No ar desde 20 de maio de 2013, "Amor à Vida" chega ao fim nesta sexta-feira (31), depois de 221 capítulos. Estreando com um novelão no horário nobre da Globo, Walcyr Carrasco fecha sua trama em meio a uma grande expectativa do público que torce para o beijo gay do casal Niko (Thiago Fragoso) e Félix (Mateus Solano). Em entrevista ao Purepeople, o autor faz um balanço da obra e afirma que o folhetim "transcendeu essa questão porque discutiu a homofobia". Confira a entrevista completa.
Purepeople: Que avaliação você faz da experiência que foi sua primeira novela das nove? Correspondeu às suas expectativas?
Walcyr Carrasco: Eu me entreguei inteiramente ao trabalho, com paixão, e isso é o mais importante. Um trabalho só é importante para mim quando é uma viagem emocional, como foi o caso. Não me ligo muito nessa história de horário não, o que gosto é de escrever.
Você estabeleceu uma via de comunicação com o público através do Twitter. Isso já acontecia com as suas outras novelas? As críticas dos telespectadores te incomodaram?
Eu era menos ativo no Twitter antes. Adorei falar com os telespectadores, principalmente quando foi o caso de desmentir notícias falsas. Mas na minha próxima crônica da revista "Época" eu falo também sobre a internet selvagem, onde as pessoas se escondem atrás de fakes para atacar, destruir. Há inclusive empresas que contratam pessoas justamente para criar uma imagem negativa do concorrente na internet, através de fakes.
Algumas mudanças na trama aconteceram - assim como em toda obra aberta, é claro -, alguma delas você preferia não ter feito, ou tomado um caminho diferente?
Nunca penso nisso, vou criando e me apaixonando ou não pelos rumos da história.
Houve quem criticasse a campanha pela leitura que você lançou na trama através dos livros que vários personagens leem e comentam. Como você vê isso?
É como eu disse, há pessoas que entram na internet decididas a destruir, a falar mal. Algumas deram a impressão de estarem mal informadas por falarem em "merchindising". Os livros que eu indiquei não foram merchandising, a Globo aceita que o autor faça um trabalho social e cultural. Eu escolhi os livros que achava importante indicar.
"Amor à Vida" causou algumas polêmicas, várias relacionadas a cabelo, como você mesmo comentou pelo Twitter uma vez. A proporção que elas tomaram chegou a te surpreender ou incomodar?
Ah, sim, mas essas foram muito menos importantes que as polêmicas que realmente tinham significado, como em relação à homofobia.
Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou durante esses oito meses escrevendo?
Houve um momento difícil em que tive que fazer cinco extrações e cinco implantes dentários ao mesmo tempo. senti muita dor durante um mês e meio, e tinha que continuar escrevendo, então passei momentos realmente difíceis. Tomava tanto remédio contra a dor que às vezes dormia no teclado do computador, acordava e voltava a escrever.
É recorrente nas redes sociais comentários de pessoas que acreditam que o texto da Valdirene (Tatá Werneck) é improvisado. Esse improviso acontece realmente ou foi só mesmo no "BBB"?
Desde o começo a Valdirene teve uma liberdade especial, inclusive porque contracenava com pessoas que não eram atores, como o Neymar. Então ela tinha que estar pronta para se virar em qualquer situação. Mas isso não costuma ocorrer com meus personagens.
Essa especulação toda em torno do primeiro beijo gay da teledramaturgia brasileira já vem acontecendo há alguns anos. Por que você acha que não aconteceu até hoje? A possível rejeição do público pesa na hora de decidir escrever uma cena dessas?
Eu acho que "Amor à Vida" transcendeu a questão do beijo gay porque discutiu fortemente a homofobia.
(Por Samyta Nunes)