Na reta final da novela "Terra e Paixão", o casal Ramiro (Amaury Lorenzo) e Kelvin (Diego Martins) ganhou ainda mais torcida nas redes sociais após protagonizar um beijo, exibido nos capítulos da semana passada. Acontece que o jagunço vai ver seu namoro chegar ao fim por decisão do garçom após orquestrar o sequestro de Aline (Bárbara Reis).
A psicanalista Fabiana Guntovitch analisa os traços baseados nos estereótipos que Ramiro apresenta em sua personalidade. "O estereótipo do capanga é fundamentado na antiga certeza social de que os machos alfa, ou melhor, os machões, não tem sentimentos e não choram. São fortes, indestrutíveis, bravos, impiedosos e, se eu for ainda mais longe, não somente se relacionam com mulheres, mas, possivelmente, com mais de uma", afirma
"O que não percebemos quando falamos de estereótipos é que misturamos questões que, hoje, na psicologia, entendemos como possibilidades separadas, e não mais engessadas dentro de uma única caixinha", acrescenta a profissional a respeito de Ramiro, que chega a se entregar ao amor que sente por Kelvin.
Ainda segundo Fabiana, nessa estrutura Kelvin exerce um importante papel para com Ramiro, descrito no começo da trama das nove como "rude", "xucro" e "bronco". "Precisamos separar duas vertentes de ser humano que, no senso comum, acabam se misturando. Uma fala sobre a identidade, ou seja, quem a pessoa é, e a outra fala sobre o objeto de desejo desta pessoa", avalia a psicanalista.
"No caso da história de Walcyr Carrasco, temos o Kelvin desempenhando este papel para o Ramiro", prossegue, indicando uma importante diferença a ser observada em Ramiro, um dos vilões da novela das nove que deve exibir o último capítulo dia 19 de janeiro de 2024 em uma reta final marcada por mortes e perseguição para dar lugar ao remake de "Renascer".
"Precisamos parar de confundir identidade, que significa quem somos ou como nos vemos, com sexualidade, que significa o nosso objeto de desejo", pede, acrescentando outra importância do garçom na vida do capanga: foi graças a Kelvin que Ramiro começou a se aceitar.
"Ser humano é ser livre para ser e se expressar da maneira como fizer sentido para si mesmo e não para a sociedade em que ela se insere. Abrir a cabeça nos dias de hoje talvez signifique parar de tentar caber em caixinhas pré-determinadas e encontrar a liberdade de ser quem se é, de desejar quem quer que seja, livre dos estereótipos e das angústias que eles nos trazem", conclui.