A saga da última Helena de Manoel Carlos começou no capítulo desta segunda-feira (3), o primeiro de "Em Família", com a delicadeza e intensidade características do estilo do autor. Quem acompanha as tramas de Maneco já sabe o que esperar, mas nem assim deixou de se surpreender com a apresentação dessa nova história, que em seu início já mostra a força de uma protagonista provocadora e instigante. Sinal de que vem muita polêmica por aí na nova novela das nove da Globo.
Com um ritmo completamente diferente do folhetim que a precedeu, "Em Família" estreia no paradoxo da suavidade e da força. E pela primeira vez começamos a acompanhar de fato a vida da heroína ainda bebê, quando é possível entender melhor o ambiente onde ela nasce e cresce, o que aproxima o telespectador dessa família que vai se emaranhar de conflitos a partir daí e mais 20, 30 anos para frente. Perto da agilidade da trama de Walcyr Carrasco, pode parecer lento, mas os detalhes fazem completamente a diferença.
O elenco da primeira fase, dos mais jovens, segurou bem o primeiro capítulo e aí podemos ver claramente a qualidade do trabalho de Jayme Monjardim na direção de núcleo e de Leonardo Nogueira na direção geral. Cenas lindas e encantadoras, desde aqueles momentos leves como uma conversa com a irmã por telefone até juras de amor trocadas num pacto de sangue ou num casamento budista. O que mais funciona é o naturalismo das interpretações e o frescor que os novos atores trazem, como por exemplo a pequena Giovanna Rispoli, que deu os primeiros passos da vilã Shirley, vivida por Alice Wegmann na segunda fase e Viviane Pasmanter na terceira. Ela já deixou claro ao que a personagem veio, mostrando como uma criança muitas vezes pode ser cruel, longe de ser um anjinho.
A crônica da vida real sempre foi o grande diferencial das novelas do Maneco e tem o poder de arrebatar as pessoas. Coisas simples como um marido que se levanta da cama nu na frente da cunhada, pode dar um susto em quem vê, mas acontece fora da ficção mais do que se pode imaginar. Essa cena do Ramiro (Oscar Magrini), tão doméstica, e a de Helena (Bruna Marquezine) deixando a toalha cair na frente do marido da tia, foram momentos brilhantes que apontam para um desenrolar pouco convencional e um tanto despudorado da história.
Julia Dalavia, a primeira Helena, preparou bem o terreno, mas o ponto alto da protagonista aconteceu quando Bruna assumiu o papel e a jovem entrou na sala de casa, com toda a família reunida, e contou displicentemente que havia ficado nua na frente de Fernando (Antonio Sabóia). Como se não bastasse, se sentou mostrando as pernas, assim, como quem não quer nada... Uma pitada da presença de Anita. E quando o capítulo acabou, foi quase inevitável não ansiar pelo próximo.
(Por Samyta Nunes)