Você já ouviu falar em Flexitarianismo? Se não, a nutricionista Patricia Davidson te ajuda a entender melhor. Em entrevista ao Purepeople, ela explica sobre esse tipo de dieta - fusão entre as palavras vegetariano e flexível, que não é tão radical nas restrições do cardápio: "É uma alimentação predominantemente vegetariana, porém mais flexível, onde o consumo de peixes e carnes ocorre de maneira eventual, conforme a vontade própria." Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), afirma que ainda existe certo preconceito com os adeptos dessa tendência nutricional: "Criticam por achar que essas pessoas, com conhecimento, deveriam assumir a postura e não consumir nada."
Sem ter uma quantidade de proteína estipulada, o flexitarianismo é baseado numa alimentação equilibrada. "De maneira geral, as pessoas flexitarianas consomem uma dieta vegetariana em até 80% do tempo, mas precisam ser orientadas por um nutricionista porque o aporte de proteínas e vitamina B12, por exemplo, precisa ser suprido de maneira individualizada, através de alimentos específicos", explica Patrícia. Dietas que restringem produtos de origem animal como o Fast Mimicking estão em alta, assim como as que aderem o jejum intermitente. Ela afirma que uma alimentação sem exageros e equilibrada pode ser a melhor opção, como neste caso: "Maior consumo de vegetais e frutas, o consumo consciente de carnes e peixes, reduzindo de forma importante o impacto ambiental e, ainda, por ser uma dieta mais flexível, há uma melhor socialização pela ausência de alimentos proibidos."
A preocupação com o processo de produção e os impactos que a natureza sofre são algumas das justificativas para a procura por uma alimentação mais natural, acredita a nutricionista: "O consumo de vegetais vem crescendo, principalmente devido à maior consciência ambiental da população. Hoje em dia, a informação está mais facilmente disponível, o que faz com que muitas pessoas tenham mais informações sobre a produtividade dos alimentos e criação dos animais." Apesar das críticas por parte de alguns, Laurino acrescenta que muitos vegetarianos aprovam essa tendência: "Acham interessante porque é um grupo de pessoas que, normalmente, se alimentaria de forma corriqueira do modo tradicional e que assumem uma postura de começar a reduzir. O flexitariano acaba impulsionando o mercado de produtos de origem vegetal e é uma constatação de que o movimento está crescendo."
Quando ingerida em grandes quantidades, mesmo contendo nutrientes essenciais, a proteína animal pode ser prejudicial ao organismo. "A porção é individualizada e varia de acordo com as necessidades de cada um, pois, em excesso, favorece o maior acúmulo de toxinas, gordura corporal e disfunções orgânicas como cansaço constante, dores articulares, osteoporose, gota e cálculos renais", afirma Patricia. Apesar disso, a carne é fonte de muitos benefícios difíceis de serem substituídos. "São fontes de aminoácidos essenciais ao funcionamento adequado do nosso organismo. Além disso, são ótimas fontes de B12, vitamina responsável pela divisão e renovação das células sanguíneas, proteção e regeneração das células nervosas e ainda, no processo de destoxificação do organismo".
É possível manter uma alimentação com os benefícios da carne em outros alimentos e, inclusive, com muitas vantagens. "De modo geral, as leguminosas, como grão de bico, lentilhas e feijões possuem um bom teor de proteínas, mas a substituição precisa ser assistida ", reforça a nutricionista. "A alimentação predominantemente vegetariana melhora o metabolismo e, além disso, a dieta rica em frutas, grãos, legumes e fibras, melhora o funcionamento do intestino, diminui o risco de doenças cardiovasculares e câncer." Patricia alerta sobre o risco de deficiência de alguns nutrientes essenciais no caso da restrição da proteína animal sem uma substituição: "O zinco é um mineral essencial para diversas funções biológicas no nosso organismo, como na imunidade, fertilidade de homens e mulheres, funcionamento adequado da tireoide e processo de detoxificação."
Os impactos ambientais gerados pela pecuária e por outros produtos provenientes dos animais estão se mostrando cada vez mais graves a cada pesquisa realizada. "Não existe nada que tenha o impacto mais benéfico para o meio ambiente do que deixar de comer carne e produtos de origem animal", atesta Ricardo Laurino. A extinção de espécies, o consumo desenfreado de água e grãos, e as condições de criação desses animais são algumas das preocupações que documentários, estudos, reportagens e sociedades como a SVB tentam mostrar. "O consumo de água da pecuária é o maior em relação a qualquer outro setor e estima-se que um pouco mais da metade da água gasta no mundo vai pro setor pecuário. De 70 a 80% da produção de grãos como soja e milho são usados para ração animal. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), dois terços dos biomas em risco estão diretamente pressionados pela pecuária e produção de produtos de origem animal. Além disso, 70% das doenças modernas se desenvolvem nesses ambientes de produção de produtos de origem animal."
(Por Fernanda Casagrande)