O povo se manifesta nas ruas do Brasil e também nas ruas de Bole-Bole. Qualquer semelhança é apenasmente mera coincidência. Se é que pode-se dizer que existem coincidências em "Saramandaia". O remake da antológica trama de Dias Gomes estreia num momento em que os brasileiros clamam por mudança, assim como os jovens saramandistas na ficção. Só que no realismo fantástico, a coisa toda é bem mais divertida.
A primeira comédia do horário das onze já começou muito bem e parece que só tende a melhorar. Desde a trilha, passando pelo texto, direção de arte e fotografia, até a abertura da novela, tudo é poético e bem executado. Sem falar no elenco , que tem a vantagem de contar com veteranos como Fernanda Montenegro e Tarcísio Meira - que dispensam qualquer comentário -, e novas apostas que trazem o frescor da renovação sem perder na qualidade do trabalho, como é o caso dos estreantes Sergio Guizé e Fernando Belo.
Desde a primeira cena, ao som de "Pavão Mysteriozo" - canção que ficou marcada como tema do folhetim -, a história se desenrola de um jeito gostoso de ver. A maneira peculiar que os personagens falam, as cores da manifestação, as esquizitices de cada um, tudo foi sendo apresentado sem pressa, ainda que o capítulo seja mais curto do que o das outras novelas.
Denise Saraceni e Fabrício Mamberti acertaram bastante na direção e com isso o público pode desfrutar de cenas primorosas como a da chegada de Vitória (Lilia Cabral) em casa, em que aconteceu o casamento perfeito da trilha com a composição visual da sequência e a belíssima interpretação de Lilia. O resultado foi emocionante. Detalhes como o Santo Dias, que é uma homenagem a Dias Gomes, e a referência de Risoleta (Débora Bloch) a "Porto dos Milagres" cidade onde se passava a trama homônima também escrita por Ricardo Linhares (autor desta nova versão) foram as cerejas do bolo. Já dá pra ter uma ideia de que muito mais preciosidades desse tipo virão por aí.
É uma pena que "Saramandaia" vá ter apenas 56 capítulos, porque a primeira impressão deixada não poderia ter sido melhor. Os créditos finais subiram deixando a sensação de quero mais no público, que já se anima nas redes sociais, manifestando opiniões positivas sobre o que viu. Pelo jeito, o sucesso da primeira versão tem tudo para se repetir.
(Por Samyta Nunes)