Nos anos 90, o ritmo da lambada invadiu o Brasil com bastante força. E em meio a tantos grupos que se aventuraram a propagar a dança sensual originada no Pará, o grupo "Banana Split" se destacava - e destoava - usando roupas inspiradas em grifes famosas e entoando o refrão do tipo chiclete 'Lele-ô, lele-a. Vem dançar comigo, menino, vem lambadear'.
Na verdade, o diferencial do projeto começou na sua sua formação: Andréia Reis, Adriana Colin e Rosane Muniz se conheceram nos bastidores de concursos de miss. Lindas e loiras, literalmente, a miss Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, queriam ser mais do que rostinhos bonitos.
Com aptidões artísticas distintas, elas se tornaram inseparáveis e decidiram unir forças para se destacar. Juntas criaram um grupo e cavaram oportunidades. Todas, então, foram contratadas para trabalhar no elenco de apoio do programa "Veja o Gordo", comandado por Jô Soares no SBT. Lá conheceram a carioca Mel Nunes, que completou o quarteto.
"Viramos amigas irmãs. Moramos juntas, nos ajudávamos em tudo, nos tornamos inseparáveis", relembra Andréia, que sonha contar a história do grupo em um livro.
Sucesso meteórico
Incentivada por Jô, as amigas criaram um espetáculo chamado "Certas Mulheres", no qual interpretavam, cantavam e dançavam como mulheres que marcaram décadas (Rita Hayworth, Madonna, Marilyn Monroe). Após algumas viagens pelo país, elas sentiram a necessidade de contratar um profissional para administrar a carreira do grupo. Por serem contratadas do SBT, foram indicadas para o apresentador e empresário Gugu Liberato, que se encantou com o trabalho delas e firmou um contrato por meio de sua empresa, a Promoart, em 1989.
Confirmado o sucesso do grupo, elas, então, escolheram o nome e sonhavam fazer um show performático com direiro a banda e figurino inspirado em criações de grandes estilistas como Moschino e Yves Saint Laurent. Gugu, no entanto, queria lançar algo mais popular.
"Queríamos ser meio como as 'Frenéticas', levar cultura ao público e fazer algo chique. Mas ele só queria que a gente usasse sainha e rodasse no palco. Batemos muito de frente!", afirma Rosane.
O começo do fim
Em 1990, o grupo gravou o primeiro - e único - LP da carreira e alcançou sucesso imediato. Elas chegaram a fazer uma turnê pelo Brasil e Europa. No mesmo ano, porém, Rosane sofreu um grave acidente de ultraleve e ficou afastada do grupo por cinco meses.
"Fiquei em coma durante um mês e o trabalho com o grupo me deu forças para voltar. Acordei já querendo fazer show! Risos. Mas operei a perna várias vezes. Tenho pinos, inclusive. Fiz terapia para me recuperar. Mas encaro o acidente como uma benção na minha vida. Eu renasci", conta Rosane.
No mesmo ano, Andréia - que presenciou e ficou bastante abalada com o acidente da amiga - se casou com um empresário e o seu lugar foi ocupado pela hoje apresentadora Eliana. Mas ela permaneceu poucos meses no grupo, pois logo foi convidada por Silvio Santos para apresentar um programa infantil.
"Participamos do 'Qual é a Música' e o Sílvio ficou encantado por ela. Pensávamos: Vai pintar algum convite pra ela. Mas Eliana não nos contava nada porque no começo se sentia meio excluída do grupo. Ela era ótima! Decorou as músicas e as coreografias rapidamente, se dedicou, mas realmente não deu tempopara se tornar íntima da gente", conta Rosane.
O grupo continuou realizando shows pelo Brasil e no exterior, mas Andréia engravidou e preferiu se afastar do grupo. Com a volta de Rosane, o "Banana Split" firmou-se com três integrantes. "Mas faltava um pedaço. Éramos fortes juntas e nunca mais fomos as mesmas", relembra Mel.
Outros caminhos
Em 1993, Adriana, Rosane e Mel decidiram seguir carreiras individuais, de volta aos palcos e estudos teatrais e jornalísticos. E para se livrar do contrato que tinham com a Promoart, elas venderam o nome do grupo para Gugu Liberato. As três ainda tentaram formar um outro grupo, "Valquírias", mas o projeto não deu certo.
"Foi um sonho lindo. Aprendemos muito, passamos momentos maravilhos juntas e nos tornamos amigas para sempre. Recentemente subimos ao palco para cantar no casamento da minha sobrinha. Ainda temos química juntas, mas a carreira artística ficou para trás. Hoje nossa relação é só de pura cumplicidade, amizade e união", diz Adriana Colin.
Confira o que fazem atualmente as ex-integrantes do Banana Split:
Andréia Ribeiro Reis
Foi a primeira a sair do grupo aos 23 anos. Ela, então, se casou com o empresário Fran Azevedo (que foi um contratante do show do Banana e hoje administra uma fazenda em Goiás), teve uma filha, Sayonara, e foi morar em São Carlos, no interior de São Paulo.
Andreia cantou alguns anos em uma banda que faz eventos, o 5ª Avenida e, quando a Rede Mulher inaugurou em Araraquara foi trabalhar apresentando o "Jornal da Mulher". Durante os 5 anos da emissora, ela trabalhou como âncora de vários programas, com destaque para um programa cultural, o "Em Cartaz", transmitido para todo Brasil. Durante este período ela entrevistou muitos artistas como Chico Anísio, Paulo Autran e Marisa Monte.
Ela, então se formou em jornalismo e durante três anos apresentou o "Talk Show Iguatemi - SESC". Atualmente, Andreia se dedica a fotografia, edição de imagens e organiza um arquivo de fitas e fotos do "Banana Split".
"Participar do grupo foi uma experiência na vida e na arte. Além dos lindos momentos com o público ficou a amizade entre nós quatro. Foram anos de um convívio muito intenso", relembra.
Mel Nunes
A única morena do grupo sempre quis ser atriz. Com o final do projeto, ela tentou a carreira fazendo muito teatro e participações em novelas.
"Mas apesar de me dedicar e fazer participações bem legais como na novela 'Caras e Bocas', nunca consegui um contrato na TV", conta Mel, que entre um trabalho e outro casou e engravidou e de Theo, 11 anos.
"Quando tive o meu filho tive um pouco de síndrome de pânico e tudo se tornou meio penoso. O trabalho não vingava e eu pensei: por que não mudar a minha história?", relembra.
Foi então que durante um desfile da grife Blue Man, ela foi convidada para ser gerente da grife. Mel se apaixonou pela carreira administrativa e não parou mais. Hoje, ela é gerente do badalado salão C.Kamura, no Rio de Janeiro.
"Me demiti da vida artística e sou feliz! Hoje, lido com duas coisas que amo: administração e beleza. Dei uma 'panicada' de aparecer. Hoje prefiro ficar escondidinha, na minha... Estou realizada", conta Mel, que se separou e hoje namora o músico João marco André.
Rosane Muniz
Considerada a 'mais inteligente' do grupo, Rosane sempre foi uma mente inquieta. Já na época do "Banana Spilt" era a mais questionadora do trabalho que faziam.
"Dei graças a Deus quando o grupo acabou! Eu estudava na faculdade da Cidade (no Rio de Janeiro), fazia parte da turma de esquerda, tinha abraçado a Lagoa em Prol do Gabeira... Me perguntava o que estava fazendo ali cantando no programa do Gugu?", diverte-se.
Depois que sofreu o acidente, Rosane ficou em coma mais de um mês e acordou ainda mais indagadora. Em um primeiro momento, inclusive, chegou a ficar bastante agressiva.
"Eu confundia a realidade com os momentos em que estava desacordada. Então, batia na minha fratura exposta da perna para provocar dor e, consequentemente, um desmaio. Eu acreditava que assim voltaria para para a minha vida real, que na verdade era o meu estado de inconsciência", recorda Rosane, que tem vários pinos de platina na perna em consequência das diversas cirurgias sofridas.
Ao sair do grupo, ela casou com o escritor do "Programa do Jô", Wilton Marques, com quem tem uma filha, Ana Clara, fez doutorado em Artes, trabalhou como figurinista e enveredou para o caminho acadêmico. Hoje faz parte da Oistat (Ong Internacional de técnicos e Cenógrafos de Teatro) e viaja pelo mundo divulgando o trabalho dos figurinistas.
Adriana Colin
É a única ex-integrante do grupo que ainda se mantém na vida artística. Ela foi a única, aliás, que queria o fim do "Banana Split".
"Eu fui contra o término, fiquei chateada. Era um projeto muito puro, ingênuo mesmo... Sempre achei que precisávamos de alguém como o Gugu, de quem sou amiga até hoje, para dar um gás no grupo. Tanto que tivemos muito sucesso, atingimos um público enorme... O grupo foi um divisor de águas na minha vida", relembra.
Em 1993, ela voltou à televisão apresentando o programa esportivo "A Grande Jogada", na extinta Rede Manchete, onde ficou até o fim de 1995. Em 1998, apresentou o programa "Fantasia" e, no ano seguinte teve uma breve passagem pela TV Gazeta onde apresentou o Gazeta Esportiva.
No ano 2000, já formada em Jornalismo e em Educação Física, ela foi para TV Record, onde ficou por dois anos apresentando programas esportivos. Em 2002, tornou-se apresentadora comercial do "Domingão do Faustão", da Rede Globo.
Atualmente, Colin apresenta eventos coorporativos pelo Brasil e estuda proposta para voltar apresentar um programa esportivo na TV à cabo.
"As meninas dizem que sou uma obstinada", brinca Adriana Colin, que optou não casar ou ter filhos para cuidar dos pais, que morreram no ano passado. "Mas a minha mãe engravidou de mim com 45 anos, idade que estou agora. Ainda tenho o sonho de ser mãe", diz a apresentadora.
(Por Renata Mendonça)