Sophie Charlotte, no ar em "Os Dias Eram Assim" na pele de Alice, que sofre com o agressivo marido Vitor (Daniel de Oliveira), se assusta quando o assunto é violência contra a mulher. Em conversa com o Purepeople, a atriz - declaradamente feminista, principalmente após a maternidade - se mostra consternada por ver que, mesmo após 33 anos (a série está sendo ambientada em 1984), muitas mulheres ainda são violentadas dentro de casa por seus parceiros.
Sem preocupação em se posicionar politicamente, Sophie Charlotte afirma usar seu trabalho com o fim social de alertar mulheres sobre as agressões diárias que sofrem e ressalta as diferenças da realidade da personagem com os direitos já adquiridos em 2017. "Na série tem muitas questões que envolvem o feminismo que estamos abrangendo. Mas não conseguimos abranger todas as questões femininas. Eu, como atriz, tento fazer um alerta, uma denúncia", diz. "Nem sempre isso é possível, pois a série se passa na década de 80, mas as questões são as mesmas. E temos que mostrar que naquela época não tinha a Lei Maria da Penha, o divórcio era muito complicado."
A analogia da vida da Alice de 1984 e das mulheres da atualidade, mesmo após grande passagem de tempo, é o que mais deixa a artista de 28 anos espantada. Apesar dos avanços burocráticos, como a criação de medidas que asseguram a classe feminina, na prática, ela continua sendo submetida a cenários semelhantes ao de sua personagem, que foi dopada, estuprada e quase morta pelo cônjuge. "Hoje, quando eu paro para pensar, me choca ver que tem muitas mulheres vivendo agora, em 2017, situações parecidas com a da Alice. Vivendo casamentos opressores, violência doméstica, violência psicológica", declara. Ela ainda destaca a diferença do destino de uma personagem da ficção - que luta para viver ao lado do homem que realmente ama - para o de uma mulher comum, da vida real: "Fico muito passada e triste de pensar que isso não é só uma história na TV. Lá, vai ter um final feliz. Aqui, em grande parte das vezes, termina em feminicídio. A realidade é muito pesada."
(Com apuração de Carmen Lúcia e texto de Carol Borges)