Isabela Capeto não quer saber de dramas. Se no dia 27 de março a estilista teve o ateliê, em Botafogo, Zona Sul do Rio, devastado por um incêndio, durante o Veste Rio era difícil perceber que parte do seu acervo e das criações da nova coleção - coincidentemente chamada de "Terra de Fogo" - haviam sido destruídas. Orgulhosa por exibir peças icônicas que marcaram sua trajetória na moda, a designer carioca celebrou 15 de carreira com a exposição "Tempo Algum" durante o evento que teve a estreia do ator Jonathan Azevedo como modelo nas passarelas. Convidada para fazer um tour pelas roupas, Capeto destacou a escolha dos materiais e o processo de criação: "Essas são as peças do acervo que conseguiram ser salvas (do incêndio)." O fogo destruiu mais de 600 moldes de roupas, máquinas e materiais.
Misturando cores, estampas e estilos, a exposição não se prendeu a uma só coleção: "O Felipe Veloso (curador) fez essa historia de colocar uma peça em cima da outra e eu adorei!" Limitadas, os modelos contam com um toque pessoal da estilista, que estimula o uso de roupas excêntricas ao apostar em detalhes que passam a ideia de desconstrução. Acostumada a incluir miçangas, ela questiona a reclamação dos clientes quando uma se desprende. "O legal é cair! Se não cai, é porque a pessoa nunca foi agarrada e nunca dançou. Quanto mais miçanga caída, mais a pessoa viveu!", justifica com bom humor. Ela acrescenta ainda que as flores amarelas usadas em um vestido de tule foram compradas na rua da Alfândega, conhecida como Saara, um mercado popular a céu aberto no centro do Rio.
Ao relembrar a criação de cada peça, que contou com o desfile de marcas que apostam em unir moda e saúde, a homenageada mostrou as particularidades de suas criações, dando atenção aos objetos inesperados usados durante a elaboração. A jaqueta que contém um pedaço do sofá; o canutilho que foi bordado em pé, ao invés de deitado como, normalmente, é visto; e a utilização de escama de peixe aproveitada de um trabalho com sapato em eco design mostram a inovação proposta pela estilista. Apostando no neon para a coleção inspirada no Japão, a designer declara: "Eu gosto muito de roupas para dançar!" Isabela criou um vestido de ano novo pensando nos hábitos comuns da data festiva. "A pessoa foi para o mar e se enrolou na areia, essa é a ideia do vestido. As miçangas representam a areia e a estampa, as coisas do fundo do mar." Em outra narrativa, ela explica que a gata sonhava em chegar até as estrelas e precisava subir na rosa para alcançá-las, mas a flor ficava com ciúmes. "Parecia que eu tinha tomado um ácido", diverte-se Isabela. Sobre as peças que sobreviveram ao incêndio, elas serão lançadas nesta quarta-feira (18), na loja da estilista, no Leblon. Com o mesmo humor com que fala sobre suas obras de arte, ela convida o público para comparecer à tarde de lançamento. "Saindo do forno as peças defumadas Selk'nam", avisa ela, fazendo referência à etnia das tribos indígenas que povoavam a Ilha Grande da Terra do Fogo e que também dão nome à nova coleção.
(Por Fernanda Casagrande)