Em pleno século XXI, quando depilar os pelos é um hábito corriqueiro inclusive para muitos homens, o elenco da novela "Liberdade, Liberdade" vão ter que abrir mão desse e outros "luxos contemporãneos". É que há 200 anos, época em que a trama é ambientada, a realidade da vida cotidiana era bastante precária no Brasil. E para retratar isso com realismo, a equipe de caracterização está tendo que sujar os atores antes das gravações. A caracterizadora Lucila Robirosa conta que além disso, o elenco precisa deixar a depilação de lado: "Em quem fez laser, a gente está botando uma peruquinha". E por causa das cenas quentes, até a virilha deve ser preservada.
Apesar dos registros do período em que o folhetim se passa, de 1792 a 1808, serem raros, a equipe de "Liberdade, Liberdade", principalmente as de caracterização, cenografia e figurino, está mergulhada em pesquisas. Tudo para conferir à obra a maior veravidade possível. Além da construção da cidade cenográfica que reproduz uma Vila Rica histórica e das roupas pesadas usadas na época, efeitos especiais são usados para deixar todo o elenco com o aspecto de quem viveu num tempo em a pele das pessoas revelava as marcas da jornada de cada um.
Naturalizar e não maquiar
Em vez de maquiar o elenco, a ideia é naturalizar o máximo e dar uma unidade estética com a sujeira nos dentes, próteses, glicerina para dar a impressão de suor, base solúvel em álcool que faz manchas, e até cicatrizes que são aplicadas com uma rapidez impressionantem com um sistema de carimbo. Essa busca pelo visual naturalista pede que os atores quanto a figuração tirem química e tintura dos cabelos, deixe de tirar cutícula e pintar as unhas, e também abandone a depilação.
"A gente está pedindo para todo mundo deixar os pelos crescerem, para deixarem de fazer depilação não só na sobrancelha, como nos pelos de debaixo do braço e na virilha", conta a caracterizadora, que completa: "Em quem fez laser, a gente está botando uma peruquinha (risos)". Ela ainda comenta que esse aspecto sujo é geral. "A Joaquina suja o dentes, os nobres, todos eles. "Quem fez clareamento suja os dentes todo dia. Só os negros, que eram escolhidos pelos dentes brancos, que não precisam".
A sujeira também está presente na cenografia
Vinícius Coimbra, diretor artístico de "Liberdade, Liberdade", reitera a fala de Lucila: "O objetivo final é que seja cru, que seja real, sujo. Que as pessoas acreditem, né? Um nível de realismo um pouquinho maior". Ele comenta também o trabalho em conjunto com o cenógrafo Paulo Renato e a figurinista Paula Carneiro. "Na cidade cenográfica, a gente também inventou uma Vila Rica de antigamente. Com nuances de tons ocre, branco sujo, madeira escura. E o figurino também tem essa tendência, de não usar cores muito vibrantes."
O diretor revela que a inspiração veio de textos e registros da vida privada no Brasil, naquela época. "Havia pouquíssimos móveis, as pessoas comiam com a mão. Só quem era muito, muito rico tinha seis colheres em casa. Ninguém em casa tinha talher, só os patriarcas tinham uma faca, as mulheres comiam sempre com a mão. Ontem gravamos uma cena assim, eu adorei", comenta. Vinícius também adiantou que a nova novela das onze também vai ter "um pouco mais de sexo" que as dos horários anteriores.
Com estreia prevista para 12 de abril, a trama conta a história ficcional de uma personagem real: Joaquina, a filha de Tiradentes. Protagonizada por Andreia Horta, a trama também conta com Bruno Ferrari - de volta à TV Globo - e Caio Blat, que vai viver um gay reprimido. Hanna Romanazzi interpreta uma falsa virgem que leiloa a virgindade.
(Por Samyta Nunes)