder revisitar nossa história hoje com um olhar mais maduro. Toda nossa trajetória foi muito intensa, teve muita entrega. Eu fiquei de paquita dos 9 aos 17 anos. Depois de 29 anos, poder estar vivendo tudo isso novamente com outro olhar, de uma outra forma, mas sempre com muito respeito e muito orgulho da nossa trajetória, é muito maravilhoso", aponta Priscilla Couto, a Catuxita Top Model.

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DOCUMENTÁRIO DAS PAQUITAS EXPÕE SITUAÇÕES DE ABUSO EMOCIONAL E DEBATE SOBRE QUESTÕES RACIAIS

"O que me impedia de matar a Marlene era o código penal": o público reagiu com risadas à declaração de uma das entrevistadas na sala de cinema. A fala, no entanto, é ponto de partida para as discussões sobre os abusos psicológicos que as paquitas suportaram para dar sequência ao sonho; muitos deles, atribuídos a Marlene Mattos.

O resumo inicial da produção, inclusive, confirma a história que a ex-diretora de Xuxa tentou negar: em um dos depoimentos, Bianca Rinaldi revela que teve que tirar a roupa para que seu corpo fosse avaliado. As paquitas, vale lembrar, eram meninas com idades entre 9 e 17 anos. Perseguição e ameaças por conta do peso também são expostas; algumas delas desenvolveram transtornos alimentares. As jovens também eram constantemente lembradas por Marlene de que eram "substituíveis".

"Ninguém tem que passar por nada que não seja bacana. As pessoas costumam falar: 'nos anos 80, 90, tudo era permitido'. Gente, o que é errado vai ser sempre errado. Eu acho que, hoje, a gente tem mais consciência, tem mais abertura de se falar sobre isso", reflete Priscilla.

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O documentário também aborda o necessário debate sobre questões raciais em torno das paquitas: elas tinham que ser brancas e loiras, mais uma decisão atribuída à Marlene. Independente de quem seja a culpa, isso ajudou a minar a autoestima de toda uma geração de meninas pretas, privadas até da possibilidade de sonhar chegar ao posto, como pontua outra entrevistada.

"Pra Sempre Paquitas" parece não se eximir dessa responsabilidade, algo que o documentário de Xuxa fez de forma um tanto quanto limitada. Foram 12 anos até que uma jovem negra, Adriana Soares, se juntasse ao time, mas sem receber o título de paquita. O sucesso que ela faz até hoje reforça a importância da representatividade que ela exerceu - tristemente escassa, porém, revolucionária para a época.

Apesar de não ter sido oficialmente paquita, Adriana Bombom pegou o título para si. "Eu sempre me achei uma paquita. O fato de não ter colocado chapéu e colete não me faz nem mais nem menos paquita. O importante pra mim naquele momento era estar perto da Xuxa, estar vivenciando aquele sonho", diz com carinho.

Bombom, no entanto, afasta a possibilidade de ter sido poupada por não ser paquita. "Não tem nada a ver, a pressão era pra todas. Até porque a gente era muito jovem, a responsabilidade era muito grande em cima da gente. A Marlene, realmente, puxava nossa orelha. Certa ela, porque a responsabilidade era muito grande", pondera.

Outra discussão que o documentário promete reforçar é em relação ao trabalho exaustivo que crianças popstars são submetidas, conversa que ficou muito em alta com o caso Larissa Manoela no ano passado. A rotina de gravações e shows fez muitas paquitas repetirem de ano na escola. Uma delas, inclusive, ganhou um ultimato dos pais e seria retirada do programa se reprovasse outra vez - algo contado por Xuxa no ar com aquele tom non-sense bem característico dos anos 1980.

"A gente entrou nessa esfera com uma fala muito forte. A gente era muito criança, imagina eu com 9 anos de idade, na troca dos dentes ainda! [O documentário] vem muito pra contribuir e ratificar que a gente precisa, sim, respeitar as pessoas, todo espaço de trabalho tem que ser sadio, tem que ser saudável. A gente tem que proteger, sim, nossas crianças. Em determinado momento, a gente ainda não tinha o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que apareceu em 1990. Acho que, hoje, a gente tem, sim, que tocar nesses assuntos, alertar", reflete Priscilla, hoje advogada.

Apesar das muitas controvérsias, há paquitas que destacam que as lembranças boas são muito maiores que as ruins. Bárbara Borges, a Paquita Bubu, é uma delas. "A vida é uma grande escola, não existem só momentos bons. Eu gosto muito da frase: 'Eu nunca perco. Ou eu ganho ou eu aprendo'. Tudo depende da maneira como cada pessoa lida com os desafios da vida. Foram nos desafios que eu sempre aprendi. Então, sobre ter sido paquita, eu tenho muito mais coisas maravilhosas pra contar sobre essa época. Mesmo as coisas desafiadoras, me fizeram crescer", pontua.

Acima de tudo, "Pra Sempre Paquitas" é um documentário sobre realização de sonhos. "Eu morando no orfanato, eu assistia ao programa dela e, um dia, eu estava do outro lado da tela, curtindo a mesma coisa", conta Bombom.

Um sonho, aliás, almejado intensamente por toda uma geração, de uma maneira que as mais recentes, que não têm o mesmo apego - e muito menos a mesma utopia - com a televisão, não vão experimentar. "Elas [as crianças atuais] vão ter um outro olhar, um olhar de uma era que não tinha telefone, um olhar de tudo que é possível quando se sonha e, também, tem que ter dosagem. Não dá pra ser tudo aos extremos", diz Ana Paula.

O grande triunfo de "Pra Sempre Paquitas" é conseguir concatenar e apresentar de maneira digna as histórias das meninas, que, entre os impactos bons e ruins, se tornaram mulheres mais fortes após a experiência. "Eu sou uma dessas 29 vozes que viveu o sonho realizado de ter sido paquita. Eu sei que todas nós vivemos a mesma alegria de ter sido paquita, mas pra cada uma, foi de uma maneira diferente. Nós somos muitas em um mesmo nome: paquitas", comenta Bárbara.

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