Regina Duarte está animada para interpretar Madame Lucerne na novela "Tempo de Amar", obra de Alcides Nogueira com direção de Jayme Monjardim que estreia dia 26 de setembro. A atriz que exibe looks excêntricos em eventos dará vida à dona do cabaré Maison Dorée, para onde leva meninas como a ousada Felícia (Amanda de Godoi) para trabalhar como prostitutas. Em entrevista ao Purepeople, a artista descreve a cafetina: "Ela tem um lado de mãezona, de líder e disciplinadora. Comanda um estabelecimento. Apesar do lado sofrido pelas escolhas que fez, ela também tem humor. Se diverte no que faz e isso transparece na relação com as meninas da casa".
Segundo Regina Duarte, Madame Lucerne quebrará tabus com seu pensamento livre no cenário carioca dos anos 20. Suas atitudes e escolhas, no entanto, causam consequências pessoais na cafetina, que fica sempre entre a felicidade e a tristeza de ser ela mesma. "É uma mulher à frente do tempo dela. Tem alguns pudores com relação às opções que a vida a levou a tomar. Seguiu caminhos que não são aceitos com muita tranquilidade. Por isso, ela tem algumas dores e sofrimentos. Se as opções que ela fez já são difíceis hoje, quando existe liberdade de comportamento imensa, imagina naquela época. Ela é bastante complexa e bem sofrida", conta Regina.
Na trama protagonizada pelos estreantes Vitória Strada e Bruno Cabrerizo como o casal Maria Vitória e Inácio, o papel de Regina Duarte será a responsável por dirigir o cabaré, caracterizado pela atriz como o local em que as pessoas deixam o estresse do dia a dia de lado e abrem portas ao lado artístico. "Ela é a dona da casa da alegria. É a casa do divertimento e de arte, porque tem muita música, literatura, poemas, dança, teatro. Acontecem muitas performances lá, além do amor, que rola bem ali em todos os níveis. É uma casa que tem estímulos de arte popular e onde as pessoas vão para espairecer, para brincar, sonhar, se livrar um pouco das preocupações da dura realidade", afirma. Interpretar uma mulher com tal responsabilidade é um fato inédito na carreira da atriz: "O horário das seis não permite que mergulhe muito nesse universo que a gente nem chama de bordel e, sim, de cabaré. Estou muito entusiasmada de ser proprietária de um lugar assim em uma novela. Acho que nunca fiz nada igual".
Passados 90 anos da realidade enfrentada por Madame Lucerne, Regina Duarte fala sobre a situação em que se encontram as mulheres na atualidade. "Acho que a mulher, hoje, já descobriu que ela precisa ser independente financeiramente. Senão, ela é escrava do marido, do pai, do irmão ou de quem ela depender. Enquanto você depende de alguém, você tem que jogar o jogo. Mas, mesmo superada essa questão, os problemas de preconceito e racismo continuam. Isso também precisa ser superado", declara a artista que já foi vítima de assédio moral em briga de trânsito.
Sempre sincera e ativa sobre seu posicionamento político, ela diz não se importar em falar do assunto e, justamente, acha essencial que o tema seja abordado: "Eu sou de uma geração que aprendeu a viver assim, sabendo que se não participar politicamente na história do seu país, vai ser passado para trás, enganado, ludibriado. Se acham que a política é feia e suja, é porque a gente deixou ficar assim. Se a gente estivesse de olho, talvez não estivesse vivendo o momento duro de agora. É uma lição difícil que estamos passando, mas que é preciso aprender."
(Por Carol Borges)