Walcyr Carrasco publicou um artigo na revista "Época" contando como foi a composição do personagem de Mateus Solano, o Félix Khoury, em "Amor à Vida". No texto, o autor chama o personagem de filho e comenta que o comportamento perverso do administrador é facilmente compreensível.
"Félix é uma pessoa tortuosa, reprimida desde a infância. Ele desmunheca, fala maldades, é invejoso. O personagem já contou que sofria bullying na escola – e quantos meninos mais frágeis não sofrem? Elegeu o dinheiro e o poder na melhor alternativa para suprir o amor. É o fruto de um pai repressor e de uma família que finge não perceber quem ele é. Bem... e o resto do mundo? Aparências enganam. Já conheci casais em que o marido parece gay. Um deles tinha sete filhos. E também homens sem o mínimo de afetação, assumidamente gays . Aparências enganam. Como Félix, porém, existem muitos homens casados que escondem sua condição sexual da família", explicou sobre a saída do armário do personagem.
O autor ainda discorre sobre o processo exclusão, que muitas vezes move as maldades do personagem, e o paradoxo que é a aceitação dele pelo público. "Sempre reclamo que hoje se explica tudo pela psicologia. Não basta dizer que Félix é fruto de um mundo repressivo. Outros também são e não atiram bebês em caçambas. Félix cai em seus próprios precipícios, movido pela inveja da irmã, mais amada pelo pai, e pelo sentimento de rejeição. E também pelo desejo de poder. Ele é sim capaz da maldade extrema. Mas paradoxalmente faz rir. É amado pelo público, que reconhece nele a dor de uma sociedade. Admiro a interpretação de Mateus Solano, com seu sarcasmo", pontua.
Carrasco ainda faz questão de afirmar que não é porque é gay, que o personagem toma algum partido social. "Não é uma bandeira a favor ou contra os gays. Não há uma regra para definir quem é melhor ou pior, como exigem tantos grupos religiosos. Embora eu sempre insista: a mensagem cristã máxima é de aceitação. Todo Félix tem uma saída: ser amado. Ele é meu filho. Como todo pai, torço por ele", conclui.