"Quando morre, todo mundo vira santo". Para Alexandre Nero, essa é a única redenção possível para Romero Rômulo na novela "A Regra do Jogo". Com a proximidade da reta final da trama das nove, o intérprete do protagonista falou ao Purepeople sobre o os desafios do personagem e suas expectativas para o desfecho. "É um cara que será eternamente infeliz", afirma. No folhetim, o protagonista se prepara para dar o golpe do baú na mocinha, Tóia (Vanessa Giácomo); e é amante da vilã, Atena (Giovanna Antonelli).
Em meio a um ritmo frenético de gravação, Nero faz uma pausa nos bastidores e uma análise de Romero. "De longe é um dos personagens mais difíceis que interpretei na minha vida. Ele passa rasteira no público e em mim o tempo inteiro, nos engana. Quando eu penso que ele não vai fazer mais alguma coisa, ele vai lá e faz. Talvez esse seja um dos personagens mais humanos da teledramaturgia. Porque o Romero é a maior contradição que pode existir, e o ser humano é isso: ele te ama de dia e de noite está te odiando. O tempo inteiro são milhões de pessoas numa só, ele se contradiz, e acredita nas mentiras que ele mesmo conta", diz.
Dividido entre Toia e Atena, entre o bem e o mal, o protagonista da história vive numa contradição. "É um cara que será eternamente infeliz. Porque nada para ele é o bastante, ele acha que quer dinheiro, mas quando consegue, se sente culpado porque sabe que tem muita gente passando fome. Só que daí ele ajuda quem está passando fome, e pensa 'ah, mas eu quero ter dinheiro, quero viajar, tomar vinho francês!'".
'A única forma de alguém virar um herói é morrendo'
Sobre um possível final para o personagem, o ator revela que só vê a morte como maneira de Romero se redimir: "Não é uma torcida, é só o que eu acho. O João (Emanuel Carneiro) falou que teria uma rendenção desse cara. Eu acho que a única maneira de um ser humano de verdade, real, ter uma redenção é morrendo. Porque quando morre, todo mundo vira santo".
Nero rejeita comparações com o Comendador José Alfredo, protagonista que morreu no fim da novela "Império", e completa: "A única forma de alguém virar um herói é morrendo. Enquanto estiver vivo, todo mundo tem um rabo preso, um lugar frágil para atacar, para ser atacado... E o Romero não é diferente, ele tem defeitos e qualidades, como todo mundo".
Para ele, a humanidade do protagonista funciona como uma espécie de espelho invisível do telespectador: "A novela fala tanto das pessoas que o próprio público não se enxerga nele. O Romero se engana que ele é bom, e o público também. As pessoas acham que elas são boas, mas não são. Elas têm muita coisinha ali embaixo... E acham que são melhores que os outros. O problema são os outros e o Romero também acha".
(Por Samyta Nunes)