Depois de Paulinha Abelha, vocalista da Calcinha Preta, o mundo do forró eletrônico vive mais um luto. Rita de Cássia, a principal compositora feminina do gênero, morreu na noite desta terça-feira (03). A artista de 50 anos faleceu em decorrência de uma fibrose pulmonar, uma doença de causas ainda desconhecidas e caracterizada por cicatrizes ou pelo endurecimento do pulmão.
Rita lutava contra a doença há três anos e estava internada desde o dia 1º em um hospital particular de Fortaleza. Em sua última publicação nas redes sociais, a artista aparece para desejar feliz ano novo aos fãs com a voz nitidamente debilitada.
O corpo de Rita de Cássia será levado para Alto Santo, cidade natal da arista localizada a cerca de 200 km de Fortaleza. O sepultamento ocorrerá às 17h no cemitério público da cidade. A artista deixa dois filhos.
Rita nasceu no dia 8 de agosto de 1972. A carreira começou ainda na juventude por influência do irmão. Instrumentista, ele montou uma banda chamada Som do Norte e convidou a irmã para cantar. Ela precisou driblar a desaprovação do pai, que não queria que ela abandonasse os estudos.
Nessa época, Rita já mostrava perfeita habilidade para compor e colocava algumas de suas letras no repertório da Som do Norte. No entanto, tinha vergonha de admitir a autoria e dizia que eram canções que aprendia no rádio. A "farsa" durou até o dia em que a música "Brilho da Lua" começou a fazer sucesso pelo Ceará.
A faixa foi gravada em 1992 pela cantora Eliane, conhecida pelo título de "A Rainha do Forró". "Brilho da Lua" se tornou um grande sucesso no Nordeste, levando a forrozeira a vender centenas de milhares de cópias do álbum que trazia a música.
O sucesso de "Brilha da Lua" chamou a atenção do empresário da banda que fundou o movimento conhecido como forró eletrônico. Emanoel Gurgel, dono do Mastruz Com Leite, procurou Rita e começou aí uma das parcerias mais bem sucedidas do gênero.
Rita é a compositora dos dois principais hits do Mastruz Com Leite, "Meu Vaqueiro, Meu Peão" e "Saga de Um Vaqueiro"; enquanto a primeira foi a responsável por levar a banda ao cenário nacional, a segunda até inspirou um filme homônimo. A quantidade de sucessos que ela emplacou na banda preencheriam uma matéria inteira: "Onde Canta o Sabiá", "Tatuagem", "Barreiras" e "Minha Verdade" são algumas das faixas que completam a lista.
Além do Mastruz, Rita escreveu faixas de sucesso para Cavalo de Pau, Mel com Terra, Catuaba com Amendoim, Brasas do Forró e Aviões do Forró. O dueto "Já Tomei Porres Por Você", interpretado pela ex-dupla Solange Almeida e Xand Avião, levou a compositora a ser apresentada para uma nova geração e estender ainda mais seu legado.
As principais inspirações para as composições de Rita eram o amor e o sertão. E assim foi até o fim. "Hoje em dia, com essa invasão da internet, nós vemos uns temas mais imediatos que surgem de uma gíria e dura, no máximo, uns três meses. O que a gente sempre fala para eles é que tomem cuidado. Pra não pensar só no dinheiro do momento. Daqui alguns anos, como é que vão viver? 'Meu vaqueiro, meu peão' me sustenta há 24 anos. E, quando a gente compõe, tem que pensar nas novas gerações que estão vindo. Qual o legado que você quer deixar?", disse a artista, em entrevista ao projeto Vós.
Foram três anos de uma dura batalha contra a fibrose pulmonar. Em entrevista do Diário do Nordeste, o irmão da forrozeira, o sanfoneiro Redondo, revelou que ela utilizava respirador desde 2019 e recebia atendimento médico em casa para fazer exercícios para conseguir respirar mais confortavelmente.
Ainda de acordo com o irmão, Rita conseguiu um doador de pulmão, mas não conseguiu fazer o transplante por conta da pandemia. "Ela perdeu 50% de um pulmão no começo. Disseram que se passasse para o segundo pulmão ela iria para uma UTI", disse o músico, à publicação.
Sem conseguir realizar o transplante, a doença se agravou e os médicos chegaram a pedir que ela não falasse mais para evitar o cansaço. "A luta foi grande nesses últimos três anos. Ela não queria que divulgasse para ninguém sofrer. A gente respeitava a opinião dela", disse Redondo, ao Diário do Nordeste.