Madonna realizou um show histórico no Rio de Janeiro no último dia 4 e acumulou uma série de polêmicas em terras tupiniquins por conta das performances ousadas e transgressoras. Outro país onde ela deixou um rastro de controvérsia foi na Itália, por conta da conturbada relação com a Igreja Católica.
O auge da briga da artista com a instituição aconteceu em 1990, quando Madonna rodava o mundo com a histórica "Blond Ambition Tour". No palco, a popstar simulava masturbação e exorcismo e cantava em um altar de uma igreja, causando, mais uma vez, revolta entre a comunidade católica.
Em julho daquele ano, a cantora desembarcou em Roma para uma apresentação e a confirmação da chegada da artista gerou muito burburinho. Uma série de protestos teve início com grupos e associações privadas de católicos.
Pouco tempo depois, o Papa João Paulo II convocou um boicote dos católicos ao show, que chamou de "circo do diabo" e "um dos shows mais satânicos da história da humanidade".
A resposta de Madonna veio já nos primeiros instantes em Roma. Ainda no aeroporto e diante de uma multidão de jornalistas, a cantora leu uma carta ao Vaticano. Considerado um dos grandes momentos da cultura pop das últimas décadas, o momento está eternizado no icônico filme "Na Cama com Madonna".
Descendente de italiano, Madonna iniciou o discurso com uma celebração às raízes. "Orgulho de ser americana porque é o país onde cresci, o país que me deu as oportunidades de ser quem sou hoje e um país que acredita na liberdade de expressão e na expressão artística", disse ela.
Madonna pediu o fim da tentativa de boicote à sua apresentação. "Se você tem certeza de que sou uma pecadora, então quem não pecou atire a primeira pedra. Se você não tem certeza, então eu imploro a você, como homens e mulheres justos da Igreja Católica que adoram um Deus que ama incondicionalmente, que vejam meu show e então me julguem", solicitou.
A cantora explicou o conceito provocador que a acompanharia durante toda a carreira e comparou seus espetáculos a uma peça de teatro. "E tal como o teatro, faz perguntas, provoca pensamentos e leva-o numa viagem emocional, retratando o bem e o mal, a luz e as trevas, a alegria e a tristeza, a redenção e a salvação. Não endosso um modo de vida, mas descrevo um, e o público é deixado a tomar as suas próprias decisões e julgamentos. Isto é o que considero liberdade de expressão, liberdade de expressão e liberdade de pensamento", refletiu.
Por fim, Madonna expôs de forma direta como interpretava a tentativa de boicote. "Para me impedir de fazer o meu espetáculo, vocês, a Igreja Católica, estão dizendo que não acreditam nessas liberdades. Se você não acredita nessas liberdades você está aprisionando a mente de todos. Quando uma mente está aprisionada, nossa luz espiritual morre. Quando o espírito morre não há razão para viver", disparou.
Madonna se apresentou no Estádio Flamínio em 10 de julho de 1990 com ingressos esgotados, para um público de 30 mil pessoas. A apresentação agendada para o dia seguinte, no entanto, foi cancelada por conta da onda de protestos.