Quem não viveu ao vivo a polêmica "Quem matou Odete Roitman?", vai ter mais uma chance de acompanhar a inesquecível trama de Gilberto Braga que mobilizou o país em 1988. Se a Globo volta a exibir uma novela marcante como "Belíssima" no "Vale a Pena Ver de Novo", o canal Viva, em comemoração aos 30 anos da novela "Vale Tudo", reprisa a trama a partir desta segunda-feira (18). Para relembrar o clima, Purepeople conversou com o ator Paulo Reis, que na época recebeu da APCA o prêmio de "Ator Revelação" pelo personagem Olavo, o cafajeste de bom coração e melhor amigo do César (Carlos Alberto Riccelli). "Eu já tinha feito televisão, mas 'Vale Tudo' foi uma novela diferente, porque tudo ali era superlativo e inesperado. Até hoje sou muito grato ao Gilberto Braga por ter dado impulso ao meu personagem e por ter dado essa grande chance a mim. Depois dessa novela e do prêmio, trabalhei 10 anos quase que ininterruptamente", lembra o ator.
Atualmente, Paulo Reis grava a minissérie "Mais leve que o Ar", sobre o aviador Santos Dumont, do canal HBO; acaba de fazer uma participação especial no programa infantil "Detetives do Prédio Azul (DPA)", do canal Gloob, que irá ao ar em outubro; e aguarda a estreia de três filmes, ainda para 2018. Com uma bagagem extensa, ele relembra histórias de bastidores da época de "Vale Tudo" e só lamenta que o tema central, sobre a questão de "valer tudo" para se dar bem na vida, ainda esteja tão atual. "Na época, sentíamos a força da narrativa, mas não acredito que alguém pudesse prever que a novela atravessaria três décadas mantendo intacta a sua pertinência na nossa sociedade. É muito bom ver a importância de um trabalho antigo, mas ao mesmo tempo é muito triste constatar que nosso país mudou tão pouco depois de tanto tempo. Dá uma sensação de total atualidade daquela trama, impregnada de ganância e corrupção."
Paulo recorda o clima de empolgação e de orgulho do elenco por conta do sucesso: "Precisávamos ser escoltados por seguranças para ir embora das externas, por conta das multidões que se juntavam em torno". E destaca uma curiosidade de bastidor. "Teve uma época em que o camarim masculino se tornou uma espécie de cassino: entre uma cena e outra, jogávamos sete e meio em pé, com dinheiro vivo, ao redor de uma mesa (risos)!" Ao comentar o mistério que mexeu com o país de "quem matou Odete Roitman?", o ator cita algumas curiosidades. "No último dia de gravação, uma sexta-feira, quando ia ao ar o último capítulo, o estúdio estava totalmente cercado por fãs e repórteres, e o elenco munido de roteiros falsos para despistar todo mundo, inclusive a nós mesmos. Foi uma verdadeira comoção nacional, com bolões por todo lugar, apostando naqueles personagens inesquecíveis", conta, citando César (Carlos Alberto Riccelli), Maria de Fátima (Glória Pires), Raquel (Regina Duarte), Ivan (Antonio Fagundes), Heleninha (Renata Sorrah), Leila (Cássia Kis Magro), Afonso (Cássio Gabus Mendes), Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e Aldeíde (Lília Cabral).
"Muita gente jovem me parava na rua para falar sobre a novela, que também fará muito sucesso desta vez. Aposto!", opina Paulo, que pretende acompanhar mais uma vez a exibição. "Estou ansioso! Gosto bastante. É como se visse outro homem, muito mais bem-apessoado do que eu agora, mas também muito menos seguro e tranquilo." Ele credita o sucesso do folhetim à qualidade do texto de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, e acrescenta: "Outro fator é a profunda compreensão do valor da história para aquele momento nacional que os diretores demonstravam ter." No ar na reprise de "Os Dez Mandamentos", da Record, ele também comenta a importância da obra produzida pela Record com ares de superprodução. "Esse é um trabalho que pode ser considerado um verdadeiro divisor de águas na teledramaturgia brasileira, porque pela primeira vez os índices de audiência da novela das nove e do 'Jornal Nacional', da TV Globo, foram superados por uma emissora concorrente."
Animado com a reprise da novela, Aguinaldo Silva, um dos responsáveis pelo sucesso da trama, escreveu um texto em seu site pessoal para comemorar: "Vale Tudo foi o que foi: uma novela. E a novela, meus caros, mais que qualquer outra coisa nesse ramo a que chamamos de 'arte', é o retrato mais fiel dos usos e costumes da realidade brasileira. Me apontem um livro (um só), ou um filme, ou uma peça de teatro que, nos últimos trinta anos, tenha conseguido retratar o drama brasileiro com mais fidelidade e força do que esta novela". E continuou: "Eu sempre digo que, daqui a cem anos, quando alguém quiser saber como era o Brasil da segunda metade do século XX, não vai perder tempo lendo livros de sociologia ou antropologia ou filosofia, não: vai beber direto na fonte... E a fonte são as telenovelas. Além de divertir pra caramba, Vale Tudo, escrita em 1988, aponta os trinta dedos dos seus três autores diretamente para o Brasil de agora. A canalhice já estava lá, ainda dentro do ovo da qual sairia toda essa vasta família de serpentes de serpentes com que agora somos obrigados a conviver. Sim, 'Vale Tudo', como tantas outras novelas, será eterna. E eu sinto o maior orgulho de tê-la escrita junto com Gilberto e Leonor, que, naqueles meses de 1988 em que passamos juntos por tantas (des)aventuras, foram meus irmãos queridos... E, mesmo que Leonor não esteja mais entre nós, continuam sendo até agora", escreveu o autor.