Como arte e natureza de conectam? A artista Christina Oiticica traz a resposta de modo único em sua nova exposição inédita, "Fauna e Flora", no Art Gallery no Palácio Biester, em Sintra, Portugal. O projeto é uma parceria dela com o estadunidense Blake Jamieson. "Conheço Portugal quase todo. Já fui muitas vezes ao país. E há muito tempo que queria ter uma exposição para o público português", afirma Christina Oiticica, casada com o escritor Paulo Coelho.
A artista, aliás, visitou o país pela primeira vez na companhia do marido. "Foi para o lançamento de um livro do Paulo e ficamos hospedados num hotel de Sintra. É uma cidade que gosto muito. Lembro que adorei o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros... e também os doces portugueses. Amo todos", revela.
Quem for à galeria vai ver o resultado de um processo de intervenção da natureza por nove meses. Foi o tempo que os quadros feitos em parceria por Christina e Blake ficaram enterrados em Monthey, em Suíça, onde a brasileira vive. A técnica é chamada de Land Art, foi criada nos anos 1960 e tem Christina como um de seus expoentes.
"A nossa proposta foi deixar por nove meses porque é o período de uma gestação. E depois disso, vimos a semente crescer sobre a nossa obra", detalha. O projeto estará disponível para visitação na galeria de 16 de julho a 17 de agosto.
Christina deu início à essa parceria artística com a natureza por acaso e já viajou para diferentes destinos por conta da arte. Ela já enterrou os seus quadros na Amazônia, no Japão, na Índia, no Rio de Janeiro, numa aldeia indígena na Bahia e chegou a ter mais de mais de 100 obras sob a terra no Caminho de Santiago de Compostela.
"A técnica começou em 2003, na França. Estávamos morando num hotel, eu tinha uma exposição em Paris e precisava trabalhar. Era complicado trabalhar no quarto porque sujava tudo, ficava com cheiro de tinta. E eu recebi uma tela de 10 metros e decidi pintar na floresta. Deixei o quadro por lá para secar e caía uma folha, depois um inseto. Eu ficava estressada, achando que ia estragar o quadro. Mas comecei a ver que a natureza estava interferindo na tela e resolvi aceitar. Pensei: 'Vou usar isso e começar a trabalhar em parceria com a natureza'. Essa tela de 10 metros, que era um rolo, eu fui desenrolando a cada estação ao longo de um ano e criei a obra que chamei de "Quatro estações". Eu ia pintando e enterrando. A partir daí, fui explorando outros espaços para manter essa parceria com a natureza", conta.
A dupla com Blake Jamieson, por sua vez, também se deu de forma inusitada: pelo Twitter. O artista estadunidense é fã de Paulo Coelho e entrou em contato com Christina. Depois de conversarem, surgiu uma conexão e a vontade de trabalharem juntos. Foi a brasileira que sugeriu o tema "Fauna e Flora". Christina ficou com a Fauna e Blake, com a Flora.
"Serão 11 telas na exposição, sendo nove que foram desenterradas e uma delas, transformada num quadro tríptico. O Blake me mandou as telas, eu incluí as borboletas e enterramos em Monthey (Suíça). Fizemos uma performance, com a participação de umas 50 pessoas, que vieram ajudar a colocar os quadros na natureza. Eram amigos nossos que trabalham com arte. Depois, todos voltaram para desenterrar as obras. Foi emocionante", lembra Christina, que depois trabalhou na preparação das obras que serão vistas pela primeira vez em Portugal.