A história do bem e do mal chegou ao fim com o "juízo final" de Romero Rômulo (Alexandre Nero), no último capítulo da novela "A Regra do Jogo" , exibido nesta sexta-feira (11). Se por um lado a morte do protagonista já havia sido anunciada, a revelação de Kiki (Deborah Evelyn) como a assassina de Gibson (José de Abreu) de certa forma surpreendeu, já que Nora (Renata Sorrah) era a maior aposta, por terem vazado informações sobre as gravações das cenas secretas. Com várias referências ao primeiro capítulo, chamado "A Outra Face", o desfecho deixou partido o coração de quem torcia por um final feliz do casal "Romena".
A primeira cena deste último capítulo foi uma síntese da saga do protagonista, que esteve na eterna dúvida entre ser bom ou ser mau. Matar ou morrer, mocinho ou vilão, ali era uma situação limite em que Romero não podia mais ficar no meio do caminho, como fez tantas vezes. Cauã Reymond, Tony Ramos, Giovanna Antonelli e, claro, Alexandre Nero, entraram num jogo cênico forte que resultou numa das melhores cenas da novela inteira. A escolha pelo bem tendo como consequência a morte redimiu o anti-herói com ares de vilão, confirmando a previsão do ator, que disse: "A única redenção possível para o Romero é a morte, pois quando morre, todo mundo vira santo".
Essa escolha de João Emanuel Carneiro é, no mínimo, curiosa. Sacrificar o final feliz do casal que arrebatou o público para redimir Romero com a morte é um ato corajoso. Isso sem falar na coincidência relacionada ao desfecho do comendador José Alfredo, de "Império", que além de ter o mesmo intérprete, também forjou a própria morte e também foi assassinado no final. De toda forma, o ex-vereador conhecido como "herói do povo" se despediu em grande estilo, com direito à sua trilha de Elvis Presley e até dancinha fúnebre, uma licença poética - pois apesar de pouco verossímil, ficou bonito. A despedida comovente de Atena - Giovanna sempre mostrando seu talento em cenas impecáveis - também é um resumo da obra, quando ela diz: "meu bandido, meu herói".
'O sol há de brilhar mais uma vez'
A escolha de Kiki como assassina do Pai, independentemente se foi a primeira opção ou se mudaram por causa do vazamento, de toda forma foi a mais acertada. Ela era a filha que mais sofreu nas mãos de Gibson, o jurou de morte pouco antes do crime e gritou seu ódio no velório. E tanto a direção quanto a dramaturgia jogaram bem com essa revelação, fazendo Zé Maria (Tony Ramos) se acusar, depois Nora, e por fim a verdadeira culpada confessar, provocando a dúvida no público quase o tempo todo.
"A Regra do Jogo" carregava o peso de repetir o sucesso de "Avenida Brasil" e não o fez. Mas talvez seja injusto crucificar a trama por isso. Desde a escolha por nomear os capítulos, o autor experimentou uma forma mais "episódica" de fazer novela, junto com a diretora Amora Mautner que experimentava também pela primeira vez a sua caixa cênica. Para parte do público aconteceu um estranhamento, até porque em muitos momentos o folhetim se paroximava mais do que poderia ser uma série policial, com muitas cenas de ação, violência e tiroteio.
Nesse último capítulo, algumas situações remeteram diretamente ao primeiro, como quando Juliano espera Tóia sair da prisão e também o show de Merlô (Juliano Cazarré), no Morro da Macaca, um recuso interessante e que propõe uma reflexão. Por fim, a ficou a mensagem dada pela mocinha: 'Eu prefiro acreditar no ser humano, em pessoas melhores'. Atena, por outro lado, continou aplicando seus golpes, na parceria com Ascânio (Tonico Pereira), no melhor estilo "pau que nasce torno, nunca se endireita". Só que dela, veio o filho. Um novo começo, um novo Romero. Prova de que o sol sempre há de brilhar mais uma vez.
(Por Samyta Nunes)